Mais de 100 cidades em MG e BA estão em situação de emergência. População enfrenta cenário de destruição

Mais de 100 cidades do sul da Bahia e norte de Minas Gerais estão em estado de emergência desde que fortes temporais caíram na região na semana passada. Em alguns locais a chuva deu uma trégua, em outros, ainda continua caindo todo dia. Mas em comum, o cenário de destruição.

Em MG, são 58 municípios em estado de emergência e na BA, 51. A força das chuvas provocou o transbordamento de rios, enxurradas, deslizamentos de terra e alagamentos que afetaram bairros inteiros. Oficialmente, pelo menos, 15 pessoas morreram, sendo a maioria das vítimas fatais baianas (12). Milhares de pessoas tiveram de sair de suas casas e estão desalojadas ou desabrigadas (dependem da assistência do governo).

O governo baiano estima em mais de 220 mil pessoas atingidas de alguma forma. No estado há 15 comunidades isoladas quase uma semana depois dos temporais em razão de avarias em pontes e estradas. Em alguns locais, o fornecimento de água e energia elétrica ainda não foi restabelecido por completo.

Vídeo mostra área alagada em Palmópolis (MG) na semana passada:

Ciclone extratropical

A explicação para o alto índice pluviométrico que causou as enchentes nos dois estados é a ocorrência de um ciclone extratropical. No extremo sul da Bahia, as chuvas chegaram a gerar 450mm de água.

O professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, disse ao UOL que as enchentes registradas no sul da Bahia podem acontecer novamente. “Vamos ter diminuição de chuvas nestes dias, mas isso pode voltar no final desta semana e na próxima, e não se descarta o retorno desse fenômeno [La Niña] em janeiro”, alertou o especialista.

O La Niña ocorre quando correntes marítimas mais frias sobem e chegam à superfície do Oceano Pacífico. Pode causar desde uma estiagem até chuvas mais intensas, dependendo da região do país. Entretanto, o que especialistas alertam cada vez mais é a relação de fenômenos extremos com as mudanças climáticas no planeta, fruto da intervenção humana.

Temporada de chuvas

Os governos estaduais e o governo federal têm anunciado algumas ações de socorro às comunidades, tais como a antecipação da liberação de repasses de recursos. Equipes da Defesa Civil, Bombeiros, além de organizações de assistência social como Cruz Vermelha e outras, vem se mobilizando para auxiliar nas cidades atingidas.

Entretanto, relatos mostram, por exemplo, a dificuldade da Defesa Civil em várias localidades em razão da falta de infraestrutura. Indígenas do povo Pataxó, em um dos territórios mais antigos da etnia na região de Porto Seguro (BA), denunciam a falta de assistência do governo Bolsonaro, que sobrevoou o estado em um avião da FAB.

A queda de uma ponte deixou a comunidade isolada. De acordo com Emerson Pataxó, 3 mil indígenas estão isolados no território Barra Velha. “A vulnerabilidade social nessas comunidades já era uma realidade antes da chuva, e, agora, aumenta porque grande parte dos nossos povos vive do turismo, artesanato. Com as fortes chuvas, não temos onde escoar as mercadorias”, lamentou em entrevista ao UOL News.

Começa agora a temporada de chuvas no Brasil e, ano após ano, mesmo quando não ocorrem fenômenos mais extremos, o que se vê são tragédias em razão de deslizamentos e alagamentos que atingem principalmente os mais pobres e vulneráveis.

“Em geral, os mortos e desabrigados são de famílias que sobrevivem em ocupações, periferias, moradias precárias ou em situações de risco. Ou seja, as principais vítimas dessas tragédias são os mais pobres”, avalia o Jordano Carvalho, da direção estadual de MG da CSP-Conlutas.

“Políticas habitacionais para a construção de moradias, regularização de bairros, investimentos em infraestrutura, sistemas de prevenção deveriam ser medidas que poderiam prevenir ou atenuar situações como essas. Mas, regra geral, sabemos que essa não é a política dos governos”, criticou.

Com informações UOL e G1
Via cspconlutas.org.br