Entidades discutem conjuntura e destacam a importância da unidade na luta

O Encontro de Trabalhadores e Trabalhadoras do Sudoeste da Bahia, realizado no sábado (10), reuniu diversos sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais. A mesa “Os desafios da classe trabalhadora frente aos ataques do capital e dos governos federal, estaduais e municipais”, construída por um conjunto diverso de forças políticas, promoveu uma análise da atual conjuntura de ataques aos direitos trabalhistas. A resistência das trabalhadoras e trabalhadores no cenário político atual, a necessidade de fortalecer a unidade e a importância de atividades como essa foram destaques nas avaliações.

Hamilton Assis (CSP-Conlutas) apontou que a crise atual não se trata apenas da instalada pelo capital, mas também atinge as organizações da classe trabalhadora, que estão com dificuldades em sua organização. O representante da CSP-Conlutas considerou que um dos elementos responsáveis por isso foi a priorização das lutas por meio do que ele chamou de institucionalidade. De acordo com Hamilton, os grupos hegemônicos na esquerda acreditaram que seria possível romper com o atual modelo social por meio do processo eleitoral, esquecendo a importância da mobilização da classe trabalhadora. Enquanto a classe trabalhadora se desmobilizava, o capital operou uma ofensiva poderosa contra os trabalhadores, por meio da restruturação produtiva, inclusive com o processo de terceirização, o que dificulta a organização dos sindicatos. A militarização da sociedade e a criminalização dos movimentos sociais também são ferramentas do capital para avançar contra os trabalhadores. Hamilton defendeu que para que trabalhadoras e trabalhadores construam uma reação compatível aos ataques, é necessário um profundo balanço desse processo, para construção da unidade nas lutas.

A responsabilidade dos governos de conciliação de classes no processo de impeachment e posterior ascensão de Bolsonaro foi ressaltada por Gustavo Mascarenhas (Afronte), pois abdicaram de pautas históricas da esquerda. Gustavo qualificou o impeachment como um “golpe” midiático, jurídico e legislativo. Orquestrado pela elite burguesa, foi uma reação aos avanços, ainda que limitados, conquistados pela classe trabalhadora com a constituição de 1988. Na mesma linha de Hamilton, Gustavo também criticou a aposta na institucionalidade e não nas mobilizações da classe trabalhadora. Gustavo defendeu que somente a mobilização permanente das massas poderá conter o processo de retirada de direitos e permitir um posterior revide das trabalhadoras e trabalhadores. Citando o exemplo do governo Rui Costa, que reproduz, e até mesmo adianta, muitos aspectos dos ataques do governo Bolsonaro, Gustavo lembrou também que a resistência deve ser feita independente de partidos e governos.

César Nolasco (CTB) defendeu que o processo de impeachment foi ponto chave para que a direita avançasse no Brasil, impondo sua política econômica e principalmente a retirada de direitos trabalhistas. Uma das dificuldades apontadas por Nolasco para a dificuldade de mobilização da população é o nível de conscientização política. Isso permitiu que as pessoas acreditassem nos argumentos fraudulentos do governo federal para justificar projetos que atacam a população, como as reformas trabalhista e da previdência.

Os impactos das Reformas Trabalhista e da Previdência para a juventude foram criticados por Saulo Alves (DCE Uesb - Jequié). De acordo com o estudante, as reformas trabalhista e da previdência materializam o projeto de desmonte da sociedade do governo federal. A juventude é um dos setores mais atingidos, pois possui dificuldades em obter e permanecer em empregos, o que impactará no seu acesso futuro à aposentadoria. Os ataques à educação também foram ressaltados por Saulo como mais um desafio da juventude.

As lutas travadas pelos trabalhadores do campo de Vitória da Conquista e região foram destacadas por Noeci Salgado (Frente Brasil Popular). A perspectiva de recuo nas políticas para o campo foi apresentada com preocupação. Apesar de termos no momento um governo de direita e o processo de consciência não ser alterado rapidamente, Noeci apontou que com mobilização será possível superarmos este cenário.

Denise Mega (Movimento Mulheres em Luta) considerou que enfrentar o machismo é um dos desafios dos trabalhadores, pois seria incoerente excluir as mulheres, que hoje representam mais da metade da classe trabalhadora. É preciso reconhecer as diversas formas de opressão,o machismo, o racismo, a lgbtfobia, como elementos que dividem a classe trabalhadora, e enfrentá-los, para que seja possível avançar e construir unidade na luta. Ela reforçou também a necessidade da luta classista, já que as opressões atingem de forma muito intensa a classe trabalhadora. Denise também apontou os limites dos governos de conciliação de classe no combate às opressões, ao destacar o aumento de mais de 20% nos assassinatos de mulheres de 2003 a 2013. Ao destacar o devastador aumento dos casos de feminicídios e assassinatos entre a população LGBT com a ascensão do governo Bolsonaro, Denise apontou a necessidade de fortalecer a luta para enfrentar esta grave situação, com a mobilização da classe trabalhadora. Ao citar as Reformas Trabalhista e da Previdência, Denise ressaltou como estas atingem de forma ainda mais grave as mulheres trabalhadoras. Ela lembrou que uma parte significativa das mulheres e outros grupos oprimidos votou sim em Bolsonaro, mas que, em sua avaliação, isso se deu por um processo de desilusão com governos anteriores. Durante sua fala Denise lembrou dos 50 anos da Revolta de Stonewall, nos Estados Unidos, como exemplo de resistência dos grupos oprimidos, em especial a população LGBT. Ao final Denise destacou a importância da Unidade, mas na luta em resistência a estes ataques e em defesa dos nossos direitos.

