Novas variantes da Covid acendem alerta, mas, no Brasil, Bolsonaro quer rebaixar pandemia para “endemia”

Apesar da dinâmica de redução dos casos e mortes por Covid-19 no mundo, cientistas estão acompanhando com atenção o surgimento de novas variantes e o surto de casos na China e têm alertado que a pandemia ainda é uma realidade.

Nesta quarta-feira (16), o Ministério da Saúde de Israel divulgou que foram registrados dois casos de Covid por uma variante ainda não identificada.  A nova cepa combina a subvariantes BA.1 (Ômicron original) e BA.2 (subvariante da Ômicron) e as pessoas contaminadas apresentaram sintomas leves de febre, dores de cabeça e musculares e não precisaram de cuidados médicos especiais, segundo informado às agências de notícias.

Outra variante em circulação está sendo chamada de Deltracron, pois combina as cepas Delta e Ômicron.

Já na China, o governo anunciou lockdown e fechamentos parciais em várias províncias, afetando 37 milhões de pessoas, depois que o país registrou na terça-feira (15) o maior surto diário de Covid-19 desde o início da pandemia. Foram 5.280 casos em 24 horas, com prevalência da Ômicron.

Subvariante BA.2

O médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Gonzalo Vecina afirmou, em entrevista ao UOL, que a Deltacron está longe de ser uma preocupação e provavelmente não ocupará nenhum espaço na vida dos brasileiros. Contudo, alertou que a subvariante BA.2 traz preocupação.

“Ela está sendo chamada de furtiva porque pode fugir de como você faz a identificação do vírus através do teste de RT-PCR. Ela pode passar despercebida e essa variante é mais infectante do que a BA.1 e traz preocupação”, disse.

Governo Bolsonaro ignora situação

Já no Brasil, apesar desse cenário, Bolsonaro e o ministro Marcelo Queiroga estão totalmente alheios à realidade e falam em mudar a classificação da pandemia para “endemia”, rebaixando a gravidade da doença.

Especialistas criticam a proposta. À CNN, o presidente da Sociedade de Infectologia, Alberto Chebabo, afirmou que não cabe ao governo definir se o Brasil sairá da pandemia. “Isso é analisado de forma global, de acordo com o momento epidemiológico pelo qual os países estão passando”. É prerrogativa da OMS classificar uma doença como pandêmica (que têm disseminação mundial e intensa) ou endêmica (quando é recorrente, mas não há explosão de casos e a população convive com a doença).

“É cedo para falar sobre essa mudança, com vários países ainda passando por uma onda com alto número de casos, como é o exemplo da China. Para haver mudança, é necessária uma avaliação de que os números de casos, internações e mortes estejam estáveis por um tempo e que se tenha atingido um percentual de vacinação satisfatório, principalmente das populações vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos”, disse.

Outro elemento destacado é que essa mudança significaria acabar ou reduzir políticas importantes de enfrentamento à Covid-19. Isso é preocupante no país em que o governo de Bolsonaro boicotou desde o início as principais medidas de combate à pandemia, como o uso de máscaras, distanciamento social e até mesmo a vacinação.

Relaxamento prematuro

Na segunda-feira (14), a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou que a pandemia ainda está “longe de terminar no mundo”, lembrando que ela “só terminará em algum local quando terminar em todos”, numa referência ao fato de que a desigualdade na vacinação e no combate ao vírus nos países é responsável pelo prolongamento da grave crise sanitária no mundo.

Em seu último relatório, no dia 11, a Fiocruz classificou como “prematuro” o relaxamento de medidas protetivas que vem ocorrendo em alguns estados, como SP, RJ, MG, DF e outros, que flexibilizaram o uso de máscaras. Segundo os pesquisadores, “é necessário ter prudência” na adoção de qualquer medida de flexibilização, tanto pelo possível impacto do Carnaval, e o potencial aumento de casos e internação, como pela vacinação que avançou bastante, mas precisa ir além”.

Flexibilizar medidas como o distanciamento físico ou o abandono do uso de máscaras de forma irrestrita colabora para um possível aumento de casos, internações e óbitos, e não nos protege de uma nova onda, afirmaram os pesquisadores.

“As variantes anteriores e mais recentemente a Ômicron deixaram como legado para a ciência e a saúde o aprendizado de que é fundamental um esquema vacinal completo”.

Com metade dos óbitos ocorrendo em pessoas com no mínimo 78 anos, que possuem maior vulnerabilidade às formas graves e fatais da Covid-19, os pesquisadores defendem ainda a necessidade de aplicação de uma 4ª dose neste grupo, seis meses após a aplicação da dose de reforço.

Informações: Ficruz e UOL

Via cspconlutas.org.br