Future-se é debatido por rodas de conversa como projeto do capital para educação
Roda de conversa em Vitória da Conquista

Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais da Adusb (GTPE) realizou rodas de conversa nos dias 19, 23 e 25 de setembro, nos três campi da Uesb, sobre o Future-se, programa do governo Bolsonaro para privatização da educação superior. O projeto foi considerado como parte da política do capital internacional para a educação e que também traz desdobramentos em âmbito estadual. Os debates foram feitos pelos docentes André Guimarães (Unifap) e Iracema Lima (Uesb).

A universidade deve ser vista dentro do contexto das relações sociais vigentes. Não é por acaso que a educação superior pública é alvo de ataques no processo de contrarreforma do Estado. Na avaliação de André Guimarães, professor da Unifap, o Future-se é expressão desse processo. Prova disso é o seu idealizador, Arnaldo Barbosa de Lima Júnior, responsável pela reformulação do FIES e um reconhecido representante dos interesses mercado.

Roda de conversa em Itapetinga

O Future-se não apresenta diagnóstico sobre a situação das universidades e institutos federais brasileiros e anuncia como eixo central do projeto o empreendedorismo e a inovação. Propõe alteração de 16 leis, inclusive sobre controle de gastos no serviço público e licitações. A ideia é alterar a concepção da autonomia financeira universitária para autonomia de captação financeira, para assim desobrigar o governo federal de manter as universidades. Organizações sociais privadas passariam a gerir as instituições.

Para André, o Future-se “é o projeto mais letal para a universidade pública brasileira na atualidade” e se “trata da destruição da educação pública, da negação da educação como um direito social”. O professor lembrou que muitas medidas nefastas, como o fim da gratuidade da educação superior, não foram implementadas em função da resistência social, portanto é imprescindível lutar contra o Future-se.

Roda de conversa em Jequié

O representante do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), Eriswagner Soares participou da roda de conversa de Vitória da Conquista. A não nomeação da reitora eleita do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Luzia Mota, foi denunciada pelo dirigente sindical. A eleição ocorreu no final do ano passado e o governo Bolsonaro até o momento não concluiu o processo. Para Eriswagner, o Future-se colocará a produção do “conhecimento científico a partir do interesse do capital”. Apontou ainda que o projeto do governo “é de estrangular [financeiramente] as instituições de educação e depois forçar para que elas façam parte do Future-se. [O governo] Diz que é voluntário, mas na prática não é”.

“O modelo de Estado, o modelo de educação cobrado pelo projeto do capital é extensivo às esferas federal e estadual”, ressaltou Iracema Lima, coordenadora do Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais da Adusb (GTPE).

A professora acredita que há uma proposta clara de mercantilização das universidades e institutos federais a partir da administração por organizações sociais e captação de recursos próprios via empresas, o que não está longe do projeto do governo Rui Costa na Bahia. No início de setembro, dando início a um processo de privatização da Educação Básica, foi publicada a portaria 770/2019, com o chamado para organizações sociais interessadas em administrar 120 escolas de Salvador, Alagoinhas, Ilhéus e Itabuna, como parte de um grupo experimental.

“Querem fazer uma experiência de gestão para que professores, diretores e coordenadores pensem apenas no pedagógico. Como se nós não estivéssemos na lógica do capital, submetidos à lógica de gestão financeira que estes irão impor a essas escolas também”, alertou Iracema. A docente questionou ainda que “se é uma proposta de projeto piloto, quem me garante que não fará com as demais escolas da educação básica e com a educação superior? ”. Portanto, a população baiana deve estar atenta e lutar contra todos esses projetos de privatização.