Marinalva Silva Oliveira apresenta proposta da Chapa 1, apoiada pela CSP-Conlutas, para as eleições

As eleições para a diretoria do Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior), do biênio 2012-2014, serão realizadas nos dias 8 e 9 de maio. Esse sindicato é filiado à Central e tem sido referencia de independência do governo e de luta em defesa da Educação e dos docentes em todo país. 

Duas chapas se apresentaram para a eleição, mas somente a chapa 1 “ANDES – Trabalho Docente e Compromisso Social” apoiada pela CSP-Conlutas, foi homologada. A chapa 2 “ANDES-SN para os professores” não atendeu todas as exigências para registro e, por isso, não disputará a eleição.

A chapa 1 tem como presidente  Marinalva Silva Oliveira,  professora da Universidade Federal do Amapá. Para conhecer um pouco mais sobre as propostas da Chapa 1, a CSP-Conlutas entrevistou Marinalva  que apresentou suas opiniões, expectativas e proposta para a direção do Andes-SN. Confira:

CSP Conlutas: Marinalva, você é candidata a presidente do ANDES-SN. Fale um pouco da realidade do trabalho docente.

Marinalva Silva Oliveira – A docência está vinculada à possibilidade de transformação da sociedade, de reinventá-la e reorganizá-la de uma forma mais justa, igualitária e solidária. Entretanto, ao mesmo tempo, luta contra sua submissão ao sistema. Quando se nega ao docente a possibilidade de tempo para pensar, este passa a funcionar para o sistema reforçando as ideologias da classe dominante e, consequentemente, o processo de subjugação do trabalhador.O ensino superior no espaço privado há muito está nesta condição. No âmbito público, as políticas utilizadas pelos sucessivos governos têm gerado uma universidade de poucos recursos e elevada competitividade. Isso tem conduzido a preocupações comparativas entre os docentes, a um ambiente competitivo e estressante e ao adoecimento docente. Os docentes, então, não conseguem mais transformar nada, pois toda a preocupação passa a ser parecer produtivo dentro do sistema adotado. Abandona-se a lógica da transformação e passa-se a construir um ambiente individualizado e auto-centrado onde não há tempo, espaço ou interesse para pensar a sociedade e sua transformação.Não podemos acatar essa condição, temos que voltar a ser capazes de pensar o mundo, a realidade que nos cerca e de ter alguma possibilidade de transformação social. A universidade humboldtiana, aquela que se define pelo tripé ensino, pesquisa e extensão, como um lócus de resposta aos anseios sociais não pode morrer, não podemos deixar. Precisamos não nos tornar anacrônicos, precisamos ir além da lógica de preparar para o mercado de trabalho, precisamos reconstruir a universidade como um centro do pensar, para então, transformar a sociedade.

CSP Conlutas: O ANDES-SN acaba de realizar um Congresso que teve como um dos centros a defesa da educação pública. Como você vê o quadro da educação superior no Brasil e as políticas do governo gederal?

M.S - As políticas do governo federal estão alinhadas com as políticas de organizações internacionais como FMI, BM e OMC que tem como centro de seus interesses o capital e seus donos. Toda a legislação e política adotadas visam entregar o sistema de educação ao mercado, a partir de uma lógica liberalizante, ou seja, tornar a educação um mecanismo rentável, muito rentável para os donos do capital. Para isso o governo vem sistematicamente implodindo as universidades públicas brasileiras. Reduz salários dos trabalhadores e trabalhadoras, reduz recursos diretos às IES, aumenta o número de discentes sem aumento proporcional de docentes e técnicos. Ao mesmo tempo incentiva a iniciativa privada por meio de fomentos como Prouni e FIES, permite cursos de curta duração, amplia a EaD, e amplia a abertura do sistema educacional brasileiro ao capital internacional.Sob esta lógica, a educação deixa de ser direito, vira mercadoria e quem paga por ela somos nós a custa de endividamentos. A seguir o caminho que o governo vem implementando, só terão acesso a instituições de qualidade aqueles que fizerem empréstimos de longo prazo para bancar a educação dos filhos, como se faz para comprar uma casa.O ANDES-SN sempre defendeu e continuará defendendo a educação como direito, o caderno 2 que atualizamos no 31º Congresso do sindicato é uma mostra disso. Um ensino público, gratuito, autônomo, democrático, de qualidade e socialmente referenciado que esteja a serviço da construção de uma sociedade justa e igualitária é a nossa meta, e é, além da defesa dos interesses da categoria, a razão de ser do ANDES Sindicato Nacional.

