Doria estende fase vermelha para todo o estado, mas também mantém política genocida com escolas abertas

Diante do colapso iminente da rede de saúde no país nas próximas semanas, o governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou, nesta quarta-feira (3), a ampliação da Fase Vermelha para todo o estado a partir da meia-noite do próximo sábado (6). A medida valerá até o dia 19 de março.

Nesta fase, só funcionam os serviços considerados como essenciais. Ficam proibidos o funcionamento de shoppings, comércio de rua, galerias, consumo local em bares e restaurantes, salões de beleza e barbearia, eventos, convenções e atividades culturais, academias e demais atividades que gerem aglomerações.

Contraditoriamente, as escolas públicas e privadas serão mantidas abertas.

Uma medida absurda e irresponsável, afinal, isso significa manter milhões de pessoas em circulação, professores e alunos em escolas, sem infraestrutura e sem protocolo sanitário adequado. Um risco não só à comunidade escolar, mas também aos familiares em suas casas.

São Paulo prevê o esgotamento completo da oferta de leitos nos hospitais do estado em duas semanas. No estado mais rico do país, já morreram 60.381 pessoas até a manhã desta quarta-feira. Hoje, 74,3% das vagas no estado estão ocupadas, índice que sobe a 75,5% na capital.

Em todo o país, de acordo com dados das secretarias estaduais de saúde, as taxas de ocupação nos hospitais são de, pelo menos, 80% em 19 estados. Em nove regiões, passa de 90%. Desde o dia 21 de janeiro, a média móvel de mortes tem se mantido acima de 1.000 pessoas por dia.

Em vários estados, a situação já é pior do que o pico da pandemia no ano passado e o país superou a marca de 257 mil óbitos. Neste terça, foi registrado o maior número de mortes em 24h desde o início da pandemia: 1.726 vidas perdidas.

Lockdown, já! Escolas fechadas, vidas preservadas!

Segundo levantamento da Apeoesp, desde que as atividades presenciais foram determinadas nas escolas, já foram contabilizados 1.780  casos de professoras e professores com Covid-19 em 816 escolas. Pelo menos 20 professores já perderam a vida. Em Campinas, uma estudante de apenas 13 anos morreu.

Médicos e sanitaristas do Centro de Contingência no combate à Covid-19 defenderam um duro aumento nas restrições e adoção de lockdown, mas Doria e o secretário da Educação Rossieli Soares se negam a adotar a medida.

O secretário de Saúde do estado chegou a declarar que as escolas também deveriam ser fechadas, em razão da gravidade da situação. Mas, o governo tucano insiste em colocar as vidas de professores, alunos e familiares em risco.

“Não tem mais como justificar escolas em SP abertas no meio da pandemia fora de controle e um colapso iminente do sistema de saúde do estado mais rico do Brasil. Escolas tem que fechar imediatamente para evitar uma tragédia maior”, declarou Miguel Nicolelis, um dos neurocientistas mais conceituados do país, professor catedrático da Duke University (EUA).

A professora da rede estadual e conselheira da Apeoesp em São José dos Campos Cleusa Trindade denuncia que a decisão de Doria é criminosa. “As escolas permanecerão abertas, porém se o professor adoecer não terá vaga nos hospitais. Estão lotados. Doria vai contra o posicionamento do secretário de saúde e do Centro de Contingência que reúne mais de 20 profissionais da área da saúde. Ou seja, Doria age como Bolsonaro, contra a ciência, a vida”, afirmou.

Conselhos de Escolas devem fechar unidades

Para Joaninha Oliveira, professora aposentada e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Bolsonaro, Doria e todos os governantes que insistem em manter escolas abertas neste pior momento da pandemia só estão agindo para favorecer os empresários do setor de Educação que só pensam em lucro.

“É uma política genocida, pois as escolas não são uma ilha na pandemia. Ao contrário, são focos de grande circulação de pessoas e, portanto, do vírus. Mas, para seguir no projeto de educação cada vez mais privatizada, para esses governantes tudo bem que uma parte da população morra”, denunciou.

Joaninha cita também a situação em outros estados. Em Santa Catarina, há pessoas morrendo na fila de espera por uma vaga na UTI. Duzentas pessoas aguardam uma vaga em unidades de terapia intensiva e o governo de Carlos Moisés (PSL) mantém escolas abertas.

Em todo o país, professores estão em luta para que haja uma greve sanitária pela vida.

“Defendemos que os Conselhos Escolares se reúnam e determinem o fechamento das escolas, já que os governos querem impor essa política genocida. A vida vale mais que o lucro dos donos das redes privadas e grandes empresários”, defendeu a professora Flávia Bischain, também integrante da SEN da CSP-Conlutas.

“Que as escolas sejam fechadas até que haja vacinação para toda a população e que os governos garantam as condições para professores e alunos realizarem o ensino remoto. Além disso, cobramos auxílio emergencial, auxilio merenda e apoio psicológico aos estudantes e professores”, concluiu.