Irã: Morte de jovem detida por uso do hijab provoca levante de mulheres

Na última terça-feira (13), a jovem iraniana Mahsa Amini foi presa pela chamada Polícia de Costumes por usar de maneira inadequada o véu islâmico, mais conhecido como hijab.

Amini teria sido espancada enquanto ainda estava na viatura policial. Há evidências de ter sido torturada. A violência provocou lesões na cabeça. Apesar de os órgãos oficiais afirmarem que ela teria morrido de causas naturais, a jovem entrou em coma em decorrência dos abusos, com sinais de tortura, e morreu três dias depois.

Revolta e repressão

A morte da jovem causou uma onda de protestos na capital Teerã e em outras cidades, quando Amina ainda estava internada no hospital.

Com a morte da jovem, milhares tomaram as ruas e participaram do funeral. Nessas manifestações, mulheres entoaram "morte ao ditador", o aiatolá Ali Khamenei.

A polícia iraniana reprimiu duramente os atos públicos de protesto, inclusive utilização munição real contra a população.

A internet também foi alvo do cerco policial do governo, e foi interrompida em vários locais no Irã desde que as notícias da morte de Amini foram divulgadas, inclusive em Teerã e Saqqez, região do Curdistão iraniano.

Justiça

Segundo as autoridades iranianas, Amini morreu de causas naturais, mas de acordo com informações reveladas pelo Alto Comissariado, ela foi violentamente espancada e bateram sua cabeça contra um veículo da polícia.

O Hospital Kasra, localizado ao norte de Teerã, disse em comunicado oficial nas redes sociais que Amini havia sido internada em 13 de setembro "sem sinais vitais".

Após um ataque massivo de conservadores que acusam o hospital de ser antirregime, a declaração foi removida.

A Alta Comissária das Nações Unidas pelos Direitos Humanos interina, Nada Al-Nashif, declarou que “a morte trágica de Mahsa Amini e as alegações de tortura e de maus-tratos devem ser investigadas de maneira rápida, imparcial e eficaz por uma autoridade competente e independente, que garanta, especialmente, que sua família tenha acesso à justiça e à verdade".

Basta de violência

Pelo menos 10 mulheres foram executadas no Irã em 2022, mas os números certamente estão defasados, conforme avalia o IHR (Iran Human Rights).

Um relatório dessa organização, publicado em outubro do ano passado, detalha que pelo menos 164 mulheres foram executadas entre 2010 e outubro de 2021.

Para Marcela Azevedo, do Setorial de Mulheres da CSP-Conlutas, "é urgente cercar de solidariedade internacional as manifestações que ocorrem no país. Pois, em todo o mundo os governos conservadores e ditatoriais, que atuam na defesa dos interesses da burguesia, impõem para as mulheres e jovens as mais bárbaras violências".

"Defendemos o direito das mulheres decidirem sobre seus corpos e suas condutas sociais e isso só será possível plenamente com a destruição do sistema capitalista", concluiu.

CSP-Conlutas