Som de crianças chorando. Essa era a trilha sonora de uma das casas que abrigam refugiadas/os indígenas venezuelanas/os em Vitória da Conquista quando integrantes da Associação dos Docentes da Uesb (Adusb) as/os visitaram na última terça-feira, 3 de setembro. Já sobre o cenário, era caótico. Mães, pais e crianças ainda na primeira infância dividiam espaço com varais de roupas, fogão e geladeira quebrados, colchões velhos, doações não separadas e garrafas PET vazias, com chão e paredes sujas.
Para eles, falta alimento, água potável, saúde, roupa, higiene e moradia digna. Localizada no bairro Jardim Valéria, a casa antiga e entulhada é lar para 9 das 20 famílias que chegaram em Conquista a partir de 2021. Essa que visitamos é alugada por R$500 e os/as cerca de 45 refugiados/as que lá vivem também arcam com água e energia. Outras 11 famílias moram em um abrigo improvisado pela Prefeitura Municipal em um prédio do IFBA emprestado para a Secretaria Municipal de Educação (Smed), em Itapirema, zona rural do município.
Perguntamos porque eles também não foram para lá. “É pequeno e longe de tudo”, respondeu Aegeni, um dos pais de família que conversamos, mesmo com a dificuldade de compreensão. A casa da periferia é perto de creche, escola municipal, CRAS, Unidade Básica de Saúde (UBS), farmácias, padarias e supermercados. As crianças, pequenas e nascidas no Brasil, choravam, pois foram vacinadas no mesmo dia da visita, mas não tinham sido medicadas para os possíveis efeitos colaterais.
As famílias indígenas Warao sofrem com uma situação indigna e desumana na cidade. Possivelmente, você já viu algum deles com uma placa pedindo doações em algum lugar do centro. Apesar de receberem auxílio do Bolsa Família, a maioria não tem acesso à dignidade, não existe um projeto de inserção social e cultural em Vitória da Conquista, o que escancara um complexo cenário de necessidades humanas e falhas na resposta institucional.
História
Os/as índigenas Warao viviam da agricultura, pesca e caça na Venezuela. As ações, durante décadas, de grandes corporações, do agronegócio, petrolíferas, forçaram os Warao a abandonarem suas terras, fazendo com perdessem seus meios de subsistência. Com as questões políticas e embargos econômicos no país, não tiveram apoio governamental e, a partir principalmente de 2016, houve uma intensificação da migração para o Brasil, em busca de melhores condições. Aegeni conta que passou por diversos estados, como Roraima e Minas Gerais, até chegar na Bahia e se estabelecer em Vitória da Conquista em meados de 2021.
Três anos se passaram e nenhuma ação contínua foi implementada para cuidar dessas pessoas que buscam melhorar a sua qualidade de vida aqui no país. Sem qualificação profissional e com barreiras linguísticas e culturais, os Waraos estão marginalizados em Vitória da Conquista.
Pedido de ajuda
As/os refugiadas/os enfrentam:
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Insegurança Alimentar;
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Falta de Moradia Adequada;
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Falta de Perspectiva de Trabalho.
De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes), em entrevista para reportagem feita pela Mega Rádio, o município recebeu recursos federais para enfrentar a emergência migratória, mas os repasses foram esparsos e inadequados para cobrir a demanda real. O que se observa é a falta de uma estrutura organizacional organizada para implementar políticas públicas eficazes. A responsabilidade pelo acolhimento e assistência está sendo compartilhada entre diferentes níveis de governo, mas sem uma coordenação eficaz.
Doações são paliativos para situação, que carece de soluções estruturais. As políticas públicas ainda não conseguiram proporcionar um suporte contínuo e sustentável. Por isso, a Adusb inicia uma campanha para arrecadar:
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Materiais de higiene;
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Materiais de limpeza;
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Roupas adultas e infantis;
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Fraldas descartáveis e leite para crianças;
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Alimentos não perecíveis;
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Remédios para adultos e crianças (dipirona, paracetamol, ibuprofeno, etc).
Doe na sede da Adusb!
Confira mais informações sobre os Warao em: