Após tentar criminalizar a greve das professoras e dos professores das universidades estaduais do Ceará e interromper o diálogo com a categoria, o governador Elmano de Freitas (PT) se utiliza de mentira e desinformação para manipular a opinião pública e colocar a população contra o movimento grevista. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, Elmano disse considerar injusta a greve da categoria. "Não é justo professor de R$ 14 mil não dar aula para aluno que família ganha R$ 1,4 mil", afirmou o governador cearense.
O próprio jornal ressalta, em postagem nas redes sociais, que nem todos docentes da universidade recebem esse valor. “Há muitos outros que ganham montantes muito abaixo do mencionado", aponta. E acrescenta que as demandas da categoria são históricas e envolvem pautas além da salarial, como condições estruturais das universidades, recomposição orçamentária, reestruturação da carreira e concursos públicos.
“Isso é uma mentira deslavada, porque 14 mil reais é o topo da carreira. Ou seja, já é quem chega no fim da carreira, e isso no salário bruto. Porque ainda têm os descontos do imposto de renda e 14% de previdência, entre outros”, explica Raquel Dias, 1ª vice-presidenta do ANDES-SN e docente da Universidade Estadual do Ceará. Docentes da Uece e das universidades do Vale do Acaraú (UVA) e Regional do Cariri (Urca) iniciaram a greve em 4 de abril. No dia 3 de maio, docentes da Urca decidiram pela suspensão da paralisação.
Em nota de repúdio, o Fórum das Três, que reúne as seções sindicais das universidades estaduais cearenses (Sinduece, Sindurca e Sindiuva), afirma que o governador comete uma grande injustiça contra professoras e professores das universidades estaduais do Ceará, que lutam, há cerca de 60 dias, por recomposição salarial, condições de trabalho, orçamento universitário e infraestrutura.
“Contraria seu compromisso com a seriedade dos fatos, ao criar uma filigrana, voltando-se contra suas bases, contra quem o ajudou a se eleger. Não será confundindo a sociedade que alcançará uma boa gestão, a justiça é a verdade. Reconheça o nosso valor, respeite a todas e a todos. Negociar é o que resta de justiça e de verdade nesse cenário. Estamos aqui, aguardando o chamado”, afirmaram as entidades no documento.
As seções sindicais também denunciaram que “enquanto cria dúvida sobre as razões da greve de professoras(es), o Governador Elmano paga prêmio mensal de 17mil reais a procuradoras(es) e concede isenção fiscal bilionária ao empresariado instalado no Ceará.”
“Em mais uma tentativa hórrida em desmoralizar o movimento paredista das universidades estaduais, o Governador Elmano de Freitas apela para fake news e distorce as informações que podem ser facilmente acessadas no Portal da Transparência. Podemos dialogar, podemos tentar acordo, a democracia é assim! Só não vale mentir”, acrescentaram em postagem nas redes sociais.
Apesar das diversas críticas à fala mentirosa de Elmano divulgada pelo Diário do Nordeste na terça-feira (4), o governador reiterou, nesta quarta-feira (5) em suas redes sociais, o discurso falacioso e desinformativo. "Sempre tive e sempre terei absoluto respeito e admiração pelos professores. Na rede estadual de Ensino Superior, nossa média salarial é de 14 mil reais, o que considero justo e legítimo. O que não concordo, sinceramente, é um movimento grevista cujas motivações não se justificam prejudicando milhares de estudantes. Sempre estarei aberto ao diálogo, franco e respeitoso," publicou.
Em resposta à postagem, Raquel Dias comentou em uma das contas oficiais do governador. “Primeiro, o Sr. criminaliza as greves tornando-as ilegais e cobrando multas aos sindicatos e a dirigentes sindicais. Depois, tenta deslegitimar as reivindicações e a própria greve questionando suas motivações, que o Sr. as conhece bem, são pautas que implicam na melhoria das condições de trabalho, de ensino e de acesso e permanência na Universidade. Depois, diz que está aberto ao diálogo franco e respeitoso? O que esperar de um diálogo não sincero e desrespeitoso a partir de agora?”, questionou a diretora do ANDES-SN.
Mobilização garante reunião
Com os coros "Professor na rua, Elmano a culpa é sua!" e "Negocia, Elmano," a comissão formada pelas seções sindicais Sinduece, Sindiuva e por representantes do movimento estudantil foi recebida, na Assembleia Legislativa, pelos parlamentares Missias Dias e Guilherme Sampaio, representantes do governo estadual na primeira rodada de negociação.
Os deputados consideraram possível levar a discussão da pauta ao governo. Com poucas perspectivas de avanço imediato, a comissão exigiu uma nova data para uma mesa de negociação mais preparada, marcada para a próxima terça-feira (11), às 10h, com a possível presença da senadora Augusta Brito (PT).
“Este é um momento crucial de articulação e presença massiva da categoria. Nossa conquista será do tamanho da nossa mobilização nas ruas!”, ressalta nota publicada pela Sinduece SSind.
Via andes.org.br