Pelas vidas das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas

O Dia Internacional das Mulheres Negras, Latino-Americanas e Caribenhas, 25 de julho, é marco da luta feminista, antirracista e anti-imperialista. Em tempos de covid-19, a ordem do dia é a defesa da vida destas mulheres, que têm seu direito ao isolamento social negado, necessidades negligenciadas pelos governos e permanecem batalhando diariamente pelo sustento de suas famílias.

Para Sandra Ramos, diretora acadêmica da Adusb e integrante do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS), o dia 25 de julho é momento de “reafirmar a luta diária enfrentada por estas mulheres para superar a estrutura social, de gênero, de classe e de raça. Vivenciamos uma forte crise econômica que se agrava com a pandemia da covid-19 e as mulheres negras, indígenas e do campo são as mais afetadas. É o que mostram os dados divulgados pelo IBGE e IPEA, que as mulheres negras são o grupo de maior vulnerabilidade social sobre o qual incide a maior taxa de desemprego, em torno de 50% maior que a das mulheres não negras”.

Segundo estudos da Rede de Pesquisa Solidária do Centro de Estudos da Metrópole da USP, a categoria mais afetada pela crise econômica da covid-19 é a das trabalhadoras domésticas, onde mulheres negras são maioria. Para domésticas sem carteira assinada a redução do número de trabalho foi maior e 74% desse grupo também são de mulheres negras. A população negra é também majoritária nos trabalhos informais, altamente impactados pela pandemia. A informalidade alcança 47,3% dos pretos e pardos brasileiros, conforme dados do IBGE.

A desigualdade social histórica, agravada pelo momento de pandemia, coloca em risco a sobrevivência da população negra, já que as políticas públicas desenvolvidas até o momento, como o auxílio emergencial de R$ 600, não suprem a demanda social. Neste sentido, “por serem as principais responsáveis pelo sustento de suas famílias, as mulheres negras, não têm tido o direito ao isolamento social. Uma demonstração do quanto estão na estrutura da base econômica do sistema capitalista, que coloca o peso de sua sustentação no suor destas mulheres, pela sobrecarga de trabalho, sobretudo no trabalho doméstico, que historicamente tem um vínculo com o regime escravocrata”, afirma Sandra.

Não é coincidência que negras e negros morram mais por covid-19 no Brasil. Na cidade de São Paulo, segundo dados da Prefeitura, o risco de óbito entre pessoas negras é 62% maior. Até mesmo medidas simples de combate ao coronavírus, como a lavagem das mãos, fica comprometida, pois de acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, em 2018, não existia saneamento básico em mais de 35% dos lares brasileiros, sendo mais da metade deles no norte e nordeste. O novo marco legal do saneamento básico, que privatiza o acesso a este serviço, tende a agravar essa situação, ao condicionar o acesso à água à condição socioeconômica de poder pagar por isso.   

Está provado cientificamente que a covid-19 pode se desenvolver com sintomas mais graves em pacientes com comorbidades, como diabetes e hipertensão, doenças em que há prevalência na população negra. Conforme aponta o Ministério da Saúde, o índice de mulheres negras com diabetes é 50% maior que entre brancas. Essa situação não se dá por questões étnico-raciais, mas pelas condições de vida impostas pela sociedade capitalista. Má alimentação, a partir de produtos altamente industrializados, trabalhos precarizados, péssimas condições de trabalho, com altos números de assédios moral e sexual, especialmente entre mulheres negras, são realidade e interferem diretamente na saúde.

O Sistema Único de Saúde (SUS), em colapso em diversas cidades brasileiras, é utilizado por 80% da população negra. Como as mulheres são responsabilizadas pelo cuidado dos seus familiares, as mulheres negras são as que mais sentem os efeitos dos problemas do SUS e ficam ainda mais expostas à contaminação por coronavírus.

A luta por um SUS de qualidade e políticas sociais que assegurem condições financeiras à população vulnerável é crucial para que mais vidas de mulheres negras não sejam perdidas durante a pandemia. O imperativo do lucro não deve jamais sobrepor a vida.

Pelas vidas das mulheres negras!

Vidas negras importam!

Contra o machismo, o racismo e o imperialismo.

 

Com informações do Ministério da Saúde, Estadão, UOL, G1 e ONU Mulheres