O contexto político conservador de Itapetinga, uma das cidades baianas em que Bolsonaro venceu nas eleições, foi apresentada por Renan Coelho (Frente Democrática de Itapetinga). Apesar das dificuldades para construção das lutas, o representante da FDI acredita que sindicatos e movimentos não possuem outra alternativa de enfrentamento além da construção da unidade para barrar os ataques.

Na avaliação de Edmilson Oliveira (CUT), o capitalismo avança sobre os trabalhadores como forma de baratear o custo do trabalho, prova disso é o projeto de modificação da previdência. O dirigente sindical criticou a Reforma da Previdência, pois, além de retirar direitos, irá empobrecer municípios, já que as aposentadorias são responsáveis por movimentar a economia de muitas cidades. O enfrentamento ao governo Bolsonaro deve ser feito nas ruas, com mobilização constante, apesar dos ataques sofridos pelo movimento sindical.

Enoque Matos (Intersindical) considerou o governo Bolsonaro como fascista e com a intenção de desmontar o Estado brasileiro e o entregar para a iniciativa privada. A resistência e construção da unidade também foram consideradas essenciais neste cenário político atual. Enoque defendeu o respeito às diferenças entre as forças políticas da esquerda para que seja possível uma unidade real, capaz de derrotar a burguesia e o capital.

A presidente da Adusb, Soraya Adorno, fez uma avaliação positiva do encontro. “Este evento, por ser regional, veio com a expectativa de agregar trabalhadores e trabalhadoras da região sudoeste da Bahia. O sucesso do evento vem do trabalho da Adusb ao fazer o chamamento a essas entidades e, principalmente, ao deixar evidente que se tratava de evento sem a marca desse ou daquele partido político e que todos eram bem-vindos. Talvez por isso tivemos a satisfação de ter a presença de mais de 30 entidades de classe e coletivos. A luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora não se dá só aqui no espaço da Adusb, da Uesb, para nós ela ultrapassa os limites da região sudoeste. Sabemos que nesses últimos tempos, os trabalhadores e trabalhadoras vêm sofrendo vários ataques e em todos as esferas, seja dos governos municipais, estaduais e federal que a cada dia vem retirando nossos direitos sem o menor pudor. O encontro também nos trouxe a possibilidade de discutir esses ataques e pensar formas de resistência. A mesa de abertura com Bruno Tito, da Auditoria da Dívida Pública, nos apresentou denúncias graves no âmbito estadual, de desmandos do governo Rui Costa, em especial no trato da educação superior pública na Bahia. Temos a certeza que a luta em defesa dos nossos direitos trabalhistas é cotidiana, constante e bastante ampla e nunca canso de dizer: só a luta muda a vida”.

Entidades que participaram do Encontro de Trabalhadores e Trabalhadoras do Sudoeste da Bahia.

1. Afus, Francisco Carvalho

2. Sinttel - Orlando Helber

3. Núcleo baiano da Auditoria cidadã - Denise Carneiro

4. Afronte - Gustavo Mascarenhas

5. Pstu - Otávio Aranha

6. Levante Popular/Jequié - Larissa Ribeiro

7. Sindjuf/Bahia - Jailson Laje

8. DCE/Jequié - Letícia Araújo

9. Aplb/Delegacia Planalto da Conquista - Maria de Fátima Souza Dias

10. Conselho de Leigos Arquediosese - Marco Luciano

11. Aduneb - Zózina Almeida

12. Oposição Aplb - Hamilton Assis

13. CTB - Cézar Nolasco

14. Adufs - Cleide Mércia

15. PSOL - Edivaldo Pereira

16. Coletivo Tigresas - Odair Campos

17. Coletivo Feminista Ôxe Marias - Erislane Matos

18. CA de História - Luís Alexandre

19. Pastoral da Juventude de Jequié - Caroline Amarães

20. Oposição Correiros - Antônio Roberto

21. MML - Denise Mega

22. Kizomba - Alef Araújo

23. CUT - Edimilson Santos

24. Asufba - Diogo Souza

25. JSB - Lucas Bittencourt

26. FDI e APLB/ Itapetinga - Renan Coelho

27. CSP/Conlutas - Hamilton Assis

28. Intersindical - Enoque Matos

29. DCE/ Jequié - Saulo Alves

30. Frente Brasil Popular e MST - Noeci Salgado