Encontro de Trabalhadores e Trabalhadoras: Painel debate as opressões

Para finalizar o “Encontro de Trabalhadores e Trabalhadoras do Sudoeste da Bahia”, que aconteceu no último 10 de agosto, ocorreu o lançamento de revistas e cartilhas do Andes-SN, CSP-Conlutas e da Adusb, que abordam as aspectos das opressões orientadas a diversos grupos sociais. O machismo, a lgbtfobia e a própria opressão da classe trabalhadora, foram tema da atividade.  

Um dos temas do painel foi a unificação da luta feminista. “Historicamente, as mulheres fizeram parte dos contextos envolvendo as grandes revoluções. Temos as bolcheviques – que há cem anos, começaram a Revolução Russa com a greve das operárias, temos também as sufragistas – que foram as primeiras ativistas do feminismo no século XIX, e que iniciaram um movimento no Reino Unido a favor da concessão, às mulheres, do direito ao voto”, iniciou a Diretora Acadêmica da Adusb Sandra Ramos. “Nesse contexto, é importante estarmos aqui discutindo os avanços das nossas lutas, dentro de um evento com a presença de várias pessoas de diferentes classes e cores. Todo esse retrocesso que estamos presenciando atualmente no Brasil perpassa por todos nós, como as cotas raciais e o aborto, que eram direitos adquiridos, estão sendo revistos”, completou a dirigente sindical.

Entre os assuntos abordados estava o assédio, que tem um grande impacto na vida das mulheres. O Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Questões Étnico-Raciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) da Adusb produziu uma cartilha com o título “A Culpa Não é Sua: Adusb em combate aos assédios moral e Sexual”. O material busca orientar como proceder em caso de algum tipo de assédio dentro dos ambientes acadêmicos a partir de docentes, discentes ou funcionários.

A Coordenadora de área do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, de Pedagogia da UFBA e 2ª Tesoureira da Regional NE III do Andes-SN, Sandra Marinho Siqueira, apresentou a edição de número 63 da revista “Universidade e Sociedade” do Andes-SN, que traz como tema “As Transformações do Mundo do Trabalho e as Opressões de Gênero”. A edição apresenta vários trabalhos acadêmicos discutindo aspectos das opressões sofridas pelas mulheres. Um dos artigos traz, por exemplo, a história das “mães de maio”, que perderam seus filhos, vítimas da violência do estado e do racismo estrutural.  A revista aborda também a exclusão de mulheres negras, trans e LGBTs dos espaços na esfera política e do mercado de trabalho. Discute ainda a exclusão de mulheres dos espaços sindicais. “Há uma construção social e histórica de que uma mulher não é capaz de fazer uma boa análise de conjuntura, geralmente vemos nas mesas de debates, uma presença majoritariamente de homens. Precisamos também mudar isso”, ponderou Sandra Siqueira, que escreveu um artigo para essa edição sobre o impacto da reforma trabalhista na vida das mulheres. “A revista busca valorizar todas as mulheres, fazer com que isso aconteça em todas as esferas é trabalho de todos: homens e mulheres, temos que todos resgatar o feminismo revolucionário e não devemos transformar isso tudo em uma luta sexista, todos precisam ter voz ativa”.

A professora da UESB, membro da diretoria da Adusb e do GTPCEGDS, Patrícia Cara, diz que “gostaria de ter mais presença feminina nos debates, nos encontros, mas infelizmente somos muito criticadas por algumas pessoas quando nos posicionamos duramente”. Patrícia destacou que tentam dar um sentido pejorativo à causa feminista, mas que na verdade mulheres feministas são aquelas que lutam por seus direitos, que “querem conquistar os espaços que a gente não tem”. Patrícia chamou a atenção para o trabalho que o GTPCEGDS-Adusb desempenha no combate às opressões, na luta contra o machismo, o racismo, e toda a forma de violência.

Denise Mega, do Movimento Mulheres em Luta / CSP Conlutas usou o momento para lançar um vídeo que celebra os 50 anos da Revolta de Stonewall e anunciar a cartilha produzida pelo setorial LGBT da CSP-Conlutas. A Revolta de Stonewall ocorreu em 1969 na cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos e foi o estopim para uma série de manifestações protagonizadas pela comunidade LGBT, em protesto contra a política lgbtfóbica das autoridades municipais e policiais.  “Com essa cartilha pretendemos levar esse debate aos nossos sindicatos e movimentos, para que essa luta encontre mais adeptos, contra – principalmente, a lgbtfobia. É necessário que a gente discuta alternativas para que isso acabe”, destacou Denise.

Leia mais sobre Stonewall.

Confira a cartilha LGBT: História de Resistência e luta por direitos. 
Assista ao registro em vídeo da intervenção do setorial LGBT na última RCN. 

A secretária geral da Adusb, Iracema Lima, afirmou que ser mulher e militante em espaços políticos e sindicais não é uma tarefa fácil. Iracema apontou que homens e mulheres que não entendem a importância da luta classista, por vezes tentam desqualificar as mulheres que atuam nestas lutas, dentro dos espaços políticos como “mal-amadas ou mal resolvidas”. Iracema destacou também que a superação do machismo é uma luta das mulheres, mas também dos homens. É uma luta diária e que só será vitoriosa com a participação de todas e todos, sempre numa perspectiva classista.

A presidente da Adusb, Soraya Adorno, concordou com Iracema. “Temos hoje uma diretoria majoritariamente feminina na Adusb, ficamos mais felizes ainda em termos uma equipe com respeito mútuo – entre homens e mulheres, trabalhamos lado a lado, ombro a ombro. No início dos sindicatos, na União soviética, as relações internas tinham os homens ainda muito machistas e as mulheres tinham pouco ou nenhum espaço – sendo que elas também eram sindicalistas. Elas precisavam lutar bravamente em duas frentes: internamente e pelos direitos. Ainda hoje, as nossas entidades sindicais e as nossas representações de classe precisam, internamente, abrir mais espaço para as mulheres”, apontou Soraya.