Falta de oxigênio e leitos em hospitais, fila em cemitérios: a covid-19 em Manaus e a falta da vacina

Em abril e maio de 2020 o país ficava aterrorizado com as covas coletivas para os mortos por coronavírus na capital amazonense. Contudo, janeiro já é o mês com o maior número de novas internações por covid-19 em unidades de saúde de Manaus. “O número de novos pacientes internados na capital em apenas 12 dias já superou o total do mês de abril de 2020, que tinha o maior registro desde o início da pandemia do novo coronavírus”, afirma matéria do G1.

Nesta quinta-feira (15), o governador Wilson Lima decretou toque de recolher das 19h às 6h para tentar tentar conter a alta propagação do vírus. A exceção será para atividades essenciais das áreas de saúde, segurança e para a imprensa. O funcionamento de farmácias será limitado a modalidade delivery.

De acordo com o governo do Amazonas, as internações por covid-19 chegaram a 2.221, de 1º a 12 de janeiro, em Manaus, superando os 2.128 pacientes internados com o vírus em abril.

Até a terça (12), o número de casos confirmados no Amazonas passava de 218 mil, com mais de 5,8 mil mortes.

Apesar de ampliação de mais de 130% de leitos hospitalares, em comparação com o período em abril, os hospitais estão lotados. Nesta quinta-feira (14), chegou a acabar o oxigênio. Os doentes começaram a ser transferidos para Brasília, além dos estados Piauí, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte.

O secretário municipal de Limpeza Urbana de Manaus, Sabá Reis, anunciou que a Prefeitura deverá voltar a instalar câmaras frigoríficas no cemitério Nossa Senhora Aparecida, onde é realizada a maior parte dos enterros da região, e também covas verticais. Isto porque a prefeitura optou por não abrir covas coletivas, mas há corpos que não podem ser enterrados imediatamente, devido ao alto números de enterros, que chegam a formar filas de carros funerários na entrada do cemitério.

No domingo (10) foi registrado recorde no número de enterros diários. Foram 144 corpos, terceiro dia consecutivo de patamares superiores a 100. A média diária de velórios subiu quase 90% nos quinze dias entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro. Somente no sábado (8), 235 pessoas foram hospitalizadas, maior patamar já alcançado.

Aposentada da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Olívia Costa acredita que o índice alto de covid-19 em Manaus se deve a dois fatores. “Aqui essa questão da pandemia tem a ver com a teimosia do povo que não quer obedecer as normas dos procedimentos de saúde, ficam na rua, juntam em família em casa sem máscara. Além disso, essa época do ano é muito chuvosa, está chovendo muito no Amazonas, nós já temos um histórico dessa época da influenza, do HN1 e outras síndromes gripais, o coronavírus agravou ainda mais a situação”, disse.

Olívia comenta que sente a proximidade da doença ao ver a própria família infectada. Um filho e nora estão com coronavírus, fazendo o tratamento em casa. “Parece que agora está chegando na família, meu sobrinho pegou na casa da minha irmã e do marido. Dá muito medo, até porque agora descobriram essa mutação do vírus no Amazonas. Tem pessoas com muito medo mesmo”, enfatiza sobre a gravidade.

Em Manaus, a doença vem se alastrando nas diversas classes sociais neste mês de janeiro. Tudo indica que os fatores são múltiplos. A má gestão, população que não atendeu aos apelos de isolamento e uso de máscara e também a possibilidade da mutação do vírus em infectar com mais velocidade e ser mais letal.

“Enquanto essa tragédia acontece, o Brasil não está entre os 51 países que já liberaram a vacina para o coronavírus. Estamos a mercê desse governo genocida que age deliberadamente para combater políticas contras a pandemia. O País precisa urgente da vacina. Por isso é cada vez mais urgente botar pra fora Bolsonaro e Mourão”, disse a dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Rita Souza.

Via cspconluta.org.br

Foto: Sandro Pereira/Fotoarena/Agência O Globo