Pessoas em situação de rua são as que mais sofrem com a pandemia do coronavírus

Com a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que todos fiquem em casa, para se proteger e não propagar o coronavírus, como fica a população em situação de rua? Essa parcela da sociedade, que já vive em meio a insalubridade, a limitação no acesso à saúde e a fome, agora terá mais um desafio para enfrentar: o Covid-19.

A assistente social e militante do Luta Popular Nayara Gonçalves alerta sobre essa triste realidade. “Impossível falar em isolamento e quarentena para quem não tem casa, e ainda impossível manter distância um dos outros quando sabemos que viver em grupos é uma estratégia de proteção para o povo da rua. Impossível falar de higienização para pessoas que sequer tem água para beber! Impossível manter um corpo imune e sadio quando não se tem o que comer”, aponta a ativista em nota divulgada pelo movimento.

A questão básica da importância da higienização das mãos também foi apontada por Nayara como outra barreira contra o vírus. “Sabemos que a população em situação de rua não tem acesso ao mínimo, e assim como podemos nos debruçar em falar de higienização das mãos como prevenção, se não se tem água nem para beber?”, questiona.

Além disso, a ativista alerta que muitas pessoas que forneciam alimentos de maneira voluntária estão praticando o isolamento social. Muitos que trabalham com reciclagem e tiram deste meio seu sustento não estão podendo fazer a coleta, já que boa parte dos ferro-velhos não estão abertos. “Os comércios e a circulação de pessoas diminuíram drasticamente o que também inviabiliza as pessoas “manguear”, pedir, ou esmolar o termo que a maioria das pessoas conhece”, alerta.

Nayara aponta que essa falta de circulação também prejudica essa parcela da sociedade. “Comer, infelizmente, em sua maioria, não é garantido pelo estado, mas sim pelas ações de caridade da sociedade civil. Acontece que em um momento como esse a comida passa a ser mais um problema, pois o alimento que chegava várias vezes ao dia, não está mais chegando”, completa a ativista.

A militante alerta para a necessidade de abrigos em condições adaptadas para receber a população em situação de rua, assim como medidas de isolamento para aqueles que apresentarem os sintomas.

O governo implementou algumas medidas como auxilio emergencial para os trabalhadores e os mais pobres no valor de R$ 600. No entanto, essa renda pode não chegar à população de rua, que, em muitos casos, não tem sequer documentos, além de terem limitados o acesso à tecnologia necessário para, por exemplo, preencher o cadastro via internet, para o recebimento do benefício, ao baixar o aplicativo, já que muitos não tem celulares.

É preciso pressionar os governos

Em São Paulo, pelo menos 24.344 pessoas viviam nas ruas, de acordo com dados coletados pelo Censo demográfico, em 2019.

O Padre Júlio Lancellotti, que atua na proteção das pessoas em situação de rua em São Paulo, criou uma petição online para pressionar a Prefeitura de São Paulo que promova ações efetivas em favor dos moradores de rua durante a pandemia do coronavírus. Pelo menos 71 mil assinaturas foram coletadas com o pedido de acolhimento e kits com álcool gel e materiais de higiene para as pessoas em situação de vulnerabilidade nas ruas.

Um projeto de lei foi apresentado no final de março em São Paulo voltado para a proteção de pessoas em situação de rua em São Paulo.

Apresentado pela deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL),  o PL 156 prevê entre diversas medidas de pontos de água potável em todas as praças públicas, a distribuição de máscaras e produtos de higiene em equipamentos e serviços voltados aos moradores em situação de rua e a implementação da Renda Básica de Cidadania à população desabrigada no valor de R$300.

Para a integrante do Luta Popular Irene Maestro é preciso cobrar dos governos políticas públicas que atendam as pessoas em situação de rua e os mais pobres e, para isso, fazer pressão. “Vamos cobrar do poder público direitos básicos nesse momento de pandemia do coronavírus, mas também é preciso que a gente se auto-organize e fortaleça ações que protejam o povo pobre, fazendo pressão em baixo para que os de cima se movam”, frisa.

Outras formas de ajudar

Confira abaixo passo-a-passo divulgado pelo Luta Popular para ajudar em Kits de Higiene pessoal para a população de rua:

Artes: Jornal Vozes da Rua

Via cspconlutas.org.br