Empresários fazem locaute. Golpe, não! Fora Bolsonaro e Mourão, já!

Nesta sexta-feira (10), o movimento de um grupo de caminhoneiros que chegou a ser registrado em 15 estados do país no dia de ontem recuou e, segundo boletim do Ministério de Infraestrutura, não há mais bloqueios e pontos de interdição nas rodovias. Apenas em três estados seguem com pequenas manifestações: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia.

Os protestos foram organizados por setores ligados ao governo, insuflados por Bolsonaro, ministros e deputados bolsonaristas, e tiveram início ainda no dia 7 de setembro, nas manifestações de teor golpista convocadas pelo presidente de ultradireita. Um dos pontos de concentração do grupo foi em Brasília, onde bolsonaristas chegaram a atacar e ameaçar mulheres indígenas que estão acampadas no DF para acompanhar o julgamento do Marco Temporal pelo STF.

A pauta de reivindicações apresentada pelo movimento era a mesma dos atos pró-governo. Pediam intervenção militar, o fechamento do SFT, prisão de ministros e do Congresso e a volta do voto impresso, e não conseguiram o apoio da categoria, principalmente do segmento de caminhoneiros autônomos.

Entidades de caminhoneiros, como a Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores) e a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), informaram que não participam e não apoiam os atos e que a pauta não representa a categoria.

Isolado, o próprio Bolsonaro foi obrigado a gravar uma mensagem pedindo que os caminhoneiros liberassem as estradas. O áudio, enviado por Whatsapp, chegou a ser considerado como “fake news” pelos manifestantes, muitos dos quais reagiram com decepção diante da postura do presidente.

Agronegócio e empresários do transporte

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, em Brasília, havia cerca de 100 veículos e podia se observar um padrão: caminhões com as mesmas características e com inscrição de grupos econômicos.

Pelo menos quatro caminhões de grande porte estacionados na Esplanada carregavam as inscrições do Grupo Brasil Novo, sediado em Florianópolis. A empresa é especializada em transporte rodoviário, com boa parte dos serviços voltada ao agronegócio. Outros 17 caminhões carregavam a identificação “Arroz e Feijão Grão Dourado”, uma empresa sediada em Piracanjuba, no interior de Goiás. Havia ainda três caminhões que pertenceriam a duas empresas no nome dos mesmos empresários: Irmãos Chiari Agropecuária e Dez Alimentos.

Além das empresas ligadas ao agronegócio, dez caminhões colocados bem em frente ao Congresso, antes da grade de isolamento, tinham a inscrição da empresa Pro Tork, do Paraná. A empresa fabrica capacetes para motociclistas. Um dos capacetes é feito para “patriotas” e os caminhões reproduzem essa linha de produto.

site “De Olho nos Ruralistas” identificou histórias de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos com camponeses, além de lobbies junto a congressistas, em várias das empresas por trás das frotas presentes em Brasília.

Locaute, não! Fora Bolsonaro e Mourão, já!

A participação direta de empresas do agronegócio e do transporte nos protestos de caminhoneiros revela que a mobilização não se tratou de uma greve da categoria, mas sim um locaute. Ou seja, greve patronal, estimulada por Bolsonaro.

“Greve de caminhoneiros que hoje não seja para combater os preços abusivos dos combustíveis, com a gasolina a 7 reais, a inflação e a carestia, que são causados pela política ultraliberal do governo, tem algo de estranho. Principalmente, sendo para apoiar Bolsonaro. Não é uma mobilização justa, mas sim que atende os planos golpistas de Bolsonaro”, avalia o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Luiz Carlos Prates, o Mancha.

“A escalada autoritária de Bolsonaro demonstra que ele não vai parar, pois sua meta é se manter no poder a qualquer custo e para isso sonha em implantar uma ditadura, regime autoritário que sempre defendeu. O golpismo desse governo de ultradireita só pode ser detido com luta, nas ruas e com uma Greve Geral de verdade pela classe trabalhadora”, conclui Mancha.

 

CSP-Conlutas