Condição social das mulheres na Revolução Russa foi tema de palestra promovida pela Adusb na quarta-feira (10)

Refletir sobre a condição da mulher, a estrutura familiar e sua relação com os processos políticos na Revolução de 1917 foi o objetivo da palestra promovida pela Adusb e o Fórum das Ads, na quarta-feira, 10 de maio. Realizado em Vitória da Conquista, o evento contou com participação das professoras Sofia Manzano (UESB) e Maria Orlanda Pinassi (UNESP) e faz parte da celebração do centenário da Revolução Russa.

Como balizador dos processos revolucionários, a condição social das mulheres na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) refletia a consciência histórica do movimento de 1917 expressos nas diversas edições do Código da Família. O incentivo ao casamento civil, a noção do individuo consciente do seu papel social e a legalização do aborto foram as primeiras proposições do regime proletário contidas no regimento de 1918.

Já o Código de 1926, o segundo, previa a união livre entre pessoas, reconhecimento da paternidade dos filhos, proteção à mulher solteira, combate aos efeitos da prostituição e do infanticídio e a luta, específica das mulheres mulçumanas, pela retirada do véu e o fim da poligamia. Tais aspectos se mostraram como avanços sem precedentes na história da luta feminista internacional. Os países capitalistas da época estavam muito distantes dessas conquistas, e até hoje não se repetiram na mesma dimensão que aquelas.

Sofia Manzano apresentou a distinção entre as condições das mulheres burguesas e as mulheres camponesas no final do século XIX. As mulheres do campo já possuíam maior liberdade sexual e uma organização familiar comunitária onde os afazeres e cuidados eram responsabilidades de todo o conjunto familiar e não apenas da mulher, o que acabou refletindo na nova configuração social pós Revolução. Para as mulheres burguesas, as condições eram bem diferentes. Impedidas de falar em público e sem desenvolver nenhuma atividade produtiva, as mulheres eram vistas como objetos e o casamento era um negócio.

A socialização do trabalho doméstico foi um fator decisivo na participação política das mulheres russas. Manzano apontou que a igualdade dos afazeres domésticos não é suficiente para libertação das mulheres das duplas e triplas jornadas de trabalho. É preciso ir além como fizeram as mulheres russas ao libertar a humanidade, homens e mulheres, do trabalho alienado do serviço doméstico.

Para as palestrantes os avanços alcançados nesta importante experiência revolucionária demostram que a superação das opressões de gênero é uma das bases para a transformação radical da sociedade, isto é, sem feminismo não há socialismo.

Para Maria Orlanda Pinassi é preciso pensar numa radicalização social ainda hoje contra o fundamentalismo religioso refletido na retirada de direitos e no aumento do número de casos de violência contra a mulher. Para Pinassi, as dificuldades enfrentadas na Revolução Russa também são importantes lições para os próximos processos revolucionários como a problemática resultante da socialização do cuidado dos filhos do ponto de vista afetivo, o fechamento dos lares para crianças e mulheres solteiras em momentos de crise e a fundamentação da libertação da mulher no assalariamento.