Os professores da Universidade Estadual da Paraíba (Uepb) estão em greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada durante assembleia realizada na manhã da última terça-feira, dia 26, no campus de Bodocongó, em Campina Grande. Até que a reitoria atenda às reivindicações da categoria, em relação à reposição das perdas salariais e reajuste de 17,7%, além de melhores condições de trabalho, os docentes permanecerão fora das salas de aula.
A categoria defende ainda uma política justa e digna de assistência estudantil e o respeito à autonomia departamental. O presidente da Associação dos Docentes da Universidade Estadual da Paraíba (Aduepb), Seção Sindical do ANDES-SN, José Cristóvão de Andrade, explica que a decisão foi tomada em função de a Reitoria não ter encaminhado nenhuma contra proposta sobre a campanha salarial 2013, e manteve a posição de reajuste zero para os servidores da instituição.
“Essa greve surge pelo descaso e descompromisso da Administração Central da universidade com a data-base da categoria. Nós protocolamos a nossa posição em outubro de 2012, período em que se organiza o orçamento da universidade. Desde então não tivemos nenhuma mesa técnica”. Segundo Andrade, só em fevereiro deste ano a Reitoria se reuniu com o sindicato, ocasião em que afirmou que não tinha margem no orçamento de 2013 para atender às reivindicações dos docentes e dos técnicos.
O 1º vice-presidente da Regional Nordeste II do ANDES-SN, Josevaldo Pessoa da Cunha, reforça a necessidade da greve por parte dos professores e técnicos. “A greve é necessária para mobilizar a categoria e fortalecer o movimento. A universidade está passando por um momento difícil, com condições de trabalho precárias, carga horária excessiva dos professores, que prejudica atividades de pesquisa e extensão. A deflagração da greve é pela desconsideração da Reitoria e do governo do estado em atendimento à pauta de categoria, que está sendo colocada desde o ano passado”, afirma.
Em Assembleia realizada no dia 19 de fevereiro, a categoria avaliou o documento encaminhado pela Reitoria e decidiu por paralização de 72 horas (nos dias 21, 22 e 25 de fevereiro) com mobilização em defesa da campanha salarial. “Marcamos uma nova assembleia para o dia 26 para tentarmos uma negociação, mas a Reitoria diz que como o orçamento aprovado para 2013 não é orçamento defendido pela universidade, a categoria deve se conformar com o que tem. Para investimento de custeio, foram reservados R$ 30 milhões. A reitoria não busca outra solução”, afirma Andrade.
Segundo ele, em 2012, ano de eleição da Reitoria, a universidade contratou mais de 350 comissionados, abusou no aumento de gratificações e gastos com atividades que o movimento não considera como prioritário no que se refere ao papel da instituição, realizou dois concursos públicos e construiu dois museus no valor de no mínimo R$ 50 milhões. Também foram contratados 350 professores substitutos e 60 visitantes.
O presidente da Aduepb afirma que o movimento não aceita o discurso da reitoria e, por isso, deflagrou a greve, fortalecendo a greve dos técnicos, iniciada no dia 20 de fevereiro. “Apesar da autonomia financeira, estamos convivendo com a realidade de não ter democracia interna para discutir a alocação dos recursos. O que manda é a política da reitoria”, denuncia.
Além das questões salariais, os professores da universidade lutam ainda contra a precarização do trabalho docente, visto que a categoria tem convivido com o aumento da jornada de trabalho; a criação de um conselho social para descentralizar o poder financeiro da reitoria; a regulamentação imediata dos reajustes salariais concedidos aos ativos por resolução do Consuni para assegurar paridade aos aposentados; a revisão da lei de autonomia para garantir a consolidação da universidade e a melhoria do ensino, pesquisa e da extensão, entre outros. “A gente defende a revisão desde que a discussão envolva a comunidade universitária e a sociedade”, acrescenta Andrade.
O comando de greve se reunirá na tarde do dia 4 de março, na sede da Universidade, momento em que serão discutidas as deliberações do movimento. Caso a reitoria insista em não negociar com a categoria, Andrade conta que poderão ser realizadas audiências públicas na Assembleia Legislativa e também reuniões com a Secretaria de Educação e com o governo. “Vamos esgotar primeiro a possibilidade de negociações internas, tendo em visa a autonomia da universidade, para depois ir para este debate maior”, explica.
Cunha explica que o comando de greve tem ido aos outros campi da Uepb para discutir a consolidação da paralisação. “O objetivo é conversar sobre a situação com a Reitoria e criar comissões de mobilização, de finanças, de negociação e de imprensa, e integrar a categoria para criar condições de se estabelecer negociação sobre a pauta da greve. A gente continua defendendo que a universidade deve consignar no seu orçamento verbas para investimento na instituição e também para campanhas salariais dos docentes e técnicos”.
“O que a gente percebe é que, além da pauta salarial, há o clima de denúncias de assédio moral, de precarização do trabalho e de falta de condições dignas de ensino nos campi criados. Isso chama o movimento a uma reflexão muito grande da realidade hoje das universidades públicas”, conclui o presidente da Aduepb.
“Sem a greve, dificilmente esta situação de isolamento e desconsideração seria rompida. O que a categoria quer é ter a pauta atendida, melhorar as condições de trabalho e valorizar o trabalho dos professores”, acrescenta Cunha, diretor do ANDES-SN.
Fonte: ANDES-SN