SP: com escolas estaduais lotadas, pais temem surto de covid-19
Retorno das aulas presenciais – Foto: Uanderson Fernandes

Sem condições de cumprir os protocolos de segurança contra a covid-19, as escolas da rede estadual de São Paulo receberão 100% dos alunos a partir desta quarta-feira (3). A medida causa preocupação em pais e responsáveis que temem surtos da doença em uma parcela da população que ainda não está imunizada.

Estudantes serão obrigados a comparecer as aulas presenciais, exceto aqueles que possuem comorbidades, esquema vacinal incompleto (acima de 12 anos) ou grávidas e puérperas. Antes da medida, o envio dos alunos à escola era facultativo aos pais. Na ocasião, as prefeituras também tinham autonomia para definirem as datas de retorno.

“O próprio secretário da educação de São Paulo admitiu, em meados de outubro, que somente 24% das escolas estavam aptas ao retorno com 100% dos estudantes. E qual foi a solução que ele encontrou? Mudar os protocolos de distanciamento pra obrigar todas as escolas ao funcionamento integral a partir de hoje, mesmo sabendo que não há condições”, denuncia Flavia Bischain da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e professora da rede pública.

A preocupação é compartilhada por pais de alunos, visto que a maioria das escolas da rede estadual não seguirão os protocolos de saúde recomendados. Não há funcionários para a higienização das salas de aula, que por sua vez seguem lotadas e sem espaço para o distanciamento necessário.

“Presenciei a falta de higienização e segurança no retorno as aulas presenciais obrigatórias. Crianças abaixo dos 12 anos estão sendo obrigadas a se aglomerarem em salas de aula cheias e mal ventiladas. Elas comem todas juntas nos refeitórios cheios também”, alerta Ana Maria, mãe e responsável por duas crianças que estudam na rede estadual de ensino.

“O retorno presencial nesse momento é desnecessário, irresponsável e inclusive fere a Constituição Federal e o ECA, no que se refere no direito a vida, segurança e bem estar. Sou contra o retorno e as ameaças e coação do conselho tutelar, além das multas e judicialização dos responsáveis que não enviarem os filhos a escola”, explica.

Cartaz confeccionado por Ana Maria para a manifestação

Mães pais e responsáveis contrários à obrigatoriedade da volta ao ensino presencial chegaram a realizar uma manifestação em frente a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo na última semana. Eles defendem a possibilidade de escolha sobre levar ou não os filhos a escola neste momento em que a pandemia convive com incertezas.

Caso inglês preocupa

Atualmente, o Reino Unido tem vivido uma quarta onda de covid-19. O aumento no número de casos ocorre desde julho, mesmo com mais de dois terços da população vacinada. A explicação para o agravamento da pandemia no país é a maior incidência do contágio em crianças de até 15 anos de idade.

Cerca de um terço dos novos infectados pelo coronavírus estão abaixo dos 15 anos. O dado é reflexo da abertura de escolas e do fim do uso de máscaras. O país já vive novamente o clima de alerta devido à proximidade com o inverno. Com cerca de 40 mil casos diários, o sistema de saúde corre o risco de colapsar, assim como no início da pandemia.

“Os governos estão agindo como se a pandemia já tivesse acabado. Embora os números tenham caído consideravelmente graças à vacina, temos visto desde a reabertura das escolas um crescimento significativo da contaminação de crianças, que ainda não estão vacinadas”, explica Flavia.

A professora também denunciou o fato de que algumas escolas chegaram a funcionar mesmo sem a equipe de limpeza em função do atraso no pagamento das faxineiras por parte das empresas terceirizadas. O caso é tratado como um exemplo de como o governo de João Doria age com descaso pela saúde das crianças e da população em geral.

“A luta para que o retorno integral só aconteça com a garantia de segurança sanitária nas escolas e vacinação das crianças, precisa ser combinada também com a luta contra os governos e os ataques à educação e ao funcionalismo. Exigimos também a retirada da PEC 32 de Bolsonaro e do Sampaprev2 do prefeito Nunes em São Paulo, assim como a anulação da Reforma Administrativa de Doria no estado. Em defesa da vida, da educação e da valorização dos trabalhadores”, conclui.

 

CSP-Conlutas