A pedido de Bolsonaro, ministro da Educação prioriza amigos de pastores evangélicos na liberação de verbas

Um novo escândalo de corrupção ronda Jair Bolsonaro. Em conversas obtidas pelo jornal Folha de São Paulo, divulgadas na noite da segunda-feira (21), o Ministro da Educação, Milton Ribeiro afirma que, a pedido do presidente, prioriza o envio de dinheiro às Prefeituras que negociaram com dois pastores. Ambos não possuem cargos no governo.

Funcionando como parte de um gabinete secreto, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm atuado como lobistas, negociando a liberação de recursos para obras de creches, escolas, quadras e equipamentos, segundo a Folha. Próximos à família Bolsonaro, eles têm trânsito livre no Planalto, desde 2019.

“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro na conversa. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, explica em outro trecho.

Gilmar é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. Já Arilton Moura é assessor de Assuntos Políticos da entidade. Segundo o Estadão eles estiveram em 22 reuniões oficiais oficiais no MEC nos últimos 15 meses, sendo 19 delas com a presença do ministro.

Os recursos repassados aos religiosos são provenientes do FNDE (Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação) que atualmente está nas mãos de políticos do chamado “centrão”.

Na gravação divulgada pela Folha, o ministro deixa claro que para liberar a verba deve haver uma contrapartida: “então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”.

Caminho facilitado

A liberação de verbas do FNDE para os prefeitos amigos do presidente e dos pastores tem ocorrido muito mais rapidamente. A prefeita Marlene Miranda, de Bom Lugar (MA), por exemplo, teve seu pedido atendido em 16 dias. Um recorde. Há casos de outros municípios que demoraram até 10 anos para obter recursos.

Facilitar o caminho do dinheiro é a principal tarefa da dupla. Marlene pediu cinco milhões para a construção de uma escola no dia 16 de fevereiro. Em 4 de março, o FNDE já havia reservado 200 mil para uma primeira parcela de pagamento.

Prefeitos dos partidos Progessistas, PL e Republicanos são os que mais aparecem na lista de favorecidos. Essas legendas, privilegiadas pelos pastores, integram o núcleo do centrão, base de apoio do presidente.

Após as denúncias, o MPF (Ministério Público Federal) já solicitou abertura de inquérito junto ao TCU (Tribunal de Contas da União). Este é responsável por analisar as contas dos administradores federais. A PGR (Procuradoria Geral da República) também foi cobrada a abrir investigação por suspeita de improbidade administrativa e tráfico de influência.

O escolhido

Substituto de Abraham Weintraub, após este colecionar uma série de polêmicas e retirar 30% da verba das universidades federais, Ribeiro foi escolhido por Bolsonaro exatamente por ser evangélico. Ele não possuía nenhuma experiência em políticas públicas antes de assumir a pasta.

“Milton Ribeiro é uma figura apagada. Só aparece para destilar preconceito e desprezo pela educação. Agora sabemos o que faz quando não o vemos: aproveita seu cargo para usar a fé do povo, trocando verbas públicas por construção de igrejas. Tudo isso sob as ordens de Bolsonaro”, afirmou a professora da rede pública de São Paulo Flávia Bischain, que também integra a Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

Via cspconlutas.org.br