A pergunta que Bolsonaro se nega a responder: por que Michele recebeu R$ 89 mil do Queiroz?

A brutal reação de Bolsonaro à pergunta de um repórter do jornal O Globo no último domingo, ao dizer “vontade de encher tua boca com porrada, tá? Seu safado”, ganhou enorme repercussão e desencadeou notas de repúdio. De fato, mais uma demonstração do perfil antidemocrático deste presidente de ultradireita.

Entretanto, o que o episódio também revela é que quase 20 dias depois de vir à tona que a primeira-dama Michele Bolsonaro recebeu em sua conta bancária nada menos que 27 depósitos de Fabrício Queiroz e da esposa dele, num valor total de R$ 89 mil, Bolsonaro não conseguiu dar explicações convincentes à suspeita operação.

Ao contrário, a reação descontrolada do presidente demonstra que “tem coelho nesse mato”, como diz o ditado popular.

Não é a toa que a pergunta viralizou nas redes sociais. No Twitter, ela foi repetida por personalidades públicas e população em geral, mais de 1 milhão de vezes em menos de 24 horas, chegando a ser o assunto mais discutido na plataforma no Brasil.

Ontem, na cerimônia fake “O Brasil vencendo a Covid”, Bolsonaro novamente agrediu a imprensa e chamou de “bundões” a categoria. Mas, ainda segue sem responder a pergunta: por que Michele recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?

Os indícios de desvio, lavagem de dinheiro e organização criminosa

Os 27 depósitos na conta de Michele só vieram à tona a partir da quebra do sigilo fiscal do casal Queiroz que está com prisão domiciliar decretada.  Segundo reportagens da revista Crusoé, Folha de S.Paulo e G1, divulgadas no início de agosto, os dados demonstram que Queiroz depositou 21 cheques no total de R$ 72 mil, entre 2011 e 2016, e Márcia Aguiar depositou outros seis cheques, no valor de R$ 17 mil, entre janeiro de junho de 2011. Tudo direto na conta da primeira-dama.

Antes dessa quebra de sigilo, já se sabia que Michele tinha recebido R$ 24 mil de Queiroz. Na época, Bolsonaro deu a desculpa esfarrapada de que o dinheiro era o pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil que havia feito a Queiroz. Contudo, não há comprovante do empréstimo, da saída deste dinheiro de uma conta bancária ou algo neste sentido. Além disso, R$ 89 mil é o dobro do suposto empréstimo e a família Bolsonaro não deu até agora uma explicação convincente.

Os depósitos na conta de Michele são apenas mais um dos fatos suspeitos que rondam a família Bolsonaro, assombrada cada vez mais pelo esquema da rachadinha de Flávio e Fabrício Queiroz (que está em prisão domiciliar e com tornozeleira eletrônica), e o envolvimento com esquemas criminosos das milícias do Rio de Janeiro.

Em entrevista ao jornal O Globo, Flávio Bolsonaro reconheceu pela primeira vez que Queiroz pagava suas contas. Tentou dizer que isso é normal. Só não explicou até hoje de onde saia os depósitos ou pagamentos, em geral, sempre feitos em dinheiro vivo.

Queiroz e Flávio podem vir a ser denunciados pelos crimes de peculato (desvio de recurso público), lavagem de dinheiro e organização criminosa. No momento, porém, o caso está em suspenso à espera de uma definição do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre se Flávio tem ou não direito a foro privilegiado.

Em meio às investigações do esquema de rachadinha, outro fantasma a assombrar Flávio Bolsonaro é o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, assassinado na Bahia, em fevereiro deste ano, em uma operação também suspeita e sob investigação.  Adriano era um dos criminosos mais procurados no RJ, apontado como chefe da milícia conhecida como Escritório do Crime e autor de vários homicídios. Inclusive, investigado por ligação com a execução da vereadora do PSOL Marielle Franco, em 2018.

Em depoimento ao MP, no mês de julho, Flávio admitiu que Adriano foi seu instrutor de tiro e que o conheceu por intermédio de seu ex-assessor Fabrício de Queiroz, quando ambos eram integrantes do Bope, de onde seriam expulsos posteriormente.

Em seu mandato na Alerj, Flávio Bolsonaro empregou Danielle Mendonça, ex-mulher de Adriano, e Raimunda Magalhães, mãe do miliciano morto. Em 2005, o então deputado Flávio Bolsonaro condecorou Adriano na Alerj com a Medalha Tiradentes, maior honraria do estado. Na época, o ex-policial cumpria pena e já havia sido preso preventivamente por homicídio.

Leia: Bolsonaro deve explicações sobre 27 cheques depositados por Queiroz na conta da primeira dama Michele

Via CSP-Conlutas