Roda de Conversa movimenta os três campi da UESB.

Aconteceu na manhã de 21 de maio, simultaneamente nos três campi, o encontro “Roda de Conversa: Em Defesa da Autonomia Universitária”. Acompanhados de um variado café matinal – além de um espaço reservado para as crianças – os professores se manifestaram em apoio do direito dos cidadãos à universidade pública e gratuita. A autonomia e a liberdade acadêmica, que incluiu desenvolvimento científico, foi um tema recorrente em praticamente todas as falas.

No campus de Vitória da Conquista, o evento aconteceu em frente ao portão da entrada principal da UESB. Em sua fala de abertura, a professora Sandra Ramos - do comando de greve, disse que “nossa pauta é legítima e não temos condições de fazer ensino, pesquisa e extensão sem o apoio mínimo. Um dos pontos de nossa conversa de hoje é sobre o governo que tem mexido em nosso estatuto, onde deveríamos ter a preservação de nossos direitos. Por exemplo, a carga horária aumentada inviabiliza os professores de fazer extensão, não podemos levar os projetos para a comunidade. Lembrando também, que nossos laboratórios estão ficando sucateados. Além de tudo, os estudantes precisam de melhorias no orçamento, para a manutenção da sua preservação nas salas de aula”.

Entre os pontos de pauta, foi discutida a atual situação da greve. A professora Luciana Correia, do curso de história da UNEB – Campus de Caetité, está indignada: “Já são dois meses de salários cortados e o que nos deixa mais chateados são as falas do governador Rui Costa, que desconhece as nossas condições de trabalhadores e nos trata com ironia, cortando os salários e dizendo que foi feito isso para que não tenhamos a sensação de estarmos de férias. Com essa atitude, ele foi ilegal e desrespeitoso, afinal a greve foi decretada legalmente. O que temos para dizer neste evento de hoje é que a resistência é necessária, pois o governo se nega a conversar e negociar há muito tempo, que implementa cortes seguidos na educação, é uma gestão que mentiu em sua campanha eleitoral. Quando dizia que a prioridade seria a educação”.  Também do curso de história da UNEB – Campus de Caetité, o professor Nivaldo, concorda com a colega: “Em greves passadas, em outros governos, tinha muito mais possibilidade de diálogo. E hoje, a gente não consegue entender que um governo que é do Partido dos Trabalhadores se fecha tanto, um governador que foi sindicalista, que já participou de tantas greves, atualmente não abre espaço para o diálogo. Já são dois meses sem salários, há casos que o casal trabalha como professores universitários, e ambos estão sem salários. As famílias estão passando por dificuldades, fazendo empréstimos, precisando se virar para sobreviver a esse processo de greve em um governo contraditório que não quer nos receber e nem negociar nenhuma das reivindicações dos trabalhadores”.

Com essa resistência, comentada pela professora Luciana, a Bahia mostra estar na linha de frente em defesa das universidades estaduais, lembrando que é estratégico e fundamental que o governo deve investir na educação pública e de qualidade. A valorização da educação é de suma importância para uma sociedade mais justa e pensante. De acordo com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a partir de dados publicados pela Clarivate Analytics, no Brasil, as universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa científica.

A pluralidade do espaço acadêmico une professores também de outros países. Samuel Hicías Carvajal Ruíz, professor doutor da Universidad Nacional Experimental Simón Rodríguez, de Caracas – Venezuela, falou sobre sua experiência de luta em seu país natal: “Essa bandeira de luta para nós venezuelanos, faz todo o sentido, e nos solidarizamos com a batalha dos professores em defesa de um ensino público e de qualidade aqui do Brasil. Entre outras razões que me faz solidarizar, é que tem mais de vinte anos que a Constituição da República da Venezuela é um instrumento jurídico que precisamente defende essa conquista da educação pública, gratuita e qualidade. A Venezuela levantou um muro de contenção contra as pretensões privatizadoras, assim, conseguimos uma conquista histórica, mantendo a educação inclusiva e gratuita. Entendo e apoio a luta do Brasil, contra esse tipo de política agressiva que vai contra essas conquistas dos brasileiros. É uma luta que não está circunscrita a um grupo, muito pelo contrário, é uma conquista do mais puro e elevado espírito de liberdade e da memória de um povo, de todos os povos da América Latina. Já que essa vitória nos traz uma vida melhor e um viver bem”.

As atividades em Itapetinga tiveram início com a roda de conversa na sede da ADUSB, acompanhado de uma confraternização e troca de informações entre os professores. Logo após essa etapa do encontro, o professor do curso de Economia Marcos Tavares apresentou dados orçamentários das UEBA e debateu os impactos da política do governo Rui Costa de cortes e contingenciamentos no orçamento das Universidades.

Já no campus de Jequié, o encontro ocorreu no portão secundário da UESB. Com o fechamento da entrada e a fala inicial do vice-presidente da ADUSB Hayaldo Copque, os professores passaram a discutir sobre o tema da roda de conversa, gravitando no fundamental destaque à importância da autonomia universitária para o desenvolvimento cultural, econômico e social do país.

A Roda de Conversa fez parte da agenda de mobilização da greve e foi uma ótima oportunidade para troca de informações e experiências, além de aproximar ainda mais os professores que lutam por uma educação de qualidade e gratuita.