Seminário debateu adoecimento dos docentes

Reformas previdenciárias, a lógica produtivista e suas implicações para a saúde docente foram os temas debatidos durante o seminário “Adoecimento docente, precarização do trabalho e previdência” que aconteceu na quinta (23), no campus de Jequié. Com grande participação de professores e estudantes, o evento abriu a nova rodada de seminários promovidos pela Adusb-SSind com o objetivo de preparar a categoria para os temas contemporâneos.

A alta exigência da educação superior ligada às poucas condições de trabalho e a desvalorização da carreira docente, foram apontadas pela professora Tânia Torreão (DCHL) como fortes influenciadores para o adoecimento docente. Este círculo vicioso de alta performance, guiado pelo produtivismo, seria o responsável por tornar a categoria docente na que mais tem adoecido no trabalho.

Na sequência, o professor Hector Munaro (DS) apresentou dados referentes ao estilo de vida dos docentes da Uesb. De acordo com a pesquisa realizada em 2009, foram observados comportamentos negativos nos itens de atividade física e controle de estresse 66,7%. Em relação ao peso, 43,3% dos professores e professoras apresentaram sobrepeso ou obesidade e 56,7% se encontravam no peso ideal. Os dados apresentaram ainda que 85,7% dos docentes sentiam dores nos pés, 57,1% na cervical, 42,8% nos ombros e 100% deles relacionaram essas dores à atividade laboral. Hector Munaro discutiu ainda os dados preliminares de sua pesquisa atual que visa atualizar as informações sobre o estilo de vida docente e buscar formas de melhorá-lo.

As reformas acontecidas desde a implantação da Constituição Federal de 1988 até a Emenda Constitucional 41/2003 e os direitos perdidos pelos servidores públicos foram discutidos pelo representante jurídico da Adusb-SSind, Érick Meneses (DCSA). “Nesse típico estado neoliberal no qual vivemos, previdência não combina. Desde a constituição de 1988, direitos que foram conquistados arduamente por nós servidores públicos, por nós brasileiros, foram perdidos”, denunciou.

A representante do GT de Seguridade Social e Assuntos de Aposentadoria do Andes-SN, Maria Suely Soares, relembrou as históricas bandeiras do sindicato nacional e a luta constante por direitos: “garantir os direitos dos trabalhadores é garantir qualidade no trabalho”, defendeu a professora. Para ela, o primeiro passo contra a precarização do trabalho e o adoecimento docente é garantir a discussão desses temas no seio das seções sindicais, tal como esta atividade da Adusb-SSind, para que os docentes possam se aprofundar na pauta e buscar formas de intervir na realidade. Outra necessidade defendida foi a apropriação dos dados referentes a pesquisas sobre o tema e a criação de uma pesquisa oficial do Andes, que já está em andamento.

O professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Eduardo Pinto e Silva apresentou sua pesquisa sobre trabalho e adoecimento do professor universitário. De acordo com o pesquisador, a universidade mesmo sem sofrer um processo formal de privatização, cada vez mais assume um papel mercantil que aliado ao produtivismo acadêmico, práticas universitárias utilitárias, pragmáticas e competitivas tornam o ambiente acadêmico propício ao adoecimento docente. Durante a sua exposição teceu fortes criticas à relação que os docentes desenvolvem com o trabalho: “Lattes, Lattes meu, existe alguém mais produtivo do que eu?”, satirizou ao afirmar que “muitos professores se referiram ao trabalho com a metáfora da droga e do álcool”.

Em outubro está previsto a realização de mais um seminário para abordar etnia, classe e gênero e fará parte da programação da Semana do Professor no campus de Vitória da Conquista. Já para novembro está previsto o debate sobre Ciência e Tecnologia em Itapetinga.