CSP Conlutas: Como está a situação do registro sindical do ANDES?

M.S -  O Estado tem adotado mecanismos de controle sobre a organização dos trabalhadores e trabalhadoras com o objetivo de retirar direitos dos (as) mesmos (as). O ANDES-SN tem representado oposição a essas políticas e tem lutado arduamente na defesa destes direitos. O governo, por sua vez, tem utilizado contra o ANDES-SN e demais organizações que se lhe opõem, todas as ferramentas a sua disposição, incluindo aquelas oriundas das mudanças implementadas a partir da chamada reforma, ou como nós denominamos, contrarreforma sindical.Dentre os mecanismos utilizados pelo governo na tentativa de fragilizar a ação dos opositores está o registro sindical, reconhecimento legal para funcionamento de uma entidade sindical. O ANDES-SN, por exemplo, viveu uma parte de sua história sem o registro sindical, embora felizmente nossas ações tenham suplantado esse entrave burocrático. Destaque-se que a tramitação da PEC 369, retomada no parlamento, tende a aprofundar esses mecanismos de controle sobre as entidades sindicais. Dessa forma, as ações quanto ao registro do ANDES-SN ocorrerão nos âmbitos político e jurídico para garantir a concepção sindical classista e autônoma. Ao mesmo tempo, precisamos fazer uma ampla discussão com a base do sindicato e atuar junto com a CSP-Conlutas e outras entidades denunciando os ataques e os objetivos dos mesmos que tem como central a caça da liberdade e autonomia sindical.Em resumo, o governo tem buscado estabelecer controles rígidos, impedir a liberdade sindical e aprofundar os ataques à capacidade de organização sindical, especialmente contra entidades combativas como o ANDES-SN. Esta é a razão pela qual o registro do ANDES-SN foi suspenso pelo governo, mas isso não deterá os docentes, continuaremos mobilizando para enfrentar a repressão às atividades sindicais da categoria. Vamos resistir aos ataques ao nosso projeto e concepção sindical, pois a força do ANDES deriva não da burocracia, mas dos docentes que o compõem e que labutam na universidade diariamente.

CSP Conlutas: Marinalva, duas chapas se inscreveram para a eleição do ANDES-SN. Quais são os projetos em disputa?

M.S - Duas chapas se inscreveram, mas apenas a nossa Chapa foi homologada, pois a outra Chapa não cumpriu as exigências postas no Estatuto do ANDES e no Regimento Eleitoral.Nós da Chapa 1 defendemos um sindicato livre, autônomo e combativo que nos represente e que enfrente esse modelo de educação privativa. Lutamos e lutaremos por uma universidade de qualidade, pública e gratuita como política de estado. Uma educação em que o governo invista de fato e não por meio de estratégias enganosas como os editais. Não é possível ficarmos nos digladiando por escassos recursos lançados por meio de editais, enquanto o governo prioriza os interesses do mercado. Defendemos uma entidade classista cujo papel deve ser o de transformação social para tornar a sociedade mais justa e igualitária.

CSP Conlutas: Como você vê as relações do ANDES-SN com o processo de organização mais geral da classe trabalhadora no Brasil e, em particular, a relação com a CSP Conlutas?

M.S - O processo de organização da classe trabalhadora é central para o ANDES-SN, pois entendemos não ser possível qualquer possibilidade de transformação social, a partir do interesse dos trabalhadores, sem que haja a aglutinação da classe. Lamentavelmente, com a política liberal e a cooptação sindical assumida por um governo que cresceu por dentro dos sindicatos, a aglutinação está fragilizada.O ANDES-SN sempre assumiu como central o processo de organização dos diferentes segmentos da classe trabalhadora, de modo que este tema é presente nos nossos congressos e CONAD e em nossas ações cotidianas. Temos nos esforçado para que a luta conjunta dos SPF [Servidores Públicos Federais] ocorra, ocupamos espaços como a CNESF e estamos construindo a CSP-Conlutas que é um instrumento novo e importante na organização da classe trabalhadora.O ANDES-SN participou ativamente da construção da CSP-Conlutas por entender, após amplas discussões na base, que essa central é fundamental no enfrentamento ao capital e em defesa dos interesses da classe trabalhadora. Só através da unidade de diversos setores que tem enquanto meta uma sociedade justa e igualitária, chegaremos à vitória. Assim, precisamos da CSP-Conlutas como uma organização autônoma, independente e combativa que nos permita enfrentar as condições de expropriação e espoliação a que a classe trabalhadora vem sendo submetida. O ANDES-SN filiou-se à CSP Conlutas, pois entende que ela é um polo agregador absolutamente necessário para a reorganização da classe.

