Falha do governo em adquirir vacinas causa escassez em 25% dos municípios

O Brasil está à beira de registrar 400 mil mortes pela Covid-19 e o descaso do governo de Bolsonaro em adquirir vacinas segue causando consequências desastrosas ao povo brasileiro e prolongando a crise pandêmica no país. No último sábado (24), o Ministério da Saúde revisou novamente o cronograma de recebimento de imunizantes e reduziu em mais de 22% a previsão de entrega de doses no primeiro semestre.

No dia 19 de março, o então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, informou que o país receberia 205,89 milhões de doses no primeiro semestre deste ano.  No sábado, Marcelo Queiroga, atual ocupante da Pasta, informou que o país deve receber 159,45 milhões de vacinas no mesmo período, uma redução de 46,44 milhões de doses a menos.

O governo alega que houve a redução porque não conta mais com a entrega de doses da Covaxin, que ainda não foi aprovada pela Anvisa, e que o consórcio Covax Facility também não entregou a quantidade prevista inicialmente.

A questão é que esses atrasos de entregas por parte dos fabricantes eram previsíveis. Por isso mesmo, diversos especialistas alertaram que o governo deveria ter se antecipado no ano passado, fechado contratos e ter feito um planejamento que contasse com essa situação.

Mas, o negacionismo e a política genocida de Bolsonaro fizeram com que o governo não tenha planejado a aquisição de vacinas com antecedência, mas também fizeram com que recusassem a oferta de fabricantes de imunizantes. Documentos que já estão em posse de integrantes da CPI da Covid-19, que terá início no Senado, nesta terça-feira (27), revelam que o governo rejeitou onze ofertas formais de fornecimento de vacinas no ano passado. Onze.

Municípios enfrentam escassez

Segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa, apenas 6,20% da população brasileira (13.127.599 pessoas) recebeu as duas doses da vacina contra a Covid-19, ou seja, concluíram o processo que garante, de fato, a imunização contra a doença.

Com as constantes reduções de aquisição de imunizantes pelo Ministério da Saúde, esse patamar está longe de ter um avanço significativo, pois há há escassez em várias cidades. Segundo levantamento da CNM (Confederação Nacional de Municípios), quase um quarto dos municípios brasileiros teve de interromper a vacinação contra a Covid-19 nos últimos dias por falta de imunizantes para a primeira dose.

A pesquisa apurou a situação em 2.096 prefeituras entre os dias 19 e 22 de abril e constatou que 24,3% dos municípios consultados (499) informaram não ter vacina para aplicar a 1ª dose. Ainda segundo o levantamento, 28,1% dos municípios ouvidos (591) estão em risco iminente de ficarem sem “kit intubação” e 8,1% dos municípios ouvidos (171) estão em risco iminente de ficarem sem oxigênio.

A falta da segunda dose também é uma realidade. Em Natal (RN), a campanha já foi suspensa por três vezes por falta de vacinas.

“Em Natal, há filas de idosos para tomar a segunda dose e não há estoque. Isso porque o Ministério da Saúde, mesmo sem a previsão de entrega de vacinas suficientes, orientou os estados e municípios a gastarem seus estoques para aplicar a primeira dose. O prefeito bolsonarista de Natal obedeceu essa política e agora não tem estoque para a segunda dose, o que é muito grave”, informa a servidora estadual da Saúde do Rio Grande do Norte e integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Rosália Fernandes.

Curitiba, Goiânia, Brasília, Maceió, Rio Branco e Teresina são outras capitais em que também já foram registradas paralisações na campanha de vacinação pelo mesmo motivo.

Em entrevista à GloboNews, na sexta-feira (23), o presidente do Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde), Wilames Freire, afirmou que a escassez de vacinas deve piorar nos próximos dois meses, uma vez que o Brasil corre o risco de ficar sem o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), matéria-prima para produção dos imunizantes.

“Nós temos um cronograma de vacinas [do Ministério da Saúde] que a todo momento é corrigido para baixo […]. Agora, com a pandemia chegando na Índia forte como estamos visualizando […] nos preocupa muito, porque o IFA que utilizamos no Brasil, em grande parte vem da Índia”, disse o presidente do Conasems.

Para Rosália, o descaso de Bolsonaro é a causa para esta grave situação e se depender de seu governo vai piorar. “Mesmo com o agravamento da pandemia, o governo federal reduziu de R$ 524 bilhões para R$ 103 bilhões a previsão de gastos extraordinários para o combate à Covid-19. Isso é absurdo, mas só comprova que a política genocida deste governo continua”, afirma a dirigente.

“Com Bolsonaro, o Brasil não tem vacina, não tem combate efetivo à pandemia e a crise econômica vai se agravar. É preciso botar para fora este governo de genocidas agora. Não dá para esperar 2022. A CSP-Conlutas segue fazendo o chamado às demais centrais sindicais, movimentos e organizações da classe trabalhadora para construirmos uma Greve Geral Sanitária no país por nossas reivindicações”, concluiu.

Via cspconlutas.or.br