Há algum tempo o processo de lutas do movimento de mulheres vem crescendo.
Na Índia, em 2012, as mobilizações contra a violência sexual tiveram forte repercussão. Em 2016, as mulheres na Polônia se vestiram de preto e realizaram um dia de greve geral contra a criminalização do aborto. Em 2017, as mulheres na Coreia do Sul protestaram contra o endurecimento nas leis para médicos que realizavam abortos. No mesmo ano, na Argentina e em outros países da América Latina, incluindo o Brasil, ocorreram diversos atos contra o feminicídio e os ataques dos governos neoliberais. Nos Estados Unidos, a luta contra Trump e a marcha de mulheres no 8 de março, orientadas por importantes lideranças do movimento como Angela Davis e Nancy Fraser, ganhou importância histórica.
E assim as mobilizações do movimento seguiram ocorrendo com cada vez mais peso e organização internacional. Ao que tudo indica, neste ano, com essa importante bagagem de resistência internacionalista, as mulheres voltarão às ruas em todo o mundo e realizarão fortes greves e protestos contra a violência machista e a retirada de direitos.
Até o momento, conforme página nas redes sociais que tem centralizado os eventos do dia, em ao menos 44 países devem ocorrer atos e greves, como Argentina, Alemanha, Austrália, Bolívia, Canadá, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Inglaterra, Portugal, Turquia, Ucrânia, Venezuela e outros.
A CSP-Conlutas, que defende um sindicalismo independente, classista e de luta, é uma das centenas de entidades que compõem a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, organização que decidiu, em encontro Internacional realizado em janeiro deste ano em Madrid, Espanha, incorporar ao calendário de lutas o 8M, com o chamado para a Greve Internacional de Mulheres.
Movimento classista – Assim como em 2017, as mulheres, de modo geral, têm declarado que a luta se dá pelos 99%. E o caráter internacionalista do 8M discute a respeito de questões de diversos campos, não só sobre a desigualdade de gênero e violência machista, mas também sobre como essas implicações devem ser vistas num contexto estrutural da sociedade, trazendo temas como encarceramento, silenciamento e criminalização.
O novo manifesto publicado e assinado por mulheres que são importantes figuras públicas do movimento norte-americano, por exemplo, cita a luta contra o militarismo e colonialismo dos EUA. Por isso, destacam as relações com Israel, que afetam as mulheres e é exemplificado pelo caso recente e bastante conhecido da prisão da jovem ativista Ahed Tamimi. “Sabemos que o mesmo Estado que envia dinheiro a Israel para brutalizar a palestina Ahed Tamimi e sua família, também financia as prisões nas quais mulheres afro-americanas, como Sandra Bland e tantas outras, morreram”, frisam.
O encarceramento é pauta em diversos países, e no Brasil a situação é cada vez mais alarmante. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), nos últimos 17 anos houve um aumento de 700% na quantidade de encarceradas no país. Ocupamos assim o 5º lugar em encarceramento de mulheres. Tal cenário ainda é mais preocupante com gestantes ou mães. Em 2017, elas representavam 622 presidiárias, que estavam grávidas ou amamentando, submetidas a péssimas condições – leia mais na matéria: 8 de Março: construir a greve internacional de mulheres contra a violência machista e os ataques dos governos.
A luta é internacional – A CSP-Conlutas fez o chamado para que homens e mulheres da classe trabalhadora construam um forte 8M. Diversas categorias confirmaram atos, atrasos na produção, paralisações e assembleias.
Confira o balanço parcial de atos marcados para o dia na matéria: Convocações de atos, assembleias e paralisações preparam 8 de Março de Luta
A Central acredita que nenhum ataque aos direitos das mulheres é isolado. E que portanto a luta contra as ofensivas deve se dar com um olhar internacionalista.
“No mundo todo acontecem muitas violações aos direitos das mulheres trabalhadoras. A crise de refugiados, o massacre de civis na Síria, os planos de austeridade na Europa, que se parecem muito com as reformas em curso no Brasil, a própria violência machista que já é considerada uma pandemia e a criminalização crescente do aborto, são exemplos de que a nossa luta contra o machismo e contra a exploração capitalista devem ganhar contorno internacional”, frisa a integrante da Secretaria Executiva Nacional da Central, Marcela Azevedo.
Na Espanha, a CGT convocou greve geral de 24 horas, com força de mobilização de estudantes e trabalhadores do setor público e privado. Além disso, os movimentos defendem que a greve não seja feita apenas no ambiente de trabalho, considerando as atividades domésticas também, acumuladas em geral pelas mulheres.
A dirigente da Secretaria de Mulheres da Central espanhola, Paula Ruíz Roa, destacou em entrevista para o periódico de esquerda Rojo y Negro que as mulheres estão fartas de tanta precariedade no trabalho e desigualdade de gênero. “Esta greve é fundamental pois são muitos anos de reivindicações e lutas. As mulheres precisam trabalhar, em média, 60 dias a mais ao ano para ganhar o mesmo que um homem. Todas as trabalhadoras e trabalhadores, de qualquer setor, público e privado, devem construir este dia. Precisamos parar a produção e também o consumo neste dia”, afirmou. Eles também defendem que a igualdade salarial deve ser um direito fundamental para as mulheres imigrantes e refugiadas.
Na França, atos devem ocorrer em Bordeaux, Lille, Lorient, Marselha, Paris, Toulouse e outros locais. A União Sindical Solidaires convocou as entidades a participarem das ações do 8M, declarando que esta não é uma data a ser “comemorada”, mas que é momento de lutar “pelos direitos das mulheres em convergência com todas as lutas, das mulheres de todo o mundo”.
“Na Argentina, o movimento denuncia o quanto a Reforma da Previdência ataca os direitos das mulheres. Aqui no Brasil, vivemos situação semelhante. Por isso e outros diversos motivos, a convocação da Greve Internacional de Mulheres é muito importante e deve ser tomada como um exercício para fortalecer a unidade do conjunto dos trabalhadores e avançar em nossas lutas”, conclui Marcela.
Fonte: CSP-Conlutas