Continuamos trabalhando, mas retorno presencial, somente com vacinação para todas e todos

Na segunda-feira, 08/02, os sindicatos docentes de Vitória da Conquista: SIMMP, APLB, SIMPRO e ADUSB, que representam os/as docentes das redes públicas da educação básica municipal e estadual, da rede privada da educação básica e da rede pública estadual do ensino superior, reuniram-se para debater a questão do retorno das atividades presenciais nas escolas e universidades. Os professores e as professoras, que seguem trabalhando desenvolvendo suas atividades de forma remota, entendem a importância do retorno presencial, mas compreendem também que mais importante é garantir a vida de todos e todas. Confira a nota elaborada:

Toda vida importa. Infelizmente no Brasil o enfrentamento à pandemia se deu e se dá numa lógica inversa a essa, numa lógica negacionista, de desprezo pela vida, bem representada pelo governo federal de Bolsonaro, mas, infelizmente, reproduzida em maior ou menor grau também por governos estaduais e municipais.

Ultrapassamos a triste marca de mais de 230 mil mortes, com mais de 1 mil mortes por dia, retomando, infelizmente, o patamar de pico de julho/2020[1]. Quantas dessas preciosas vidas poderiam ter sido salvas, não fosse a política negacionista que domina, em maior ou menor grau, as esferas governamentais no Brasil, não podemos precisar. Estamos longe, portanto, de uma situação de "tranquilidade" ou de queda no número de casos.

Apesar disso, o que vemos no Brasil é um movimento temerário de relaxamento das medidas de prevenção e na fiscalização de sua aplicação, situação da qual Vitória da Conquista é um, péssimo, e mal exemplo. Seguindo esse rastro da temeridade, aumenta a pressão pela reabertura das escolas. Um movimento que, ainda que escondido atrás de uma barreira de mães e pais, é evidentemente "puxado" pelo setor privado, sempre de olho primeiro no lucro.

Os defensores da reabertura das escolas se apressam em citar exemplos de países estrangeiros. Contudo, muitos destes países, mesmo estando num estágio mais avançado de vacinação (Alemanha, França, Itália, Reino Unido[2] etc), estão atualmente com suas escolas fechadas. Reflexo da situação crítica de avanço da pandemia e disseminação de novas variantes.

No Brasil a experiência com a reabertura de escolas é escassa, mas, ainda assim, preocupante. O estado do Amazonas foi o primeiro a retomar atividades presenciais em escolas no ano passado, ainda no mês de agosto. Após 20 dias de reabertura das escolas, o estado já registrava 342 (sim, mais de trezentos) profissionais da educação infectados/as com a COVID-19[3],[4]. Apesar das denúncias, nada se fez. O desdobramento disso é o triste e cruel quadro de calamidade que infelizmente aflige toda a população amazonense, vítima das políticas negacionistas e genocidas de governos das três esferas. Mas, vítima também da parcela da população que infelizmente se deixou levar por esse discurso negacionista.

Em Campinas-SP, menos de 10 dias após a retomada de atividades presenciais no estado no dia 25 de janeiro de 2021, ao menos três escolas, curiosamente, particulares, foram tomadas por surtos de COVID-19 e obrigadas a fechar[5]. Pergunta-se quantas pessoas foram infectadas, dentro e fora das escolas, nestes 10 dias, até que o surto fosse identificado.

Talvez por conveniência os defensores da retomada presencial das aulas prefiram citar os exemplos distantes e ignorar a realidade local. O fato é que, numa cidade em que o transporte coletivo está entregue ao caos já anteriormente à pandemia, em que a prefeitura mostra incapacidade de fiscalizar o cumprimento dos protocolos de segurança nos estabelecimentos comerciais de todos os setores, não é possível supor, por maior que seja o nosso otimismo, que não se repetirão aqui em Vitória da Conquista situações tristes como as ocorridas em Campinas-SP ou, muito pior, no estado do Amazonas.

Nós, professores e professoras, e demais trabalhadores da educação, não nos recusamos a trabalhar. Muito pelo contrário. Seguimos trabalhando de forma remota, aliás, muito mais do que o fazíamos no ensino presencial, ao contrário do que dizem os detratores e inimigos da educação. Sabemos que o ensino remoto e suas variações possuem muitos problemas e fragilidades, mas entendemos que mais frágil é a nossa vida, a dos demais profissionais ligados à educação, dentro e fora das escolas, de nossos estudantes e dos nossos familiares. São cerca de 4(quatro) mil professores e em torno de 40 mil alunos, só na educação infantil e ensino fundamental da rede municipal de ensino. Se juntarmos os contingentes da rede estadual e rede particular de ensino, chegaremos a números muito mais expressivos e preocupantes quanto aos riscos de avanço da pandemia do coronavírus.

E não julgamos que nossas vidas são mais importantes de quem quer que seja. Entendemos que o retorno do ensino presencial nas escolas, no contexto negacionista em que vivemos no Brasil, representa a possibilidade de um grave, e absolutamente desnecessário, aumento do risco para toda a parcela da classe trabalhadora que hoje já é obrigada a se arriscar todo dia e que já é a maior vítima dessa pandemia. Não há motivo para, só para atender especificamente aos interesses de lucro do setor privado, correr o risco de agravar ainda mais a situação que já vivenciamos no Brasil. A prioridade deve ser sempre a preservação da vida.

Seguimos trabalhando pela educação!

Escolas fechadas, vidas preservadas!

Retorno presencial, só após a vacinação para todas e todos!

 

Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista - SIMMP

Sindicato os Professores do Estado da Bahia - SINPRO

Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia - APLB

Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - ADUSB

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[1] https://ourworldindata.org/coronavirus/country/brazil?country=~BRA, consultado em 9 de fevereiro de 2021

[2] https://ourworldindata.org/grapher/school-closures-covid, consultado em 9 de fevereiro de 2021.

[3] Notícia no portal UOL, "Amazonas registra 342 professores com covid vinte dias após volta às aulas" https://tinyurl.com/d5b6bcwa, consultada em 9 de fevereiro de 2021.

[4] Notícia no portal Estadão, "Após retomar aulas presenciais, AM tem 7,6% de profissionais da educação infectados pela covid", https://bit.ly/3qg7eB7, consultada em 9 de fevereiro de 2021.

[5] Notícia no portal CNN Nacional "Escola de Campinas tem 42 casos de Covid-19 e fecha após volta às aulas", https://bit.ly/39ZQiZE, consultada em 9 de fevereiro de 2021.