Cresce em todo país o número de registros de violência contra mulheres, após o isolamento social orientado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para conter a pandemia do Covid-19. Ficar mais em casa, para muitas mulheres, pode significar um aumento do convívio com seus maridos e possíveis agressores.
O relatório da ONU Mulheres “A sombra da pandemia: violência contra mulheres e meninas e Covid-19” aponta esse aumento da violência contra a mulher em todo o mundo. O estudo revela que as pressões sociais e econômicas podem potencializar esse cenário de violência.
A organização ressaltou que as mulheres não somente enfrentam entraves quanto ao acesso a serviços essenciais ou ordens de proteção, mas que “o impacto econômico da pandemia pode criar barreiras adicionais para deixar um parceiro violento”.
A pesquisadora do Ilaese (Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos) Érika Andreassy avalia que as medidas de isolamento social fazem esse quadro de horror se agravar, já que “para muitas delas o lar, longe de ser um ambiente seguro, é justamente o local onde a violência se materializa”. Por isso, “exigir medidas para evitar esse efeito colateral da pandemia é tão necessário como defender a quarentena para conter o avanço do vírus”, defende.
Bolsonaro, que é contra o isolamento, tentou no início da pandemia justificar sua política contra a quarentena com o argumento da violência doméstica. “Tem mulher apanhando em casa. Por que isso? Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão. Como é que acaba com isso? O cara quer trabalhar, meu Deus do céu, é crime trabalhar?”. Tal postura é grave e é preciso ser repudiada.
A CSP-Conlutas defende o isolamento como medida para conter a pandemia e alerta que esse aumento da violência sexista tem como verdadeiro responsável o machismo, que atinge a todas as mulheres.
Aumento da violência no Brasil
No Rio de Janeiro, números revelam que durante esse período de quarentena houve um aumento de 50% nas denúncias de violência contra a mulher.
Em São Paulo, esse número chega a 44, 9%, segundo pesquisa do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Segundo o órgão, o número de atendimentos subiu de 6.775 para 9.817, em comparação com o mesmo período no ano passado.
No estado do Rio Grande do Norte, o número de violência contra as mulheres aumentou de 34,1% nos casos de lesão corporal dolosa e de 54,3% nos casos de ameaça. Assim como as notificações de estupro e estupro de vulnerável dobraram.
O mesmo aumento tem ocorrido no Acre, com um crescimento de 2,1% no número de chamados, que saltou de 470 para 480.
Esse levantamento de casos feito pelo Banco Mundial analisou os estados de São Paulo, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Pará, com base em ocorrências produzidas pelos órgãos competentes nessas regiões.
Quanto aos casos de feminicídio, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que houve aumento expressivo do assassinato de mulheres dentro de casa em comparação com o mesmo período no ano passado. Em São Paulo, a alta foi de 46%, no Acre 100%, Rio Grande do Norte 300% e Mato Grosso 400%.
Houve também um aumento de ligações para o número 180, que recebe denúncias de violência contra a mulher. De acordo com o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o procura pelo serviço foi de 9% a mais em comparação com o ano passado.
Os números ainda podem estar subnotificados, devido a muitas mulheres se sentirem apreensivas em denunciar seus companheiros, por conta de ainda viverem com eles e não terem como praticar o isolamento em outro local.
“O Brasil já é, há alguns anos, o quinto país que mais mata mulheres, consequência da negligência dos governos. Bolsonaro, no último ano, além do discurso misógino, não investiu um centavo nas políticas de combate a violência machista. É preciso um plano de emergência para salvar as vidas das mulheres trabalhadoras”, defende Marcela Azevedo do Movimento Mulheres em Luta.
A CSP-Conlutas, via Setorial de Mulheres, apresentará, nos próximos dias, iniciativas para combater a violência e exigir medidas de proteção às vítimas.
Com informações do G1 e Agência Brasil
Via cspconlutas.org.br