Pesquisa confirma que desigualdade tem gênero e raça no Brasil. Reformas de Temer vão piorar situação

Pesquisas e estudos por várias vezes já revelaram como o Brasil é um país desigual. Mas, de tempos em tempos, números e dados são contundentes em revelar que essa desigualdade tem endereço certo: negros e negras, mulheres pobres e trabalhadoras e a juventude nas periferias do país.

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística) divulgou na sexta-feira (15), a pesquisa SIS 2017 (Síntese de Indicadores Sociais). Com dados do IBGE e de outras fontes, a SIS analisa o mercado de trabalho, a distribuição de renda e a mobilidade ocupacional e educacional no país.

Embora o Brasil não tenha uma “linha de pobreza” oficial, a SIS fez um estudo a partir de diversas abordagens desse tema. Considerando, por exemplo, a linha proposta pelo Banco Mundial, que faz um recorte das pessoas que vivem com até 5,5 dólares por dia (R$ 387 por mês), o Brasil tem 50 milhões de pessoas nessa chamada linha da pobreza. Considerando crianças e adolescentes de até 14 anos são 42,4% nessa faixa.

Os dados revelam uma desigualdade extrema, seja entre as regiões do país, por gênero, raça e cor.

Os trabalhadores negros (definidos na pesquisa como pretos ou pardos) respondem pelo maior número de desempregados, têm menor escolaridade, ganham menos, moram mal e começam a trabalhar bem mais cedo exatamente por ter menor nível de escolaridade. As mulheres ganham, em geral, bem menos que os homens mesmo exercendo as mesmas funções.

O maior índice de pobreza se dá na Região Nordeste do país, onde 43,5% da população se enquadra nessa situação e, a menor, no Sul: 12,3%.

A pesquisa constatou que 37,9% dos domicílios do país não tinham acesso simultâneo aos três serviços de saneamento básico (coleta de lixo, água tratada e acesso à rede de esgoto).

Em relação à mobilidade educacional, a SIS constatou que apenas 4,6% dos filhos de pais sem instrução conseguiram concluir o ensino superior. Na análise da mobilidade ocupacional, o percentual de brancos com mobilidade ascendente é maior do que o de pretos ou pardos.=

A publicação completa da SIS 2017 pode ser acessada aqui.

Desemprego, informalidade e baixa escolaridade

No mercado de trabalho, o emprego com carteira atingiu, em 2016, o menor nível da série. Os empregados com vínculo formal representam 49,8% dos ocupados, ante 50,7% em 2012. Já o de empregados sem carteira aumentou para 18,5%. O de trabalhadores por conta própria cresceu para 24,7%.

Pretos e pardos eram maioria (62,6%) entre os desempregados, embora representem só 54% da população em idade ativa.

A população ocupada que contribuiu para a Previdência Social cresceu de 2012 (52,4 milhões) até 2014 (56,2 milhões), ficou estável em 2015 (56,5 milhões) e caiu no ano passado (para 55,5 milhões). Os trabalhadores eram 61,2% do total e os informais, 38,8%.

Os brancos tinham maior participação no trabalho formal: 68,6%, ante 54,6% de pretos e pardos. No trabalho sem carteira, a proporção desse segundo grupo era maior (21,8%) do que a do primeiro (14,7%). Mulheres em trabalhos formais ganhavam 76% do rendimento dos homens, ante 73% em 2012.

O SIS mostra que os jovens (de 16 a 29 anos) foram os mais atingidos pela crise. Esse grupo teve a maior queda na ocupação de 2012 para 2016. A taxa de desemprego foi a 18,9% entre os homens e a 24% para as mulheres. Mais da metade dos desempregados (54,9%) pertencia a essa faixa etária. Eles também tiveram queda (-1,5%) no rendimento.

Segundo o IBGE, os chamados “nem nem”, jovens que não trabalhavam e nem estudavam, cresceu para 25,8% em 2016. A maior incidência (38,4%) foi entre jovens com o ensino fundamental incompleto ou equivalente. E era maior entre pretos e partos (29,1%) do que entre brancos (21,2%), subindo para 37,6% no caso de mulheres pretas ou pardas.

Quase 40% (39,6%) começaram a trabalhar antes dos 15 anos.

 

Reformas do governo Temer vão agravar desigualdade

As reformas que o governo Temer vem aplicando, como a Trabalhista e a liberação da terceirização irrestrita, bem como a Reforma da Previdência (que ainda segue nos planos do governo) vão piorar essa situação. São medidas que pioram as condições de trabalho e de vida no país e que vão aumentar o empobrecimento dos trabalhadores.

Mulheres, a população negra e jovens, que como demonstra a pesquisa já sofrem com o desemprego, menores salários e discriminação, terão ainda mais dificuldades, seja para se manter no mercado de trabalho ou para se aposentar. Com os cortes nos investimentos que vêm sendo feitos pelos governos, como a Emenda Constitucional 95 (que congelou os investimentos públicos por 20 anos), o acesso às políticas públicas e as condições de vida para a população pobre também só tendem a piorar.

“Entra governo, sai governo, e esse quadro de desigualdade social no Brasil é histórico. Isso por que, são governos que atuam para favorecer os ricos e poderosos e só aplicam políticas de ataques aos trabalhadores e ao povo pobre. Por isso, que mais que lutar contra os ataques e medidas como as reformas, como a Trabalhista e da Previdência, a CSP-Conlutas defende que os trabalhadores precisam lutar contra esses governos e por uma política que esteja a serviço do povo pobre e trabalhador e que atenda nossas necessidades e reivindicações”, avalia o dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes.

Fonte: CSP - Conlutas