Calamidade no Amapá continua. É preciso um programa para defender os trabalhadores e o povo pobre

Foi na noite de 3 de novembro que uma subestação de energia em Macapá pegou fogo e desde então a população do Amapá vive as graves consequências do apagão que atingiu 14 dos 16 municípios do estado. Já são 13 dias de falta total ou parcial de energia, água, internet, alimentos, combustível e outros itens de necessidade básica.

Os governos de Bolsonaro, Waldez e Clécio mentem alardeando que o fornecimento já foi normalizado entre 70% e 80% no estado. Mas a verdade é que a situação é crítica em todos os municípios com um agravante: o pouco que foi normalizado tem sido para atender regiões ricas que concentram os ricos e poderosos.

Para a maioria da população, a situação segue de barbárie e uma forte luta, por energia, água potável e comida, toma as periferias de Macapá. Segundo Clodoaldo Rodrigues, da Executiva da CSP-Conlutas/AP, já foram mais de 50 protestos em muitos bairros.

“Todo dia tem manifestação. Semana passada, chegou a acontecer mais de 10 atos simultâneos. Nos conjuntos habitacionais da periferia, houve muita radicalidade e enfrentamento com a PM. Tivemos uma semana de apagão completo, mas mesmo o rodízio que passou a ser implementado depois pelo governo é muito mal organizado e a reclamação é geral. Comerciantes seguem perdendo mercadoria e a população mais pobre sofre com falta de água, energia, alimentos. Não é a toa que cresce a indignação”, relatou.

Por conta da situação, Macapá não teve eleições neste final de semana. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) foi obrigado a adiar o pleito em razão da situação.

“A situação segue gravíssima e foi só em razão da pressão dos protestos que estão ocorrendo nos bairros que adiaram as eleições. Porém, os governos, que foram omissos aos problemas no estado e não conseguem resolver a situação, estão tentando criminalizar as justas manifestações populares, inclusive, colocando a polícia para reprimir a população”, denuncia Clodoaldo.

Reportagem do jornal Valor Econômico revela que o governo Bolsonaro e órgãos do setor sabiam dos riscos no estado do Amapá há dois anos.

Documentos do Ministério de Minas e Energia, do Operador Nacional do Sistema (ONS) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) indicam que a subestação atingida, a SE Macapá, operava no limite da capacidade, há cerca de dois anos, e sem condições de religar imediatamente a rede se dependesse de um transformador sobressalente, de “backup”, com indisponibilidade reportada ao ONS há 11 meses.

O incêndio ocorrido na subestação é alvo de investigação por parte do Ministério Público Federal e também do Tribunal de Contas da União, para verificar a responsabilidade sobre o apagão, bem como se houve omissão por parte do poder público.

Segundo Clodoaldo, o apagão ocorrido após o incêndio na subestação é apenas “a ponta do iceberg”.

“O caos no abastecimento de energia não tem data prevista para voltar 100%. Mas, mesmo depois que resolverem pontualmente a troca do transformador, seguiremos enfrentando o péssimo serviço privatizado de energia no estado, responsável pela crise que vivemos atualmente, o alto das tarifas e da cesta básica e ataques como a reforma administrativa, que visa destruir ainda mais o estado. Por isso, defendemos que precisamos nos unificar e lutar por um programa emergencial que responda às principais demandas dos trabalhadores da população neste momento de crise”, concluiu.

Um programa contra a crise

Partindo da iniciativa solidária da sessão sindical do ANDES-AP, que já vinha arrecadando donativos em razão da pandemia, a CSP-Conlutas irá ampliar a campanha de solidariedade ao povo do Amapá , através da direção estadual da Central, juntamente com o ANDES-SN, ADUFPA e Sindufap.

A proposta é apresentar e mobilizar por um plano regional dos trabalhadores para enfrentar a crise do apagão no estado. A exemplo do plano nacional emergencial contra a crise lançado pela Central diante da pandemia, a proposta é apresentar uma plataforma de reivindicações que responda às necessidades da população diante da grave situação no estado.

Será realizada uma ampla campanha, com cartazes, panfletos, spots para rádios e carros de som e iniciativas para organização e mobilização dos trabalhadores e da população pobre.

Via cspconlutas.org.br