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Em atividade proposta pelo Grupo de Trabalho em Política Educacional (GTPE), a Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Adusb) promoveu, na véspera do Dia da Consciência Negra, uma mesa abordando o tema “A influência do neoconservadorismo na educação e na formação docente”. O evento contou com a participação dos professores doutores Ruy d’Oliveira Lima (Uneb) e Elson Moura (Uefs), que trouxeram uma análise densa e articulada sobre o cenário político e pedagógico atual.
O debate, conduzido pelo professor Pyerre Fernandes, integrante do GTPE/Adusb e diretor da seção sindical em Jequié, iniciou com a leitura de um poema de Maya Angelou, em homenagem à luta da população negra, reforçando o tom de resistência e memória que permeou a discussão.
A arquitetura do neoconservadorismo e seus impactos
O professor Ruy d’Oliveira Lima traçou um panorama histórico e conceitual, ligando o neoconservadorismo, que surge nos EUA nos anos 60/70 com a crítica ao progresso social, à sua manifestação no Brasil. Segundo o professor, o neoconservadorismo, aliado ao neoliberalismo, busca perpetuar uma hegemonia global, dominando as mentes.
O neoliberalismo substitui o "homem econômico" pelo "homem manipulado", focado em métricas como accountability e avaliação de desempenho. O professor Ruy destacou que o fracasso individual é naturalizado: “o fracasso é só seu, segundo diz o estado”. O avanço do fundamentalismo cristão evangélico e do neopentecostalismo se articula com essa agenda, defendendo a bíblia como referencial pedagógico e pautas morais tradicionais.
Utilizando análise de redes, o professor Ruy ilustrou como o Movimento Nacional pela Base Comum, financiado por fundações privadas (como a Lemann), influencia as políticas educacionais, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), determinando o currículo da educação básica.
A luta de classes na política e na educação
O professor Elson Moura Dias Júnior desenvolveu o debate na perspectiva do Materialismo Histórico-Dialético. Para ele, o neoconservadorismo é a superestrutura que reflete e justifica a política econômica anticíclica do capital, que avança sobre a classe trabalhadora com a uberização e a retirada de direitos (como a PEC 32/2020, atual PEC 38/2025, da contrarreforma administrativa).
O professor Elson argumentou que as ideias neoconservadoras, como a defesa da “família tradicional”, não são aleatórias. Citando Silvia Federici, ele mostrou como a "pauta de costumes" historicamente serve ao capital para controlar a reprodução da força de trabalho. Na educação, o neoconservadorismo se manifesta na política de esvaziamento do rigor científico, no pragmatismo e no modelo de formação centrado no “aprender a aprender”. O professor criticou a Resolução 04/2024 do CNE, que impõe estágio supervisionado desde o primeiro semestre, usando o estágio para compensar as lacunas da escola pública.
Reafirmou a defesa inegociável da laicidade do Estado e da universidade como o único espaço social destinado a transmitir o conhecimento científico e filosófico (episteme e sophia), diferenciando-o do senso comum e da fé. A aposta pedagógica reside na Pedagogia Histórico-Crítica (Saviani), que tem como função a produção intencional da humanidade em cada indivíduo, transmitindo os elementos culturais mais elaborados.
O Diálogo e os Caminhos para a Resistência
A parte final da mesa foi dedicada ao diálogo com o público e às urgentes questões sobre o que fazer no cotidiano. Em resposta ao público, os debatedores concordaram que o caminho passa pela luta em duas frentes:
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Ação política e institucional: Disputar todas as instâncias formais, lutar contra a desidratação orçamentária e as contrarreformas (como a PEC 38/2025), e defender a aplicação da lei de cotas.
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Ação pedagógica crítica: Requalificar a didática alertando os estudantes a “ver bem” as relações sociais e econômicas. O professor Ruy reforçou a necessidade de popularizar a ciência e ocupar os espaços da Educação Básica, onde o fundamentalismo se enraíza.
Os professores defenderam ainda que, apesar do diagnóstico ser duro, não é uma sentença de morte para a esperança. O professor Elson ressaltou que a revolução é o horizonte necessário para uma alteração estrutural do capitalismo, mas exige a luta econômica, política e teórica no presente. O professor Ruy completou que pequenas revoluções são as práticas cotidianas que devem sustentar a esperança.
Assista à íntegra da mesa redonda no link: A influência do neoconservadorismo na educação e na formação docente