Um dos principais problemas no combate à Covid-19 no Brasil é a falta de testagem em massa, que permitiria ter um quadro mais realista da pandemia no país, prevenir a disseminação da doença e adotar medidas de combate ao coronavírus. Contraditoriamente, porém, 6,8 milhões de testes comprados pelo Ministério da Saúde não foram usados e estão prestes a perder a validade.
A situação foi revelada neste domingo (22), pelo jornal O Estado de S.Paulo. Segundo o jornal, exames RT-PC, considerados os mais eficazes no diagnóstico da doença, estão estocados num armazém do governo federal em Guarulhos e até hoje não foram distribuídos para a rede pública. Os testes perdem validade entre dezembro e janeiro de 2021.
O estoque de testes prestes a ser jogado no lixo é maior que os 5 milhões de testes que o SUS realizou em nove meses de pandemia. Ao todo, o Ministério da Saúde gastou R$ 764,5 milhões em testes e os exames a vencer custaram R$ 290 milhões. Na rede privada, um teste de tipo custa entre R$ 290 e R$ 400.
O governo Bolsonaro tenta jogar a responsabilidade pelo iminente desperdício nos governos estaduais e municipais. Os governos locais, por outro lado, denunciam que o Ministério da Saúde entregou kits incompletos.
Sem todos os equipamentos necessários para a testagem, afirmam que nem sequer dão conta das unidades que já receberam.
O governo Bolsonaro, por sua vez, informou neste domingo que enviou 9,31 milhões de reações RT-PCR. O problema é que não basta este produto, uma vez que outros insumos foram entregues em quantidade inferior, como cotonetes e tubos para coleta do material do paciente, além de insumos para extração do RNA.
Além disso, a capacidade do SUS de processar as amostras em laboratório é baixa e, segundo os Estados e municípios, o ministério não entregou todos os equipamentos prometidos para equipar os Laboratórios Centrais (Lacens) das 27 unidades da federação.
Ainda de acordo com a matéria, o governo registrou em outubro uma média de 27,3 mil testes diário no SUS, número inferior aos dois meses anteriores, e muito longe da meta divulgada que era de 115 mil testes.
Na tentativa de minimizar a gravidade do caso, militares com cargos de influência no Ministério da Saúde ouvidos pelo Estadão consideram o ritmo “razoável” e o ministro Eduardo Pazuello reafirmou que há testes suficientes nas mãos de Estados e municípios.
Diante da repercussão da notícia, contudo, o governo Bolsonaro informou que pediu à farmacêutica sul-coreana Seegene para analisar a prorrogação da validade dos produtos, o que teria de ser avalizado pela Anvisa, a depender dos estudos do fornecedor.
A situação comprova o descaso e a incompetência do governo de Bolsonaro no combate à Covid-19.
Desde o início, o Ministério da Saúde, que deveria estar à frente das ações de combate à pandemia no país, vem sendo alvo de várias denúncias e críticas por ineficiência e omissão, não só pela existência de testes para Covid-19 encalhados por falta de insumos, mas por congelamento de gastos nas ações de prevenção à pandemia, medidas anticientíficas e até mesmo denúncias de superfaturamento na produção da ineficaz cloroquina pelo Laboratório do Exército.
Enquanto isso, o país está prestes a atingir a triste marca de 170 mil mortes. Na noite deste domingo (22), já haviam sido registrados 169.197 óbitos pela Covid-19 e 6.070.419 pessoas infectadas, num quadro de nova alta de casos e mortes.