CSP Conlutas: De 27 a 30 de abril teremos o I Congresso Nacional da CSP- Conlutas, em Sumaré/SP. Como vai ser a participação do ANDES-SN?

M.S – O I Congresso da CSP Conlutas, que tem como tema “Avançar na organização de base”, ocorre num momento ímpar para fortalecermos essa entidade classista, democrática para avançar na unidade da luta e na organização de base. Por isso o ANDES-SN participa ativamente de todas as instâncias da CSP-Conlutas. No I Congresso Nacional não será diferente, teremos delegados da diretoria nacional e de seções sindicais cujos posicionamentos quanto às normas estatutárias, organização, expansão e enraizamento da central buscarão tornar a CSP-Conlutas ainda mais forte e atuante no cenário nacional.

CSP Conlutas: Você é professora no Amapá? O que diferencia a atuação de uma educadora nessa região do país?

M.S- Um colega do Amapá escreveu um artigo na revista Universidade e Sociedade do ANDES-SN onde ele situava a nossa instituição na periferia da periferia do capital. De fato, essa é a condição em que nos situamos, estamos deslocados tanto no aspecto geográfico quanto em relação ao centro das decisões. Toda política educacional implementada no centro do sistema financeiro afeta o Brasil e se expressa com mais força em instituições periféricas como aquelas que estão no interior dos estados centrais ou nos estados mais distantes. O Reuni, programa de reestruturação do governo para as universidades federais, é um claro exemplo disso. A Unifap praticamente dobrou seu número de alunos e cursos, mas a contrapartida em termos de melhorias para a instituição é muito reduzida. Técnicos e docentes vivenciam fortemente a superexploração e a queda de qualidade resultante da falta de tempo para se dedicar aos detalhes da função. Por conseguinte, essa falta de qualidade afeta os alunos e o próprio desenvolvimento da região. Então, ser docente na periferia da periferia, significa ter que ser ainda mais forte na luta contra o desmonte da universidade.

CSP Conlutas: Fale um pouco de você, quem é Marinalva Oliveira?

M.S- É muito difícil uma auto-definição, mas vamos lá! Sou professora e pesquisadora com formação em nível de doutorado na área de Psicologia na Universidade Federal do Amapá. Minhas pesquisas estão centradas nos desafios da inclusão escolar e social de pessoas com deficiência, de forma mais específica, crianças com síndrome de Down e atuo na graduação e na pós-graduação. Iniciei no movimento sindical dos bancários e posteriormente no SINDUFAP, seção sindical do ANDES-SN. Sou mulher, mãe e trabalhadora dentro do sistema capitalista, portanto, sofro todas as atrocidades que o mesmo nos traz, mas luto diariamente para superá-las e sonho com outra universidade e sociedade. Uma sociedade livre das opressões e das discriminações!

CSP Conlutas: Quer deixar algum recado para aqueles que acompanham a página da CSP Conlutas na internet?

M.S – Para o contínuo fortalecimento do ANDES-SN e da CSP Conlutas, chamamos os professores e professoras de todo o país a votarem nos dias 8 e 9 de maio na Chapa 1, Trabalho Docente e Compromisso Social. As eleições são diretas, com urnas em todo território nacional possibilitando a todos os sindicalizados e sindicalizadas decidirem quem vai dirigir o Sindicato nos próximos dois anos. Essa forma democrática como o ANDES-SN se organiza, ocorre não só nas eleições, mas em todas as instâncias de deliberações através de CONAD e Congressos. Por isso convidamos todos e todas a se envolver com o contínuo fortalecimento do ANDES-SN votando em defesa da Universidade pública e da valorização do trabalho docente! Por último, visitem nosso blog e organize o comitê de campanha na sua universidade http://chapa1andes-sn.blogspot.com.br/.

Fonte: CSP-Conlutas