Mesmo infectado pela Covid-19, Bolsonaro segue disseminando informações erradas sobre pandemia

O presidente de ultradireita Jair Bolsonaro anunciou nesta terça-feira (7) estar contaminado pela Covid-19. Em entrevista a veículos de imprensa e, posteriormente, por meio de suas redes sociais, voltou a repetir informações errôneas sobre a pandemia, defendeu o uso da hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada cientificamente no combate ao novo coronavírus, e criticou as quarentenas ocorridas pelo país.

 “Estou perfeitamente bem”, afirmou em entrevista para apenas três emissoras de TV: CNN, Record e TV Brasil. Informou que apresentou leve indisposição, com dores musculares, febre baixa e tosse e destacou que havia começado a tomar a hidroxicloroquina.

Em vídeo divulgado em suas redes sociais ao longo do dia apareceu tomando uma pílula que disse ser a terceira dose do remédio. “Com certeza está dando certo”, disse. A droga, contudo, não é aprovada cientificamente no uso contra a Covid, além de poder provocar fortes efeitos colaterais. Bolsonaro chega a reconhecer esse fato, mas disse que “confia” nela.

Voltou a criticar a realização de quarentenas pelo país, para garantir o isolamento social. Defendeu cuidados com as pessoas mais idosas, mas disse que os mais jovens “podem ficar tranquilos” por terem chances “próximas de zero” de manifestar um quadro grave da doença, o que não é verdade, como revelam as trágicas estatísticas no país.

O descaso com a pandemia

Lamentavelmente, Bolsonaro continua com a linha de minimizar a doença. Nos últimos dias, seguiu sua rotina de provocar aglomerações, se reunir com várias pessoas sem o uso de máscara e atacar as medidas de isolamento social. Ontem ao falar com jornalistas chegou, inclusive, a ficar sem máscara e não avisou aos profissionais que estava contaminado com antecedência.

No início deste mês, ao sancionar uma lei aprovada pelo Congresso, Bolsonaro vetou o uso de máscaras em locais públicos em todo o país, em estabelecimentos como lojas, fábricas, igrejas, escolas e presídios. Tentou justificar que o texto incorria em “possível violação de domicílio”. Mas, na prática, trata-se do desprezo pela prevenção à Covid-19 já demonstrado inúmeras vezes por Bolsonaro e integrantes do seu governo.

O veto ainda pode ser derrubado pelo Congresso e, na prática, também pode ter efeitos limitados, uma vez que o STF garantiu autonomia a governadores e prefeitos para decidir sobre ações de combate à pandemia. Ainda assim, demonstra a política genocida de Bolsonaro.

 “A reação de Bolsonaro após anunciar estar contaminado demonstrou que ele segue tratando a pandemia do coronavírus como uma gripezinha e disseminando fake news em relação à doença”, avalia a dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas e trabalhadora da Saúde em Natal (RN) Rosália Fernandes.

 “Sorte a dele ter apresentado até agora sintomas leves da doença, ao contrário dos mais de 65 mil mortos pela Covid-19 no país e outros milhares que passam dias a espera de um respirador, estão sofrendo nas UTIs ou nos corredores dos hospitais, pois não há vagas”, continuou Rosália.

 “Não vamos admitir que depois de dizer “e daí” diante das mortes por Covid, Bolsonaro continue minimizando a gravidade da pandemia, caso tenha apenas os sintomas leves,  e que irresponsavelmente influencie a população a usar cloroquina, quando vários estudos já demonstraram que ela não é eficaz e pode até matar”, afirma ainda a dirigente.

 “O combate efetivo à pandemia só vai se dar quando os governos decretarem uma quarentena geral, de verdade, em todo país, deixando apenas o que for essencial em funcionamento. Do contrário, seguiremos nesse círculo vicioso no qual a pandemia não cessa, pois não há política séria de combate à doença, o que também agrava a crise na economia. Por isso, defendemos quarentena geral já para todos com renda digna a trabalhadores e pequenos proprietários”, concluiu Rosália.

As frases de Bolsonaro ao longo do dia após informar que está com Covid:

 “Esse vírus é quase como uma chuva, vai atingir você”.

 “Alguns tem que tomar um maior cuidado com esse fenômeno. Acontece, infelizmente acontece. Repito, as pessoas de certa idade, que têm problema de saúde ou comorbidade, uma vez contaminada a chance de óbito aumenta bastante. Isso tem que ser evitado, [por isso] a gente fala do isolamento vertical”.

 “Vamos tomar cuidado, em especial os mais idosos, que têm comorbidade. E os mais jovens, tomem cuidado. Mas se forem acometidos do vírus, fiquem tranquilos porque, para vocês, a possibilidade de algo mais grave é próximo de zero.”

 “Se não tivesse feito o exame e tivesse tomado a hidroxicloroquina como preventivo, como muita gente faz, eu estaria trabalhando até…obviamente poderia estar contaminando gente, essa foi a minha preocupação de buscar fazer o exame na própria segunda feira para evitar o contágio de terceiros.”

 “Sabemos que hoje em dia existem outros remédios que podem ajudar a combater o coronavírus, sabemos que nenhum tem a sua eficácia cientificamente comprovada, mas mais uma pessoa em que está dando certo. Eu confio na hidroxicloroquina. E você?”

Com informações Estadão e UOL

Via cspconlutas.org.br