Falece Valter Pires, primeiro presidente da Adusb

Nesta sexta-feira (25), a Bahia perde Valter Pires Pereira, um grande lutador social. Ingressou na UESB como professor no início da década de 1980. Ciente da importância da organização da classe trabalhadora, participou ativamente da criação da Adusb e foi eleito seu primeiro presidente.

“Foi na Adusb que ele se encontrou com toda comunidade acadêmica e deu vazão as suas expectativas libertárias. Sempre atento, construiu um jeito particular de combinar os desafios da vida acadêmica, em construção na UESB, com a luta sindical coorporativa e, com seu jeito ímpar, conquistou o respeito de todas e todos na Instituição”, lembra com carinho, Newton Camargo, professor do Departamento de História da UESB.

Vilma Coutinho, secretária da Adusb há 35 anos, trabalhou com Valter e conta que “ele era uma pessoa calma e tranquila. Tratava todos bem e sempre me tratou com muito carinho. Entrei na Adusb sem saber nada sobre sindicato e aprendi muito com ele. Valter era uma pessoa iluminada e que vai deixar muita saudade”.

Nesta época, Valter enfrentou os ataques do governador Waldir Pires e contribuiu com uma das grandes mobilizações do movimento docente baiano da década de 1980, a greve conhecida como “Marajá é a mãe”, cujo nome surgiu a partir de uma provocação do governador, ao chamar os docentes universitários de marajás.

“Quando era presidente da Adusb, Valter era um personagem à parte, nas ‘feiras de cacareco’ que fazíamos em praça pública, para arrecadar fundos para a greve. Espirituoso e divertido, mexia com as pessoas comuns e atraía a atenção de todos que circulavam pela praça, sempre com muitas brincadeiras, associadas a um discurso político engajado e vibrante, graças à sua oratória invejável”, lembra Paulo Cairo, professor do Departamento de Fitotecnia e Zootecnia da UESB.

Sua militância não se resumia ao movimento docente, Valter também foi fundador do Partido dos Trabalhadores em Vitória da Conquista. Em 1988, chegou a participar das eleições, concorrendo a prefeito.

Alguns anos depois, em 1992, se mudou da Bahia e passou a compor o quadro docente da Universidade Federal do Espírito Santo, onde continuou sua trajetória acadêmica com contribuições importantes na área de história. Concluiu o doutorado em História Econômica (USP) em 1999.

Valter dedicou sua vida à luta. Durante seu tempo no Espírito Santo continuou a militar no Partido dos Trabalhadores, foi candidato à deputado e participou da direção da Associação dos Decentes da UFES.  

Depois da aposentadoria, retornou à Bahia e à UESB como professor colaborador em 2019. Quando também voltou a participar de mobilizações com a Adusb, como a Greve Nacional da Educação e Contra a Reforma da Previdência em agosto do mesmo ano. O ato público do dia 19 de junho pelo Fora Bolsonaro, em Vitória da Conquista, foi a sua última participação em mobilizações. O professor se emocionou e se ajoelhou na Praça 9 de Novembro.

Valter Pires durante a manifestação do 19J em Vitória da Conquista

Ana Angélica Barbosa, diretora financeira regional da Adusb, militou com Valter na UESB na década de 1980 e ressaltou que ele era “uma pessoa que lutou bastante no movimento docente, participando de todas as assembleias, vivenciando várias greves por melhores condições de trabalho, que era nossa tônica na época, pois estávamos chegando, não tínhamos muitas coisas e ele participou dessas lutas todas. Nesse momento, a gente se despede de Valter fisicamente, mas o importante de tudo é que ninguém morre, se existirem lembranças, então penso que Valter ficará em nossas lembranças, na memória do movimento docente, especialmente na memória da Adusb”.