Machismo e racismo enfrentado por mulheres negras é tema de roda de conversa em Jequié

Como parte das atividades do Dia Internacional das Mulheres Negras, Latino-americanas e Caribenhas, o grupo de trabalho de política de classe para questões étnico-raciais, gênero e diversidade sexual da Adusb promoveu roda de conversa na tarde de quarta-feira (14), em Jequié. A atividade contou com a participação de professores e estudantes da Uesb, Coletivo Negra Ouro e Círculo de Mulheres. As relações entre machismo e racismo na vida das mulheres negras trabalhadoras foram abordadas no debate.

A perspectiva classista do debate sobre as mulheres negras foi apresentada pela professora da Uesb, Tânia Torreão, que ressaltou o quanto as obras de Marx e o marxismo abarcam as questões de gênero e das relações étnico-raciais. Tânia ressaltou que o “capitalismo não tem pátria, não tem pudor, não tem constrangimento, não tem gênero. Ele ataca todo mundo”, porém atua de formas diferentes. A maneira como a sociedade capitalista interfere na vida de uma mulher branca não é a mesma de uma mulher negra. A docente acredita que isso se dá porque a classe trabalhadora não é uniforme e essas diferenças são utilizadas pelo capital para expropriar ainda mais a força de trabalho desta parcela da população. Em uma conjuntura de retirada de direitos, portanto, “o capitalismo tende a promover a uniformidade e explorar a particularidade”. Outra discussão abordada por Tânia é a apropriação de certas bandeiras das mulheres negras pelo capitalismo, o que foi considerado um risco, como por exemplo as tentativas de essencializarem as negras pela sua manifestação estética. “Meu cabelo não pode me definir, mas também não pode me essencializar”, contou a professora.

O Coletivo Negra Ouro, representado por Samile Souza, lembrou que o Brasil possui mais de 55 milhões de mulheres negras, que enfrentam enormes desafios diariamente. A relação com o mercado de trabalho foi considerada um dos desafios para essa parcela da população, pois “as mulheres hoje ganham em torno de 30% a menos que os homens e as mulheres negras 6,6% a menos que uma mulher branca”. Samile alertou que não há muita representatividade na política, “o que impede também de ouvir nossas causas, nossas lutas. Hoje no parlamento só existem 10 mulheres negras do total de 513 pessoas”. Outro problema grave enfrentado pelas mulheres negras é a violência, já que dos 4.936 feminicídios, a maior parte deles são de negras e pobres. “É muito difícil você lutar porque as pessoas estão sempre colocando as nossas causas, as nossas pautas como vitimismo e não é dessa forma. Cada um tem sua realidade, porém temos que ajudar um ao outro para nos fortalecermos”, defendeu o Coletivo Negra Ouro.

A necessidade de discutir o feminismo levando em consideração as especificidades das mulheres foi abordada por Adriana Sampaio, membro do Círculo de Mulheres. A origem da criação do dia 25 de julho como Dia Internacional das Mulheres Negras, Latino-americanas e Caribenhas tem essa finalidade. Adriana apresentou também sua pesquisa de mestrado sobre mulheres negras quilombolas em Jequié que possuem em suas vivências práticas de tradição oral. “São mulheres que assim como tantas outras vão no nosso dia a dia nos motivando a continuar a luta por nossos direitos, por melhor qualidade de vida”, contou. O Círculo de Mulheres foi apresentado como um espaço complementar ao dos movimentos sociais, pois “nós começamos a perceber que havia algumas temáticas tão tocantes, tão íntimas, que às vezes a gente não se sentia à vontade para discutir em um coletivo”, além do compartilhamento de saberes como cuidados com o corpo e gravidez, uso de ervas medicinais, dentre outros.