Carta às lideranças dos Caminhoneiros e Caminhoneiras autônomas do Brasil
O caminhoneiro Marcelo Aparecido Santos da Paz, de 36 anos, fotografado em seu caminhão em Santos. Foto: Alex Almeida/El País

Antes de tudo quero reiterar o nosso irrestrito apoio às pautas e as lutas econômicas dessa categoria que, desde o último dia primeiro, iniciou mais uma mobilização grevista. Na luta pelo piso mínimo do frete; pela redução e congelamento dos preços dos combustíveis que inclui a exigência da alteração na política de preços da Petrobrás, o fim do chamado PPI (Política de Paridade Internacional); a exigência da retomada do direito à aposentadoria especial aos 25 de trabalho na profissão são, entre muitas outras demandas, bandeiras justas e necessárias para que, conquistando-as, vocês possam retomar o mínimo de dignidade nas condições de trabalho e de vida para suas famílias.

Nesses dias de lutas, nós estamos assistindo a uma grande ofensiva por parte do governo federal, seu ministério e dos tribunais de justiça contra o direito do exercício constitucional de greve. Uma verdadeira avalanche de liminares e interditos proibitórios foram desferidas contra o movimento. A utilização da justiça para atacar o direito de greve tem sido uma prática constante de patrões e governos de todas as esferas de gestão contra a luta de nossa classe e essa parafernalha vem acompanhada da utilização de tropas repressivas contra a nossa classe. É isso que, por óbvia orientação do presidente da República, está sendo praticado contra vocês, caminhoneiros e caminhoneiras, nesse momento e, sinceramente, é nessas horas que a gente consegue ver, afinal, de que lado está o governo e as instituições. Nesse caso, contra vocês e, por consequência, contra o conjunto de nossa classe, a classe trabalhadora.

É certo que, pra vocês, não tem sido possível transportar com diesel acima de R$ 5 o litro, com pneu a R$ 2, 3 ou 4 mil, com essas tarifas abusivas de pedágios, sem piso mínimo do frete; tanto quanto é certo que para uma família trabalhadora não é possível seguir obrigada a pagar R$ 120 no gás de cozinha. Tudo isso, a gente tendo em volta dessa realidade mais de 14 milhões de desempregados, 20 milhões diretamente passando fome, 90 milhões no subemprego e, ainda, a dolorosa marca de mais 600 mil mortos vítimas da Covid-19. Não obstante, as tarifas de luz, aluguel e o preço dos alimentos nas alturas empurram os pobres ainda mais pra baixo. Está muito difícil e, por isso, é preciso lutar e buscar nas nossas pautas o sentimento coletivo da dificuldade de que nosso povo está passando, nos reencontrarmos enquanto classe trabalhadora e enfrentarmos juntos, na luta, todos os responsáveis por essa situação. A greve de vocês pode e deve ser um ponto de apoio para nossa resistência e aprendizado comum.

Já ficou evidente que não haverá outra forma de enfrentar essa ofensiva a não ser resistir, ser criativo e até tomar ações coletivas mais contundentes para enfrentar essa situação como vocês já o estão fazendo nesses dias. Ressaltamos que será necessária muita unidade de ação, bem como bastante unidade orgânica entre as entidades e lideranças do movimento. De nossa parte, para os movimentos sindicais e populares em geral, a tarefa é cobri-los de muita solidariedade ativa, como nos tem dado exemplos as lideranças petroleiras que, em diversos pontos do país, já estão engajadas na greve de vocês.

Sim, é da velha e necessária luta de classes que nós estamos falando e que, nesse momento, vocês Caminhoneiros e Caminhoneiras Autônomas, estão protagonizando. Caberia as Centrais Sindicais desse país, começando pelas maiores, se apoiar nessa luta e apontar o caminho da construção de uma Greve Geral dar um BASTA nessa política e no governo que nos torna refém dos interesse de grandes conglomerados empresariais e financistas estrangeiros e também nacionais; que submete a política de preços dos combustíveis a tal paridade internacional, enquanto destrói e desmonta nossa capacidade de produção e refino de petróleo a serviço de entregar a nossa soberania nacional. Não é à toa que o discurso da privatização da Petrobrás volta nos seguidos vômitos orais do atual presidente.

Nós temos insistido muito na necessidade da construção da Greve Geral mas, infelizmente, não temos tido retornos da cúpula dirigente das grandes Centrais Sindicais e, tão dos partidos da chamada esquerda ou aqueles que se dizem oposição, e opinamos que isso é um erro gravíssimo que, entre tantas explicações, se sustenta na submissão ao calendário eleitoral e nos interesses desses atores, lideranças e dirigentes políticos. Com o cenário de crise instaurado nesse pais e as duras consequências à vida de nosso povo não dá pra ficar esperando 2022. É preciso lutar agora e parar essa sangria de nossa nação. A resistência da greve de vocês, Caminhoneiros e Caminhoneiras autônomas, é grande ponte de apoio para que possamos empalmar a necessária unidade e intensificação da luta da classe trabalhadora brasileira.

São Paulo, 2 de novembro de 2022.

Vamos juntos

Todo apoio a Greve dos Caminhoneiros e Caminhoneiras Autonomos;

Rumo à Greve Geral!

Atnágoras Lopes – CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular)

 

CSP-Conlutas