Intervenção militar no Rio aumentará a violência contra os pobres e a criminalização das lutas

O Rio de Janeiro amanheceu na última sexta-feira (16) sob intervenção militar decretada pelo governo Michel Temer. Argumentos de que a violência fugiu de controle no carnaval e declarações do governador Pezão (RJ) de que não houve preparação suficiente para o evento foram alardeadas pela grande mídia, que insistiu em propagar o carnaval da cidade como o mais violento e elogiar o evento em outras capitais.

De acordo com matéria publicada pelo Estadão, isso não é verdade. A diretora-presidente do Instituto de Segurança do Rio (ISP), Joana Monteiro, afirmou que os dados de segurança do Rio de Janeiro divulgados pelo órgão mostram que não houve uma onda de violência atípica neste carnaval, apesar de críticas à Secretaria que motivaram a intervenção federal no Estado. Foram registradas 5.865 ocorrências policiais no total no Rio, entre os dias 9 e 14 de fevereiro, enquanto no carnaval do ano passado (quando a Polícia Civil ainda estava em greve), foram 5.773. Em 2016, 9.016 ocorrências foram registradas e, em 2015, computaram-se no total 9.062”, aponta o texto.

Ou seja, a violência no Rio de Janeiro não é de hoje, principalmente a que se abate na população mais pobre. Essa vive cotidianamente nas mãos do tráfico, da polícia, que é quem mais mata, e das milícias. São as balas perdidas que assassinam dezenas de crianças e a juventude negra. Não nos esqueçamos de Sofia, Fernanda, Maria Eduarda, Paulo Henrique, Vanessa, Artur e tantas outras. Até hoje não sabemos do paradeiro de Amarildo. Até hoje vem em nossas mentes as imagens da mulher negra Claudia Ferreira sendo arrastada por um carro da polícia.

 

Essa violência vai piorar com a Intervenção Militar Federal decretada por Temer. A “ordem” anunciada afetará os negros e pobres que vivem nas diversas comunidades nos morros cariocas.

Assim como haverá o aumento da criminalização das lutas. Isso num Estado em que os trabalhadores não param de lutar, pois os serviços públicos estão desmantelados, a saúde e a educação públicas estão falidas. Na capital foram greves e manifestações de tantos setores no último período e de servidores públicos, que enfrentam há vários meses os atrasos nos salários. A intervenção quer controlar essa insatisfação que a cada dia se transforma em resistência.

“Ao enfrentar todos esses desmandos, desleixo e o Estado sendo um palco de corrupção, o carnaval carioca lavou a alma de muitos pela denúncia, irreverência e bom humor. Mostrou ao país e ao mundo como governam Temer, Pezão e o prefeito Crivella. O povo foi às ruas e pediu o Fora Temer e Crivella, pediu a renúncia de Pezão; levantou o ânimo para resgatarmos as lutas e a resistência no Rio e isso os assustou”, afirma a bancária da CEF-RJ Rita de Souza, integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.

Isto significa que a intervenção se prepara para tratar as lutas com maior repressão. “Sabemos como o Exército atua, FHC (PSDB) usou o Exército para reprimir a greve dos petroleiros em 1995, a presidenta Dilma (PT) usou o Exército para reprimir os manifestantes que lutavam contra o leilão do Campo de Libra, das reservas de petróleo do Pré-sal; o Exército é treinado para usar a violência ”, reforça Rita.

Essa escalada repressiva da intervenção no Rio vem reforçada por ações de governos anteriores como a aprovação da Lei Anti-Terrorismo, Lei das Organizações Criminosas e decretos autorizando a utilização das Forças Armadas na garantia da “lei e da ordem” dentre outros. Infelizmente, em gestões de governos petistas.

E, não há dúvida, Temer e Pezão, se assustaram como o povo nas ruas no carnaval, desmoralizando completamente seus governos e o prefeito Crivella que estava na Europa. O que teve no carnaval do Rio não foi violência exacerbada e sim resistência com muita irreverência. Lembremos somente os exemplos mais expressivos: Tuiuti, Mangueira e aeroporto Santos Dumont. Houve muito mais.

A intervenção militar pretende conter essa revolta social que existe no Rio de Janeiro. Mas em absoluto aumentar a segurança, como almeja a classe média. Se aumentar a violência contra negros e pobres e a criminalização das lutas, aumentará a revolta social.

O que o Rio de Janeiro precisa não é de intervenção militar. Ao contrário. É necessário garantir emprego decente, salário digno, direito à moradia digna, educação e saúde públicas gratuita e com qualidade, garantir oportunidade para que os jovens tenham perspectiva de vida, tenham com o que sonhar.

O governo do Rio precisa pagar os salários atrasados do funcionalismo público, garantir creches para que as mulheres possam trabalhar sem se preocupar com a segurança de seus filhos, precisa garantir postos de saúde e saneamento básico para as favelas. Acabar com o tráfico legalizando as drogas leves e não deixando esse controle nas mãos da polícia, de bandidos e de políticos.

É preciso acabar com a desigualdade social do Rio. Assim acabará a violência.

O Estado do RJ está envolvido até o pescoço em corrupção, em tráfico de drogas, em beneficiamento ilícito de empresários. Acabar com isso é que resolverá o problema do Rio de Janeiro.

 A CSP-Conlutas repudia a Intervenção Militar Federal no Rio de Janeiro e convoca a resistência unificada dos movimentos sindical, sociais e populares e da juventude.

É preciso que os moradores das comunidades se organizem e busquem os meios de se defenderem da violência que deve se aprofundar, seja do tráfico, das milícias, ou da polícia e militares. Precisamos unir forças com os que lutam e resistem.

Fora Intervenção Militar Federal do Rio de Janeiro!

Fora Pezão e Crivella!

Fora Temer e todos os corruptos do Congresso Nacional!

 

Fonte: CSP- Conlutas