Relações entre ações afirmativas e combate ao racismo são debatidas

A mesa “O racismo no Brasil e as políticas de reparação e promoção da igualdade racial na atual conjuntura” aconteceu na quinta-feira (28), em Vitória da Conquista. O evento foi realizado pelo Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para Questões Étnico-raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) e o Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais (GTPE). A forma de estruturação do racismo no Brasil e o papel das ações afirmativas foram debatidas por Ari Fernandes (UFOB) e Tânia Torreão (UESB).

Em um estado capitalista e neoliberal, o racismo é acionado para produzir segregação e desigualdade. De acordo com o professor da UFOB, Ari Fernandes, trata-se de um “sistema epistêmico-político, de caráter histórico-geográfico, acionado por demandas da superestrutura”, ou seja, por demandas do processo de exploração das forças produtivas. Mesmo com o fim da escravidão no Brasil, a herança colonial tornou-se um empecilho para o acesso de negras e negros ao trabalho remunerado. Não havia cultura de pagar pelo seu trabalho ou entender que eram capazes de fazer determinadas tarefas, o que contribuiu fortemente para a marginalização da população negra.

Ari defendeu que o reclame por ações afirmativas atua na pauta contra hegemônica, “pois se dizemos que tem sim que ter um recorte de cotas para que a gente vença a superestrutura, eu estou denunciando que a superestrutura é racista. No momento em que eu digo que sem cotas não vamos ter pretos e pardos na universidade, ou nos postos mais altos de trabalho, eu estou dizendo que existe essa estrutura montada para limitar corpos negros de se fazerem presentes em determinados lugares”. A luta contra as ações afirmativas está ligada a tentativa de impedir o acesso da população negra a ferramentas que possibilitem pensar o mundo a partir da sua realidade e impedir suas repercussões. O docente entende os ataques às políticas de permanência estudantil como mais uma tática para impedir que negras e negros concluam o ensino superior.

A integrante do GTPCEGDS, Tânia Torreão, discutiu a importância das políticas de reparação e igualdade racial “para garantir direitos, para garantir a nossa existência” e fez relatos de como a UESB é um espaço que reproduz o racismo no cotidiano das relações de trabalho e estudo. Uma das críticas se deu sobre a forma como as bolsas do PIBID AF são distribuídas, pois “contam como ações afirmativas, mas são escolhidos projetos gerais, sob os mesmos critérios que as outras bolsas são oferecidas”, disse Tânia.

As resoluções da Uesb que tratam das ações afirmativas, especialmente as que estipulam o percentual de 50% das vagas para cotas aos estudantes oriundos de escolas públicas, foram debatidas. “Eu acho curiosa essa diluição, essa pulverização [da pauta étnico-racial]. São estratégias que a universidade e sua gestão, evidentemente, usam para diluir as pautas de natureza exclusiva. Cada enfrentamento de cada uma das pautas, LGBT, negro, foi diluída nisso. O que é que essa pauta informa? Que pobreza não tem cor, que classe não tem cor e classe tem cor sim”, criticou a docente. Tais políticas foram consideradas fundamentais para definir o equilíbrio da balança do acesso à universidade pública. No entanto, é preciso ter claro que “elas nada fazem senão engolfar e diluir o problema da desigualdade racial que o Estado quer promover” disse Tânia.

Cartilha de combate ao racismo

Durante a atividade a representante do GTPCEGDS, Sandra Ramos, fez o lançamento da cartilha de combate ao racismo do Andes-SN. O material “traz pontos importantes de como proceder em casos de racismo, como procurar ajuda quando estiver enfrentando injúria racial. É uma cartilha que ajuda a entender a forma como o racismo está estruturado”, afirmou Sandra.

A docente acrescentou ainda que o GTPCEGDS “busca acima de tudo a implementação de políticas de combate às opressões, mas dentro da perspectiva classista. Portanto, nossa perspectiva de combate ao racismo está relacionada à questão de classe”.

Acesse a cartilha.