Saúde mental e suicídio na universidade foram discutidos em palestra na Uesb

Como parte da programação do Setembro Amarelo na Uesb, Adusb, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e Reitoria realizaram a mesa “Saúde mental e suicídio dentro da universidade”, na tarde do dia 17 de setembro, em Vitória da Conquista. A médica da família Ana Karen Souza trouxe o debate sobre as implicações do capitalismo para a saúde mental. O atendimento psicológico na Uesb e pensamentos comuns entre pessoas com ideação suicida foram apresentados pelo professor Maurício Moreno. 

As relações entre o processo de adoecimento com aspectos sociais foram destacados por Ana Karen Souza. Na avaliação da médica, não há como discutir saúde física e mental sem debater transporte público, serviços públicos, cultura, lazer. Ter saúde não é o mesmo de não ter doenças, “é acessar a tudo que a humanidade já produziu”, afirma. No entanto, o capitalismo tem como cerne a exploração de uma classe sobre a outra e por conta disso a parcela explorada será privada de questões essenciais para sua saúde. A palestrante fez ainda uma dura critica ao alto índice de uso de remédios antidepressivos.

No que se refere especificamente ao ambiente acadêmico, o produtivismo é um elemento que agrava a autocobrança, gera sobrecarga psicológica, que também está aliado às questões próprias do atual sistema social como o individualismo, a competitividade e o egoísmo. “Isso gera depressão quando as pessoas não conseguem ser esse ser humano que é exigido. Esse ser humano que produz muito. Esse ser humano que está à frente de tudo. Isso está ligado também com outras condições que não é só do meio acadêmico, mas também da nossa sociedade. Lidar com machismo, racismo, lgbtfobia, que nos coloca em uma situação diferente diante das nossas condições de vida, no qual temos a nossa subjetividade negada”, defendeu Ana Karen.

O professor Maurício Moreno ressaltou a importância da realização do evento, pois “muitos alunos, servidores, professores em algum momento passam por sofrimento intenso. Sofrimento que pode levar a intenções suicidas, tentativas de suicídio. Eles não percebem possibilidade de receber ajuda. Nessas situações pode acontecer muito de pessoas próximas não perceberem que essas pessoas precisam de ajuda”, afirmou.

Apesar do suicídio ser muito difícil de prever e conter múltiplas variáveis, existem alguns sentimentos comuns. Maurício chamou atenção ao fato de que pessoas que tentam ou pensam em suicídio têm sensação de fracasso e de não corresponder ao que se espera, de não pertencimento a nenhum grupo social. Falam com tranquilidade sobre a morte, realizando a sua desvinculação com a dor. É comum ainda o sentimento de culpa e a falta de vínculos fortes com as pessoas.

Durante o debate, participantes relacionaram a discussão apresentada à necessidade de uma política efetiva de permanência estudantil para combater o adoecimento entre estudantes. A integrante do DCE, Zoé Meira, denunciou a falta de psicólogos contratados especificamente para atendimento no Programa de Assistência Estudantil da Uesb (PRAE) e cobrou responsabilidade do governo do Estado e da reitoria da Uesb.

Formas de tratamento

Como sugestões para enfrentar o adoecimento mental e o suicídio, a médica Ana Karen apontou a importância da grupalização - a participação ou identidade com algum grupo social- autoconhecimento do corpo, prática de esportes e atividades artísticas. “Vivemos em uma sociedade que temos objetivos de vida muito superficiais, como ter dinheiro”, por isso indica também a necessidade de recuperarmos a perspectiva histórica da humanidade para a construção de um mundo em que a aparência não seja mais importante que a essência.

Para a comunidade acadêmica, o professor Marcelo ressaltou a existência de mecanismos para o oferecimento de ajuda. “Na Uesb, a gente tem o CEUAS. Qualquer aluno, estudante ou servidor pode procurar atendimento no plantão psicológico. No plantão psicológico vai receber atendimento se a pessoa tiver uma demanda desse tipo ela pode ser encaminhada para o NUPPSI [Núcleo de Práticas Psicológicas], onde lá temos uma equipe de professores e estagiários que podem fornecer atendimento”, pontuou. Além disso, o curso de psicologia realiza um grupo de conversa sobre suicídio sempre às quartas-feiras das 13:30 às 15:30 no Módulo V.

O presidente da Adusb, Sérgio Barroso, aponta que “nossa sociedade, capitalista, é fundamentada na exploração. Para justificar isso existe toda uma estrutura ideológica da meritocracia, de que o trabalho leva à ascensão social, que a falta de empenho individual é que impossibilita essa ascensão, não a estrutura do capitalismo. Padrões surreais e inatingíveis são estabelecidos, levando à frustração e ao adoecimento”.

É preciso reconhecer esta raiz estruturante do adoecimento mental, para que possamos avançar na sua prevenção e tratamento. Barroso também defende que “estas pressões são reproduzidas no ambiente universitário, infelizmente, levando ao adoecimento docentes, técnico-administrativos e estudantes. E, apesar das louváveis iniciativas que hoje existem na Universidade, como o NUPPSI e o atendimento psicológico do CEUAS, elas são ainda insuficientes para atender a comunidade. A política do governo Rui Costa de sucateamento das Universidades Estaduais, vem degradando as condições de trabalho e estudo, agravando cada vez mais esse problema. O movimento docente tem insistentemente denunciado e lutado contra essa situação. É preciso que toda a comunidade acadêmica se junte nessa luta”.