Nesta sábado (25), é comemorado o Dia da Mulher Negra Latino- Americana e Caribenha. Durante todo o mês de julho, estão sendo realizadas uma série de ações, debates e atividades. A data também compõe a Campanha pelo Fora Bolsonaro que tem um extenso calendário de luta.
O da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha já era reivindicado desde 1992, quando a República Dominicana sediou o Primeiro Encontro de Mulheres Negras. A ocasião marcou o 25 de Julho como dia de refletir e dar visibilidade à luta e às pautas deste segmento.
No Brasil, também é celebrada a história de luta de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, data oficializada pela Lei: 12.987, sancionada em 2014. Tereza foi uma mulher quilombola, rainha e chefe de estado, que viveu no século XVIII no Vale do Guaporé. Liderou o Quilombo de Quariterê, no estado do Mato Grosso, que resistiu da década de 1730 até o final do século.
Esse dia traz importante reflexão para pensar os direitos das mulheres negras sob a perspectiva de gênero, raça e classe. Os desafios são muitos para o avanço e superação da opressão histórica que se expressa de várias formas e níveis nas mulheres negras.
Marcas sentidas nos dias atuais e são reflexo da opressão e exploração capitalista racista. São as mulheres negras que estão na base da pirâmide social e ocupam os extratos mais precários e informais do mercado de trabalho.
As trabalhadoras negras também são as que mais sofrem violência doméstica. O Brasil ocupa o 5° lugar no Ranking Mundial de Feminicídio, com mortes violentas de mulheres no mundo, segundo dados das Nações Unidas para Direitos Humanos.
Em relação a países desenvolvidos, no Brasil, se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que Japão e Escócia.
No caso das travestis e das mulheres trans, o Brasil é o primeiro em registro de assassinatos no mundo, de acordo com dados do Livro “Feminicídio #Invisibilidade Mata”, do Instituto Patrícia Galvão e Fundação Rosa Luxemburgo.
A professora de psicologia do IFRJ (Instituto Federal do RJ) e pesquisadora líder do Grupo de Pesquisa Odara destacou que no Brasil o feminicídio faz interseccionalidade com o racismo e geralmente é apagado e invisibilizado. “Temos que tornar visível os assassinatos e enfrentar a violência institucionalizada, muitas vezes, executadas e apoiadas pela própria polícia contra as mulheres negras, as mulheres trans, as travestis, as mulheres de forma geral. Nossa luta deve ser para transformar esta realidade”, salientou.
Eu não consigo respirar
O racismo estrutural pôde ser visto recentemente nas cenas que circularam na internet e na grande mídia, em que uma mulher negra, de 51 anos, foi violentamente agredida por um policial, que a imobilizou, com uma bota em seu pescoço até que perdesse os sentidos. Ela foi mantida dois dias presa, com todos os ferimentos decorrentes deste episódio, sem socorro médico. História triste e degradante que só reforça a incapacidade desta polícia em proteger o a sociedade.
Fato que aponta e fortalece a necessidade exigida pelos movimentos pelo fim da Polícia Militar. “Esta polícia que mata preto, pobre e periférico não nos serve. E muito menos este Estado que não está nem um pouco preocupado em mudar esta estrutura racista, até porque ela é a instituição que garante a opressão e a exploração”, avalia a integrante do Setorial de Negras e Negros da CSP-Conlutas Maristela de Farias, que também integra do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, filiado à Central.
Pandemia: pobres e negras (os) morrem mais
O Brasil já ultrapassou a marca de 84.207 mil mortos com 2.289.951 milhões de contaminados, considerando os casos a confirmar e as subnotificações, estes números podem ser bem maiores.
Dados sobre mercado de trabalho e sintomas gripais, aferidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19, apontam que os negros são os mais afetados.
De acordo com o levantamento, entre aqueles que disseram ter tido mais de um sintoma de síndrome respiratória, 68,3% são pretos ou pardos.
Os dados referentes à manifestação de sintomas associados ao vírus também revelam efeitos distintos na comparação entre gêneros. Em junho, 57,8% dos que disseram ter contraído mais de um deles eram mulheres.
“A população negra, pobre e trabalhadora é quem mais adoece, quem mais morre, é quem não tem tido direito a isolamento social. O governo não garante como deveria as devidas condições para que todas/os tenham direito ao isolamento social. Os pacos R$ 600, além de insuficientes, sequer chegaram a todos que necessitam. Mais uma vez vimos a corrupção e ou o desvio perpassar por aí também, atingindo em cheio as mulheres negras, maioria chefes de família”, alerta Maristela.
Mulheres negras têm história
As mulheres negras sempre estiveram presentes nas lutas no Brasil, desde suas atuações na resistência quilombola por liberdade, até os dias de hoje na luta cotidiana por sobrevivência. Ainda são muitos os desafios colocados para as mulheres negras trabalhadoras, quilombolas, faveladas, periféricas dentro desta sociedade do capital e de estrutura racista.
“Pensar na mulher negra é pensar em saúde, Educação, trabalho, moradia e cultura. É pensar na diversidade e atuar sempre na perspectiva de luta de gênero, raça e classe, e no combate ao capitalismo. Nesta perspectiva, é importante nos autorganizar, nos aquilombar para derrubar todos os de cima que nos exploram e nos oprimem, buscando uma sociedade mais justa e igualitária”, conclui Maristela.
A CSP-Conlutas saúda a todas as mulheres negras do país e do mundo, com a exigência nas ruas e nas lutas por políticas e ações de mudanças sociais que eliminem a desigualdade racial e o machismo.
Contra o Machismo, o Racismo e a Exploração
Vidas Negras Importam – Parem de Nos Matar!
Fora Bolsonaro e Morão!
Via CSP-Conlutas