Pressa de Bolsonaro e estados para por fim à quarentena ameaça milhares de vidas. Eles não se importam.

O número de mortes por Covid-19 no Brasil tem dobrado a cada cinco dias, segundo monitoramento da Fiocruz, e o país ainda não chegou ao pico dos casos, afirmam especialistas. Ainda assim, a política de Bolsonaro e seu novo ministro da saúde, bem como de governadores, é acabar o quanto antes com a política de isolamento social.

Em sua primeira entrevista após ser anunciado como ministro da Saúde, nesta quarta-feira (22), Nelson Teich prometeu anunciar até a próxima semana um “plano de saída”, com diretrizes para que os estados acabem com as políticas de isolamento social. Apresentando dados imprecisos e afirmações contraditórias, repetiu a lógica defendida por Bolsonaro insistentemente desde o início da pandemia: o país “não pode ficar parado”.

Prometeu recuar se houver erro de cálculo. Em outras palavras, voltar atrás se o número de casos explodir, o sistema de saúde entrar em colapso e as mortes dispararem. Nelson Teich – que já declarou que diante da falta de recursos idosos devem morrer para que jovens tenham tratamento (leia aqui)- se mostrou disposto a pagar para ver. Um absurdo!

O último informe oficial sobre a pandemia no Brasil dá conta de 2.906 mortos e mais de 45.757 casos. Mas é notório que os números estão subnotificados. Além disso, a falta de leitos de UTI, o colapso da rede de saúde e cenas assustadoras de covas coletivas sendo abertas para sepultar mortos já é uma realidade em vários estados. O novo ministro prefere desconsiderar esta situação.

Colapso e abertura nos estados

São Paulo está com 73% dos leitos de UTI ocupados. Manaus está em colapso, com valas coletivas sendo abertas para enterrar mortos. Antes da pandemia eram 30 mortos por dia. Hoje, os sepultamentos passam de 100. Outros três estados também já enfrentam situação crítica: Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco.

Ainda assim, todos os governadores falam no fim da quarentena. Pressionados por setores empresariais, alguns estados já anunciaram o afrouxamento das restrições de circulação, como Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.

Em São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta (22) que, na próxima semana, serão divulgadas as regras para o encerramento gradual do isolamento social, a partir do dia 11 de maio. Entretanto, a cidade paulista de São José dos Campos, também governada pelo PSDB, chegou a publicar decreto na semana passada para liberar o comércio a partir do dia 27, mas a Justiça barrou a medida.

Abertura perigosa

O monitoramento da Fiocruz, que revela que o número de casos no Brasil está dobrando a cada cinco dias, mostra também que nos Estados Unidos essa duplicação ocorre a cada seis dias, e na Itália e na Espanha, a cada oito.

Em entrevista ao Estadão, o epidemiologista Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde, da Fiocruz, afirmou: “a nossa situação hoje é pior do que a de Itália, Espanha e Estados Unidos. Por isso, o número de mortes está dobrando em um espaço de tempo menor”.

A nota técnica do órgão alerta para a interiorização da epidemia, que está chegando de forma acelerada aos municípios de menor porte do País. Dentre os municípios com mais de 500 mil habitantes, todos já apresentam casos da doença.

Para o epidemiologista, a decisão de suspender o isolamento social em municípios que não têm nenhum caso da doença registrado é extremamente temerária, sobretudo em um momento de aumento da velocidade da disseminação da doença. “Estão tomando uma decisão muito arriscada”, disse. O pesquisador lembrou que, mesmo que não haja registro oficial, a doença já pode estar circulando.

Em defesa da vida, quarentena geral já!

A CSP-Conlutas defende que em defesa da vida é preciso decretar quarentena geral até que a pandemia seja, de fato, controlada no país.

 “É dever do governo Bolsonaro e dos governos estaduais tomarem medidas primeiramente para defender a vida. Portanto, é preciso quarentena geral já em todo o país”, afirma o dirigente da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas Luiz Carlos Prates, o Mancha.

 “Para garantir isso, é dever dos governos garantir o sustento das famílias e condições para que as pequenas empresas e comércios mantenham os empregos. Isso pode ser feito. Basta que o governo pare de privilegiar os banqueiros como está fazendo. Que destine o valor de R$ 1,2 trilhão dado de presente aos bancos e 40% do PIB desviados para pagar a ilegal Dívida Pública para garantir o sustento dos trabalhadores, mais pobres, pequenos comerciantes e microempreendedores durante esse período”.

Via cspconlutas.org.br