Com risco de terceira onda e vacinação lenta no país, ministro da Educação defende volta às aulas

Seguindo à risca a receita negacionista do governo de Jair Bolsonaro, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, defendeu a volta imediata das aulas presenciais em discurso transmitido a todo o país, na noite da terça-feira (20).

Sem qualquer diálogo com a sociedade, a declaração desconsidera o risco iminente de uma terceira onda da doença, agora causada pela variante delta, e o fato preocupante de que apenas 17% da população está totalmente imunizada.

Até o momento, 12 dos 27 estados já reabriram as escolas públicas para o ensino com menos restrições. 10 estados o farão em agosto. Na Paraíba e no Acre, a abertura das atividades educacionais ocorrerá em setembro. Bahia e Roraima ainda não definiram um cronograma de retorno.

A experiência acumulada no país, com o retorno limitado às aulas, indicam que a volta do ensino sem restrições traria um grande impacto não somente a comunidade escolar, mas a uma grande parcela da população.

“Segundo um estudo recente realizado na cidade de Maragogi (AL) por pesquisadores da USP, FGV e UERJ, o risco de contaminação nas escolas poderia aumentar em 178% com o retorno presencial, mesmo se os trabalhadores da educação estivessem completamente imunizados”, alerta Flávia Bischain, diretora da Apeoesp e professora da rede estadual em São Paulo.

“A aglomeração faz parte da vida escolar e com os sucessivos cortes, as escolas públicas não têm estrutura nem pra manter os protocolos, além de serem ambientes fechados e mal ventilados”, alerta.

Segundo o último Censo Escolar, alunos e professores somam mais de 40 milhões de pessoas. Estas estarão circulando e expondo-se aos riscos do contágio pelo vírus. Um estudo feito pela Fiocruz divulgado no início, mais de 9 milhões de pessoas com problemas crônicos de saúde seriam afetadas pela volta à normalidade nas salas de aula.

Culpa é do governo

Na defesa ao retorno do ensino presencial, Ribeiro alegou preocupação com as consequências à aprendizagem, caso os jovens não retornem às escolas. No entanto, procurou eximir o governo federal de qualquer culpa pela situação da Educação no país.

A realidade é que 4 milhões de alunos não tiveram acesso ao ensino remoto no período da pandemia. Mesmo neste cenário, Bolsonaro vetou o projeto de lei que garantia internet a uma parcela de alunos e professores da rede pública.

“Agora que o veto foi derrubado, ele está entrando na justiça pra não pagar! Ou seja, o Ministro, o presidente e os governadores que querem impor o retorno presencial nas atuais condições, não se preocupam nem com a educação, nem com a vida dos estudantes, trabalhadores da educação e seus familiares”, afirma Flávia.

Interesse do empresariado

Joaninha Oliveira, da Secretaria Nacional da CSP-Conlutas, afirma que o verdadeiro motivo da pressão governamental pela volta à normalidade é atender aos interesses do empresariado da Educação.

“Esta política do governo é absolutamente alinhada ao mercado financeiro e da educação. Isto ocorre para agradar os tubarões do ensino, como os conglomerados educacionais, escolas particulares e instituições de caráter privatista”, garante Joaninha.

“A grande pergunta que as escolas estão fazendo neste momento é o que de fato o Ministério da Educação fez, até agora, para discutir a condição da escola pública durante a pandemia. Durante este período praticamente não tivemos ministro da Educação ou da Saúde”, conclui.

Variante delta

Encontrada primeiramente na Índia, a variante delta da covid-19 já caminha rapidamente para se tornar a dominante no mundo. Por sua maior transmissibilidade, até mesmo países com a vacinação avançada, como Inglaterra e Estados Unidos, testemunham um novo aumento de casos e mortes.

“A posição da CSP-Conutas continua sendo ‘escolas fechadas, vidas preservadas’. Eu estou em contato com várias regiões do país e há uma preocupação imensa com a recontaminação de quem já foi vacinado e com a contaminação. Não existe normalidade. É preciso continuar com as aulas remotas, por que os protocolos de segurança são falsos”, afirma Joaninha.

Segundo os dados dos cartórios civis divulgados na terça, a covid-19 já é a maior causa de mortalidade entre jovens de 10 à 19 anos no Brasil. Somente em 2021, 1.581 jovens já perderam a vida em decorrência da doença.

CSP-Conlutas