Contas de gás e luz comprometem quase metade da renda de 46% dos brasileiros, revela pesquisa

Os aumentos nos preços do gás de cozinha e da conta de luz ocorridos ao longo de 2021 impactaram brutalmente a vida dos brasileiros, principalmente dos mais pobres. É o que revela uma pesquisa encomendada pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade) ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria).

Entre os dias 11 e 17 de novembro, o Ipec ouviu, em visitas domiciliares, 2.002 pessoas com mais de 16 anos de idade em todas as regiões do país. Confira a íntegra da pesquisa AQUI.

O resultado revela que os gastos com gás e energia elétrica corroeram metade, ou mais, da renda de 46% das famílias, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.

Quanto menor a renda familiar, maior é a proporção da renda utilizada para essas despesas. Segundo 10%, quase toda a renda foi comprometida com os dois itens.

Substituição do gás de cozinha pela lenha

Entre as fontes de energia (elétrica, gás encanado e botijão), o aumento do botijão de cozinha foi o que mais pesou no bolso para 52% dos entrevistados. Para 42% foi a conta de energia elétrica.

Com o preço do botijão passando dos R$ 100 em várias regiões do país, um em cada dez brasileiros passou a usar lenha para cozinhar, 6% passaram a usar carvão, e 4% o fogão elétrico.

Os que passaram a utilizar a lenha são aqueles mais vulneráveis: classe D/E (17%); renda familiar de até 1 SM (15%) e escolaridade de Ensino Fundamental (14%).

Desistência de itens básicos para pagar conta de luz

Para 63% das famílias, o valor da conta de luz está impactando “muito”. Uma percepção exposta principalmente pelas mulheres (68%) e por aqueles que ganham até 1 Salário Mínimo.

Para conseguir pagar a conta, a principal medida adotada pelas famílias foi a redução de gastos com bens de consumo, como roupas, sapatos e eletroeletrônicos. 40% dos entrevistados declararam este tipo de restrição.

Para 22% foi necessário reduzir ou deixar de comprar itens básicos, como arroz, feijão, café, açúcar, etc. 16% citou a redução na aquisição de produtos de limpeza e 13% remédios e medicamentos.

Na tentativa de baratear a conta, metade dos brasileiros adotou medidas como tomar banhos rápidos e desligar as luzes da casa.

Outros dados

A pesquisa “Crise energética” também questionou os entrevistados sobre a crise hídrica no país, a percepção sobre o futuro em relação a tema como abastecimento de energia e água e a resposta dos governos.

Mais da metade dos brasileiros (52%) declarou ter sofrido interrupção no fornecimento de água nos últimos 12 meses. No Nordeste foram 61%. 78% se preocupam com o risco do país viver uma crise de falta d´água. Em relação a uma crise energética, o tema preocupa “muito” 70% dos entrevistados.

Outros dados da pesquisa apontam que a maioria considera que há impacto das mudanças climáticas no regime de chuvas e que a população é favorável ao uso de fontes de energias renováveis, pois acreditam que são menos poluentes, contribuem para a geração de empregos e pode ser mais barata.

A culpa é de “Bolsocaro”

Os entrevistados reconhecem o governo federal e o governo do estado como os principais responsáveis pelo aumento no valor da conta de luz e que também que há descaso no enfrentamento da crise hídrica (70%).

E não é à toa.  De fato, essas duas despesas apontadas pela pesquisa do Ipec como vilãs no orçamento das famílias são administradas pelo governo federal, que dita a política de reajustes de energia, bem como no preço do gás, através da Petrobras.

Desde setembro do ano passado, o governo estabeleceu a bandeira tarifária de “escassez hídrica” nas contas de luz, que criou uma taxa de R$ 14,20 a cada 100 kWz consumidos e que deve vigorar até abril deste ano.

Já o gás de cozinha, fruto da política de PPI (Preço de Paridade de Importação) da Petrobras, teve aumento de 35,8%, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo).

CSP-Conlutas com informações do Instituto Clima e Sociedade