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Atividade do Novembro Negro reuniu representações docentes, discentes e técnicas/os para denunciar mecanismos de burla nos concursos público e a precarização da permanência estudantil.
A Associação dos Docentes da Uesb (Adusb) encerrou as atividades do Mês da Consciência Negra na última quinta-feira (27) com um debate no auditório da sede, em Vitória da Conquista. A mesa "Cotas Étnico-Raciais e Racismo Institucional", mediada pela diretora Emili Conceição, expôs como a burocracia universitária, muitas vezes sob a aparência de neutralidade técnica, continua a excluir corpos negros e indígenas do espaço universitário.
A discussão teve como eixo central a pesquisa desenvolvida pela professora Ana Luísa Araújo de Oliveira (Univasf), na coordenação do Observatório de Políticas Afirmativas Raciais (Opará), que teve como um dos resultados o livro "A mão invisível do racismo institucional", do qual é uma das organizadoras. Para a docente, a aprovação da Lei de Cotas não significou o fim das barreiras; pelo contrário, o racismo se adaptou às novas regras. “O racismo institucional tem tentáculos diversos e ele sofre metamorfose à medida que nós estamos chegando nos concursos públicos”, alertou Ana Luísa.
A pesquisadora detalhou como universidades utilizaram, por anos, o fracionamento de vagas (dividir os cargos por especialidades ultra-específicas) para evitar a aplicação do percentual de reserva destinado a candidatas/os negras/os. Segundo ela, essa prática transformou a legislação em uma "lei para inglês ver" em muitas instituições, exigindo agora um processo urgente de reparação das vagas que deixaram de ser asseguradas à população negra na última década.
"Não basta acessar, é preciso permanecer"
Se para a docência o gargalo está no concurso, para o corpo discente o desafio é a sobrevivência dentro da instituição. Representando o DCE Conquista, a tesoureira e o coordenador da pasta de Negritude e Indígena, Lívia Arcanjo e Marcos Vinícius Soledade, trouxeram a realidade da sala de aula para o debate.
Marcos Vinicius destacou o impacto do mito da meritocracia na formação dos jovens, que muitas vezes chegam à universidade com culpa ou medo de reivindicar seu direito às cotas. "A gente olha e vê que em muitos espaços, dentro de vários cursos aqui da Uesb, a gente não tem aquela representatividade. E sem representatividade, muitas vezes também não tem discurso", pontuou a estudante.
Já Lívia reforçou que a política de acesso (cotas) sem uma política robusta de permanência (bolsas, restaurante universitário acessível, acolhimento) é insuficiente, gerando o risco de evasão. "A gente não dá perspectiva de vida para esses jovens", afirmou, criticando a lógica de inserir o estudante na universidade sem garantir as condições materiais para que ele conclua o curso com dignidade.
O papel de vigília
A mesa contou ainda com a participação de Márcio Dias, representando a Associação dos Funcionários da Uesb (Afus). Márcio, que atua na gerência acadêmica da Prograd, lembrou que a universidade viveu historicamente um processo de embranquecimento e que a mudança desse cenário exige vigilância constante de todas as categorias, inclusive no momento do cadastro e recepção dos novas/os servidoras/es. “Monitorar a cota é a obrigação de todos nós. É monitorar a lei, ir atrás de quando a lei foi criada e quantas vagas não foram realmente reconhecidas aqui dentro”, defendeu o técnico-administrativo.
Ao final, Emli reforçou que o combate ao racismo institucional não é uma pauta lateral, mas estruturante para o modelo de universidade pública popular defendido pelo sindicato. A gravação completa do debate, que serve como material de formação política para a categoria, está disponível no canal da Adusb no YouTube.