Abraham Weintraub sai do Brasil como ministro da educação e ao chegar nos Estados Unidos é exonerado

Com apoio do Presidente da República e utilizando a prerrogativa de ministro, Abraham Weintraub “foge" das denúncias.

Em uma ação orquestrada, Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, conseguiu "fugir" da Justiça brasileira. Mesmo com as fronteiras dos Estados Unidos (EUA) fechadas para brasileiros, o ministro, ao que tudo indica, usou um passaporte diplomático para entrar no país. A viagem ocorreu antes que sua exoneração saísse no Diário Oficial da União no sábado (20), por volta de 12h, o que lhe garantiu evitar a quarentena imposto pelos Estados Unidos a turistas.

A sua saída súbita do país levanta suspeita por ser atualmente investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito que apura ataques a membros do STF e pelo crime de racismo contra cidadãos chineses. Na sexta-feira (19), parlamentares da oposição protocolaram no STF um pedido de apreensão do seu passaporte para evitar que ele saísse do Brasil, o que parece ter apressado sua saída.

Também na sexta-feira, Abraham Weintraub havia afirmado, por meio de uma rede social, que pretendia sair do Brasil "o mais rápido possível", e que isso deveria acontecer em "poucos dias". Um dia antes, Weintraub havia divulgado um vídeo com o presidente Jair Bolsonaro se despedindo do cargo. Segundo o MEC, o ex-ministro seguirá para o Banco Mundial, onde atuará como diretor representando o Brasil.

Desde sua partida para o EUA e, depois, a sua exoneração, algumas questões têm surgido com relação a um possível desvio de dinheiro público. O Partido Socialismo e Liberdade (PSol), por meio do gabinete de um dos seus deputados, solicitou via Lei de Acesso à Informação respostas ao governo federal. "O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, pegou avião da FAB na rota para deixar o Brasil? Usou passaporte diplomático? Foi recebido nos EUA por Nestor Forster, indicado a embaixador do Brasil em Washington?", segundo informações publicadas pela Folha de São Paulo.

Nesta segunda-feira (22), Abraham Weintraub publicou uma mensagem, nas redes sociais, em agradecimento às pessoas que o ajudaram a deixar o Brasil.

A gestão de um ano e dois meses de Weintraub à frente do MEC foi marcada por ataques, conflitos e deboche. O economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), patrocinou o mais violento ataque à autonomia universitária através do Future-se e diversas portarias. Seu mandato foi marcado pelo contingenciamento de verbas para as instituições de ensino superior, corte em bolsas da Capes na área de Ciências Humanas e Sociais. Também fez parte do seu legado, ataques racistas aos povos indígenas, a xenofobia contra os chineses, a censura com declarações incitando estudantes a filmar professores em sala de aula. Weintraub também acusou as instituições de fazerem "balbúrdias" e de ter plantações de substâncias ilícitas como maconha e produzirem metanfetaminas nos laboratórios de Química. 

Aprendizados

Não é porque uma gestão é a mais desastrosa possível que ela não pode piorar ainda mais ao terminar. Quando todos os que prezam a ciência e o conhecimento pensavam em respirar aliviados, frente às notícias que apontavam o pior ministro da Educação que o Brasil já teve como prestes a deixar o cargo, ele retira do seu saco de maldadades uma lembrança significativa de sua administração. Nada poderia simbolizar melhor o objetivo maior do atual governo do que uma portaria excluindo negros, indígenas e pessoas com deficiência das vagas de pós-graduação das universidades, institutos federais e Cefet. A última cartada do ministro apenas explicita a necropolítica que pautou todos os momentos da sua assombrosa atuação no ministério, que causou a cada dia uma desgastante mistura de perplexidade e desânimo. 

Só não respiramos aliviados porque, claro, o projeto do atual desgoverno continua o mesmo e sabemos que sem dúvida o próximo ministro será igualmente privativista e destrutivo; só podemos desejar que seja menos vergonhoso, representado por uma pessoa que ao menos saiba escrever e tenha alguma familiaridade com a área da Educação.

Entretanto, a manhã de sábado já nos trouxe a notícia inacreditável de que Weintraub havia fugido para os Estados Unidos, possivelmente às expensas dos cofres públicos, cercado por boatos de ter levado consigo dinheiro público e, como logo confirmado, sob a cumplicidade do presidente da República, que apenas publicou a exoneração no dia seguinte, para garantir a proteção do passaporte diplomático ao seu aliado.

Como consolo por não poder mais brilhar cantando, dançando e fazendo piadinhas nos vídeos em que deveria apresentar políticas públicas para a Educação, falar sobre o ENEM ou conduzir a comunidade acadêmica por um período traumático de pandemia, o ex-ministro foi indicado para um cargo no Banco Mundial, agraciado por um salário espetacular. Imediatamente, protestos e reações começaram a aparecer para evitar a concretização desse absurdo. E é aí que reside a nossa esperança: que os demais atos anticiência, contra a educação, contra os brasileiros, sejam anulados pelo tempo e que a sociedade consiga construir, sobre o rastro de destruição que esse governo deixa atrás de si, os alicerces de um país mais justo e igualitário.