Aulas de campo negadas prejudicam a formação de estudantes da Uesb

Atualizada em 19 de dezembro de 2017 às 18:33

Muitos cursos universitários não dependem somente de aulas em sala. Para assegurar o desenvolvimento de competências específicas para o exercício profissional, são necessárias também aulas e\ou visitas técnicas externas. Contudo, várias solicitações de aulas de campo foram negadas na Uesb nos últimos anos. Uma óbvia tentativa de adequar a Universidade à política de contingenciamento de recursos do governo.

Segundo dados da Gerencia Acadêmica da Uesb, de 2015 a 2017, 91 solicitações de aulas de campo foram indeferidas nos três campi. Dentre elas está a solicitação de Paulo Cairo, professor de Fisiologia Vegetal, disciplina dos cursos de Agronomia e Engenharia Florestal da Uesb de Vitória da Conquista. Atuante há 30 anos na universidade, o professor realiza todo IV semestre uma visita técnica com seus alunos a Fazenda Plantações Michelin em Ituberá – Bahia, cerca de 350 km de Conquista.

A fazenda é responsável pelo cultivo da seringueira, obtenção e beneficiamento de látex para produção de borracha vegetal que depois segue para o Rio de Janeiro para a fabricação de pneus. Nessa visita os alunos acompanham todo esse processo que segundo o professor Paulo, “são os principais aspectos da disciplina Fisiologia Vegetal II”.

Nesse dia os alunos também visitam o único laboratório do Brasil que trabalha no controle do “Mal Sulamericano das Folhas” que ataca a seringueira. Na oportunidade eles conhecem o fungo causador da doença e as formas de controle desenvolvidas. 

Porém, mesmo considerando todos os aspectos positivos da visita para a formação prática e profissional dos alunos de Agronomia e Florestal, o Comitê da Pró-Reitoria de Graduação negou a solicitação da viagem nesse último semestre.

A justificativa dada pelo Comitê foi que a atividade extrapola o tempo estipulado na resolução 51/2009 que deve ser de 2 horas diárias. A atividade, segundo o docente, devido à distância e para aproveitamento de todo experimento que a fazenda oferece não pode ser menos de 8 horas diárias. Paulo Cairo entrou com “recurso rico em argumentos, um documento de três páginas formalizando todos os motivos de importância da viagem e mostrando toda a preocupação em não perder de vista a qualidade da formação acadêmica e profissional dos alunos”. No entanto as justificativas não foram aceitas.

Ainda que a distribuição dos recursos por pró-reitoria seja feita pela Comissão de Orçamento do Consu, a aplicação dos recursos assim distribuídos é de responsabilidade de cada pró-reitoria. Assim, não é novidade que a reitoria da Uesb tem utilizado diversas estratégias para enxugar o orçamento da Universidade e aplicar o ajuste fiscal do governo. Burocratizar o acesso aos transportes, à permanência estudantil, aos editais internos, por exemplo, é uma forma de se fazer isso. “Inviabilizar as atividades práticas acadêmicas é o caminho que a universidade está adotando para cumprir dentro da instituição as exigências que o governo estadual vem fazendo de cortes do financiamento da educação pública”, destacou Paulo.

O professor lamenta que as turmas de Agronomia e Florestal desse ano não realizaram a visita técnica e assegura que se a universidade continuar no caminho proposto pelo governo de contingenciamento do orçamento a qualidade da formação dos discentes será severamente prejudicada.