Roda de Conversa em Jequié: Infraestrutura incompleta no Campus II apresenta riscos e ameaça à saúde docente

Quem olha de fora vê trabalhadoras/es entre entulhos, britas e buracos. O piso irregular denuncia um espaço ainda em obra, sem pavimentação ou urbanização necessária. A paisagem revela uma amálgama lamentável entre o novo e o inacabado: prédios erguidos sem acessos, postes sem luz e ausência de equipamentos como estacionamento, cantina, restaurante e transporte coletivo que atenda a comunidade universitária para o deslocamento contínuo e necessário entre os campi. É nesse cenário que docentes, técnicas/os e estudantes têm tentado desenvolver as atividades acadêmicas no chamado Campus II da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Jequié. Um espaço que deveria simbolizar expansão e fortalecimento da universidade, mas que hoje revela uma estrutura apressada, entregue de forma aligeirada sem condições adequadas de funcionamento.

A Diretoria da Adusb (Associação dos Docentes da Uesb) realizou, nesta segunda-feira (13), uma Roda de Conversa sobre as condições de trabalho docente no Campus II, no auditório da Adusb/Jequié. A atividade, que contou com a presença da Assessoria Jurídica da seção sindical, teve como objetivo ouvir a categoria e discutir os impactos da transferência dos cursos da área de Saúde para o novo espaço.

O processo, inicialmente recebido com expectativa, transformou-se em frustração. Embora a Reitoria tenha anunciado, em setembro, a entrega do Módulo de Saúde como parte de um projeto de urbanização com pavimentação, acessos e iluminação, a realidade encontrada um mês depois é de precariedade. Docentes relatam dificuldades de deslocamento em pisos cobertos por brita, risco de quedas e ausência de acessibilidade para pessoas com deficiência e/ou mobilidade reduzida. 

À noite, a falta de iluminação expõe a comunidade, com aulas até às 18h, à insegurança. A precariedade também se estende à permanência no campus. Não há restaurante universitário, cantina ou espaços de convivência. O transporte entre o campus central e o Campus II, prometido como contínuo e gratuito, é insuficiente, comprometendo o deslocamento durante o dia. O resultado é um ambiente de trabalho fragmentado, que impõe desgaste físico e mental à comunidade acadêmica.

Durante a Roda de Conversa, a insatisfação com as condições do Campus II foi o eixo central das discussões. A ausência de laudos técnicos que comprovem as condições de funcionamento do espaço, como o Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT), mapa de risco, alvará de funcionamento, laudo do Corpo de Bombeiros e parecer da CIPA, foi apontada como grave omissão da Reitoria. 

Docentes também denunciaram riscos ambientais e de saúde no entorno do campus. A falta de controle de pragas tem favorecido o aparecimento de animais peçonhentos, como cobras e escorpiões. Foram relatadas ainda panes elétricas, precariedade na rede de energia e ausência de pessoal suficiente para manutenção, ampliando o risco de acidentes e comprometendo o cotidiano acadêmico.

Apesar de declarações institucionais de que o campus estaria “plenamente ocupado” no próximo semestre, a realidade é de um ambiente adoecedor e sem condições básicas de trabalho. A transferência apressada dos cursos da área de Saúde expôs servidoras/es e estudantes a situações de insegurança, desrespeito e esgotamento. As/os participantes também abordaram o clima de hostilidade e assédio vivenciado por docentes e estudantes diante da omissão da administração central da universidade. A presença da Assessoria Jurídica da Adusb foi necessária para orientar a categoria sobre os encaminhamentos legais possíveis diante dessas violações.

A Adusb reforça a necessidade de que a Reitoria apresente, com urgência, laudos e pareceres técnicos que assegurem o funcionamento do campus, bem como um cronograma público de conclusão das obras e adequações estruturais. Docentes que se sintam prejudicadas/os em exercer suas atividades nas atuais condições devem procurar a Assessoria Jurídica da Adusb durante os plantões jurídicos para receber orientação para procedimentos.

A diretoria da seção sindical também já solicitou uma reunião com a Reitoria da Uesb para dialogar a respeito da situação e aguarda um retorno da administração com uma data para o encontro. Como encaminhamento, a Adusb segue acompanhando os desdobramentos e em busca de soluções, sempre com o intuito de prezar pelas boas condições de trabalho da categoria docente.