O Brasil possui cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência, que enfrentam diariamente as dificuldades de viverem em uma sociedade notadamente capacitista. Há dificuldades no acesso ao emprego, serviços públicos, cultura, lazer, transporte público, dentre outras questões fundamentais para a vida. Neste Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, a Adusb entrevistou profissionais da educação, pesquisadores e militantes para contribuírem sobre o tema. O segundo entrevistado é Márcio Freudenthal, professor da rede municipal de Vitória da Conquista e graduado em História pela UESB. Suas pesquisas envolvem a luta dos professores municipais de Vitória da Conquista a partir da organização sindical.
1. De quais formas e através de quais elementos estruturais e socioeconômicos, o capacitismo se expressa em nossa sociedade? Como podemos lutar pela inclusão e garantia de direitos às pessoas com deficiências?
Vivemos em uma sociedade individualista e de competição. Os indivíduos que são de classes economicamente inferiores são formados para serem subordinados do ponto de vista cultural, socialmente e economicamente. Existindo pouco espaço para a integração das pessoas com deficiência. Inadequados para o sistema produtivo capitalista. As lutas pela inclusão no campo das lutas sociais conseguiram alguns avanços na legislação. Mas, sem de fato, conseguirem incluir em uma sociedade altamente excludente.
2. As práticas opressoras que envolvem o capacitismo seguem o discurso de que pessoas com deficiência precisam se encaixar à corponormatividade, aos princípios da “capacidade funcional” e da “eficiência”. Como as políticas neoliberais se apropriam deste discurso para manter o modelo socioeconômico vigente?
A sociedade formada dentro do sistema capitalista vem sendo educada para seguir padrões. Os diferentes ou as pessoas com deficiência devem se adequar a essa forma e modelos de comportamento. As políticas de inclusão têm seguido a lógica vigente. Por isso, têm excluído cada vez mais pessoas na sociedade local e mundial, mesmo quando essas pessoas frequentam os mesmos espaços de formação.
3. No âmbito educacional verifica-se o quanto as pessoas com deficiência são excluídas do processo de formação. Em tempos de ensino remoto esta exclusão é ainda mais aprofundada. Qual a sua avaliação sobre este momento e o impacto sobre as pessoas com deficiência?
Sim. Mesmo no ensino presencial as pessoas com deficiência são excluídas. Estando no mesmo espaço de formação dos ditos normais não é garantia de inclusão, pois estes são espaços de seleção e competição.
4. Como você avalia a inclusão das pessoas com deficiência na rede Municipal de Ensino de Vitória da Conquista?
A lei antecedeu a uma prática social. A nossa sociedade não é historicamente includente. Ela tem séculos de experiência de exclusão daqueles considerados inaptos para material e imaterial. A inserção das pessoas com deficiência nas escolas não garantiu, por si só, a inclusão. Na maioria das vezes, esses indivíduos são colocados nas salas de aula sem nenhuma adequação do mobiliário, em salas lotadas e sem formar adequadamente os professores e os profissionais da escola. É uma inclusão formal-legal.